segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


Governo federal anunciou em jornais 'fantasmas'

Um relatório feito pela Presidência em 2013 confirma indícios de que o governo federal pagou anúncios em jornais inexistentes no ABC paulista.
O relatório de auditoria da Secretaria de Controle Interno da Presidência, feito a partir do trabalho da Controladoria-Geral da União, diz que periódicos 'forjados' receberam R$ 364,6 mil da Presidência.
Segundo a auditoria, entre 2008 e 2012, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência pagou R$ 364,6 mil a cinco jornais do Grupo Laujar de Comunicação S/A, de São Bernardo do Campo.
Os auditores concluíram que os jornais "resumem-se a quatro páginas cada um", com notícias repetidas, cujas "informações e imagens" são "cópias de reportagens de sites de notícias sem atribuição [de] créditos", aspectos que seriam "indícios de fraude".
Os jornais traziam três anúncios: um da Unimed com números de telefone genéricos; outro sem identificação; e o terceiro, do governo.
No endereço da sede do grupo, os fiscais encontraram um "sobrado residencial". Os vizinhos do suposto parque gráfico desconheciam a existência de atividades no local.
Os auditores também visitaram 35 bancas de jornal e contataram outras 21. A única que conhecia um dos títulos investigados, o "Jornal do ABC Paulista", do qual havia recebido dois exemplares para venda naquele dia, fora indicada pelo dono da Laujar.
O relatório conclui que "os periódicos entregues como prova à Secom foram forjados". A declaração em cartório sobre a tiragem dos jornais, diz o texto, "é falsa".
Em 2012, uma reportagem mostrou que a Secom gastara, desde 2011, R$ 135,6 mil para anunciar nesses jornais. Em 2014, revelou que, entre 2004 e 2012, estatais federais pagaram R$ 1,3 milhão à empresa.
A reportagem, que descrevia os jornais com as mesmas características apontadas no relatório, mostrava que eles não eram vendidos nem tinham registros conhecidos.
O relatório recomenda que a Secom apure o que aconteceu e tome medidas administrativas. A secretaria afirma que o processo está aberto e espera resultado de uma investigação também em curso feita pela Polícia Federal.


Outro lado
Empresa diz que relatório mente e não é 'técnico'
Ouvido pela reportagem, um representante da Laujar disse que o relatório da Presidência mente e foi feito por pessoas não "técnicas".
"Esse relatório está completamente furado. Ele acompanhou as mentiras escritas naquela matéria caluniosa [reportagem de 2012]. Empresa fantasma tem endereço? Empresa fantasma não paga imposto à prefeitura. Não somos fantasmas. Temos tudo. Foram lá e montaram [o relatório]", afirmou o homem, que disse se chamar João Carlos (ele se negou a dar sobrenome) e trabalhar há mais de 20 anos para o dono da Laujar, Wilson Nascimento.
"É mentira [que a empresa funcione num imóvel residencial]". Questionado sobre os anúncios, disse: "São verdadeiros. Isso é da cabeça deles". Segundo ele, os jornais são reais, impressos em rotativas. Para ele, a reportagem tem interesse em investigar a Laujar pois o jornal seria concorrente da empresa no ABC.
Procurada, a Secom reafirmou que, além de investigar o caso, suspendera a publicidade em jornais antes da primeira reportagem sobre a publicidade.


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