sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Costa diz ter recebido US$ 31,5 milhões da Odebrecht no exterior por 'bom relacionamento’
Ex-diretor da Petrobras afirma que transações foram sugeridas pela própria empreiteira; empresa nega acusações

Paulo Roberto Costa 
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada que a Odebrecht, um das empresas investigadas por suspeita de participar do cartel da Petrobras, depositou em contas abertas em seu nome no exterior pelo menos US$ 31,5 milhões, entre 2008 e 2013. Segundo ele, os depósitos foram sugeridos pela própria empreiteira, a título de "política de bom relacionamento", e foram feitos por meio do operador Bernardo Schiller Freiburghaus, da Diagonal Investimentos — um dos 11 investigados na nona fase da Operação Lava-Jato, deflagrada na semana passada.
Costa contou que a operação para recebimento no exterior teria sido proposta por Rogério Araújo, diretor de engenharia da empreiteira. Segundo o ex-dirigente, a construtora pretendia beneficiá-lo sem precisar da intermediação de políticos. "Você é muito tolo, ajuda mais aos outros do que a si mesmo. E em relação aos políticos que você ajuda, na hora em que precisar, alguns deles vão te virar as costas", teria lhe aconselhado Araújo.
O ex-diretor disse que tinha reuniões bimestrais com Freiburghaus na sede da Diagonal Investimentos, no Rio, para verificar depósitos e investimentos em seu nome. Ele citou contratos da Odebrecht com a Petrobras em que acredita ter ocorrido pagamento de propina: a construção de plataformas de águas rasas na Bahia, em 2012, que ocorreu sem licitação; e o aluguel de plataformas no exterior, onde cobra-se até US$ 600 mil por diária de exploração terceirizada. Com prazo de duração prevista entre cinco e dez anos, esses contratos costumam ser prorrogados por meio de aditivos.
Tanto o ex-diretor quanto o doleiro Alberto Youssef citaram em depoimento outro contrato da construtura, de 2010, com suspeita de pagamento de propina. Trata-se da prestação de serviços na área de segurança, meio ambiente e saúde do trabalhador em todas as unidades da estatal, ao custo de US$ 800 milhões. A proposta teria sido apresentada à estatal pelo diretor da área internacional, Jorge Zelada, e aprovada pela Diretoria Executiva. Mais tarde, na condição de presidente da empresa, Graça Foster teria mandado rever o contrato e reduzir o valor para US$ 400 milhões.
Por meio de nota, a Odebrecht negou ter feito depósito em conta de “qualquer político, executivo ou ex-executivo da estatal” e disse que todos os contratos com a Petrobras seguiram a lei de licitações públicas. A empresa classificou as alegações de Costa e Youssef como “caluniosas” e alegou que a redução do valor do contrato de US$ 800 milhões para US$ 400 milhões teria ocorrido em consequência da diminuição do escopo do contrato.
Em outro depoimento, também tornado público, Youssef disse que os sócios majoritários da construtora Camargo Corrêa, os empresários Carlos Pires e Luiz Nascimento, genros do falecido fundador da empresa, Sebastião Camargo, seriam informados sobre o pagamento de propina para obtenção de contratos na Petrobras. Youssef relatou que 1% do contrato da Refinaria Abreu e Lima, vencido por consórcio liderado pela Camargo, teria sido pago a agentes políticos e operadores, entre eles o próprio Youssef.
“Os acionistas majoritários da Camargo teriam concordado com esta comissão, o que foi dito ao declarante (Youssef) por Eduardo Leite, Dalton (Avancini) e João Auler, os quais mencionavam precisar de autorização dos acionistas para a realização dos repasses", disse Youssef à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, mencionando os executivos da Camargo Corrêa que foram presos durante a Operação Lava-Jato.
Youssef disse, também, que era comum repasses atrasarem por falta de anuência dos acionistas da empresa. O doleiro ainda detalhou a forma como intermediou o pagamento de propina nos contratos da Abreu e Lima. Segundo ele, ora os pagamentos eram realizados por meio de fornecedores regulares do consórcio liderado pela Camargo Corrêa, ora eram realizados por meio de pagamento de notas fiscais fictícias de prestação de serviços, emitidas por empresas ligadas ao doleiro ou outros operadores do esquema de corrupção.
Por meio de nota, a Camargo Corrêa informou que "repudia as acusações sem comprovação" e disse ter prestado informações solicitadas pelas autoridades para "demonstrar que estas acusações são improcedentes”.


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