Venina envolve ex-diretor de Serviços da Petrobrás em escalada de preços na Refinaria Abreu e Lima
Ex-gerente-executiva de Abastecimento
afirma que aditivos de empresas do cartel eram enviados ‘sem controle’;
advogado da estatal que tentou alertar problema teria sido punido com
sindicância
Venina Velosa da Fonseca |
A ex-gerente-executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás Venina
Velosa da Fonseca afirmou nesta terça feira, 03.fev.2015, em seu
primeiro depoimento à Justiça Federal que aditivos contratuais geravam
uma “escalada de preços” nos contratos da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Ela atribuiu ao ex-diretor de Serviços da estatal
petrolífera Renato Duque responsabilidade por essa situação e declarou
que um ex-gerente jurídico tentou alertar sobre o esquema de
cartelização e foi punido internamente.
Venina era mulher de confiança do ex-diretor de Abastecimento Paulo
Roberto Costa – primeiro delator da Operação Lava Jato – e revelou em
novembro que havia alertado internamente o comando da Petrobrás, entre
eles a atual presidente da estatal, Graça Foster. A ex-gerente foi
ouvida na Justiça Federal em Curitiba na ação penal em que são acusados
executivos da empreiteira Engevix, o ex-diretor de Abastecimento e o
doleiro Alberto Youssef.
“Criamos um novo modelo de contrato”, disse a testemunha. Segundo ela,
esse ‘novo modelo’ servia para que a Diretoria de Abastecimento tivesse
mais controle sobre a execução dos contratos. Mas a meta esbarrou no
então diretor de Serviços. “Na medida em que essa estratégia de
contratação não foi aprovada e o diretor de Serviços Duque tomou para
ele a questão do cronograma e execução.”
Ela confirmou que Paulo Roberto Costa foi indicado pelo PP para ocupar a
Diretoria de Abastecimento. Venina já foi responsabilizada por quatro
irregularidades que elevaram gastos e indicam a existência de cartel nas
obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Em uma delas, ela é
citada em um contrato com uma empresa do cartel – alvo da Lava Jato –
que desconsiderou um desconto de R$ 25 milhões.
A construção da refinaria, iniciada em 2007 e ainda inconclusa, já
consumiu mais de R$ 24 bilhões. A sindicância aponta ao todo nove
irregularidades classificadas como “não conformidades”, que geraram uma
elevação de custo de R$ 4 bilhões só em aditivos. Elas foram motivadas
pela tentativa de antecipação de entrega de parte da obra, para agosto
de 2010, às vésperas das eleições presidenciais.
“No fim de 2008 e 2009, o que aconteceu foi que o modelo novo de
contrato não foi aprovado. Esse projeto ficou com a viabiliza
comprometida, ficou negativo.”
Cartel
Venina afirmou que em 2009 um ex-gerente jurídico que acompanhou as
tratativas de contratação das obras de Abreu e Lima teria sido alvo de
sindicância, após apontar problemas nos aditivos das empreiteiras alvo
do cartel.
“Em julho de 2009, esse gerente jurídico ele tomou conhecimento de
alguns documentos, me lembro de uma ata de reunião que aconteceu em
2007, onde advogados da Petrobrás e da Abemi (Associação Brasileira de
Engenharia Industrial) reuniram na Petrobrás”, contou Venina.
A Abemi é a entidade que teve como presidente o executivo da UTC Ricardo
Pessoa – suposto coordenador do cartel. Segundo Venina, “havia uma
discussão com ata registrada”.
“Era solicitado que empresas que fazem parte da Abemi que elas façam
pedido de aditivos de forma mais clara e organizada. Porque os pedidos
iam de forma confusa e era difícil de analisar.”
Segundo ela, o gerente jurídico “montou uma documentação sobre esse
assunto e encaminhou ao gerente jurídico da Petrobrás Nilton Maia. Ao
invés dele se sentir apoiado, o Milton Maia criou uma comissão de
sindicância e esse gerente foi afastado de suas funções e colocado numa
sala por um período sem função. Foi julho de 2009″. Venina afirmou que o
ex-advogado punido revelou à ela na época “que relação era muito
próxima e que várias coisas discutidas internamente eram levadas a esse
grupo (de empreiteiras) para que fosse aprovada e discutida”.
VEJA TRECHOS DO DEPOIMENTO DE VENINA VELOSA DA FONSECA À JUSTIÇA FEDERAL
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