Aviação Civil
Preferência por concessão do aeroporto Salgado Filho e construção de novo aeroporto
Consórcio que ganhar gestão do Salgado Filho terá de construir Aeroporto 20 de Setembro como outorga
O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, e o governador José Ivo Sartori |
Falta apenas a oficialização, mas o governo federal está decidido a
conceder a exploração do aeroporto Salgado Filho à iniciativa privada em
troca da construção de um novo terminal de cargas e passageiros, entre
Nova Santa Rita e Portão, batizado Aeroporto 20 de Setembro.
O tema foi discutido em reunião na tarde de sexta-feira (09.jan.2015),
no Palácio Piratini, entre o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, e
o governador José Ivo Sartori, que foi acompanhado por secretários de
Estado, deputados federais e estaduais.
Padilha disse que a decisão será da presidente Dilma Rousseff, mas,
falando pelo governo federal, deixou clara a preferência pela construção
do Aeroporto 20 de Setembro, com quatro pistas de quatro quilômetros,
com capacidade para receber aviões de cargas e de passageiros de grande
porte, o que não é possível hoje no Salgado Filho.
Atualmente, conforme dados da Agenda 2020, o Rio Grande do Sul deixa de
gerar por ano R$ 3,3 bilhões em negócios ligados ao transporte de cargas
porque a pista e o terminal do Salgado Filho não contam com a
capacidade adequada para grandes operações. São oportunidades comerciais
que acabam migrando, em maioria, para os aeroportos de São Paulo.
Há uma série de motivos que levam o Planalto a apostar no modelo
apresentado por Padilha. O primeiro deles é o entendimento de que a
concessão de aeroportos — foram cinco até o momento em todo o país —
está redundando em serviços melhores. Depois, aponta Padilha, o
Aeroporto 20 de Setembro não terá custo aos cofres públicos, justamente
em momento de crise financeira. O consórcio que ganhar a concessão da
administração do Salgado Filho terá de pagar a obra do aeroporto novo
como outorga. Outra justificativa é que apostar na ampliação da pista e
do terminal de cargas do Salgado Filho custaria cerca de R$ 1,1 bilhão,
dinheiro que o governo não dispõe no momento. E, além disso, mesmo com
os investimentos, a vida útil do Salgado Filho se estenderia por mais 10
ou 12 anos, tempo considerado curto para o volume dos aportes.
— A alternativa é construir o 20 de Setembro, entre Nova Santa Rita e
Portão. Ele terá quatro pistas de quatro mil metros. Será ideal para o
transporte de cargas. No Salgado Filho, ainda teríamos de reassentar 1,6
mil famílias das vilas Floresta, Dique e Nazaré. Temos de optar entre
pagar R$ 1,1 bilhão ou não pagar nada e fazer a concessão do Salgado
Filho, tendo como preço de outorga a construção do 20 de Setembro —
afirmou Padilha.
O ministro assegurou que, após a conclusão da obra do 20 de Setembro, o
Salgado Filho não será desativado. Segundo ele, a obrigatoriedade de os
dois operarem simultaneamente será prevista em contrato. O mesmo
consórcio irá administrar as duas estruturas. A avaliação de Padilha é
de que os voos internacionais e de cargas devem ficar no aeroporto novo,
restando as aeronaves de transporte doméstico para o Salgado Filho.
Independentemente do futuro, a atual obra de ampliação do terminal de
passageiros do Salgado Filho, prevista inicialmente para a Copa, segue
normalmente, sem ser incluída nos futuros negócios, sendo tocada com
recursos federais. Caso o modelo defendido por Padilha prospere, todas
as fichas de modernização da aviação civil no Estado serão apostadas no
20 de Setembro. As cogitadas opções de ampliar o terminal de cargas e a
pista do Salgado Filho _ centenas de famílias chegaram a ser removidas
da Vila Dique para essa finalidade _ serão abortadas definitivamente.
Neste caso, o aeroporto da Capital seguirá operando com a atual
capacidade.
A Agenda 2020, entidade empresarial que traça desafios para o
desenvolvimento econômico do Estado, defende que, paralelamente à
construção do 20 de Setembro, seja feita imediatamente a ampliação da
pista e do terminal de cargas do Salgado Filho, obras que aumentariam o
ambiente de negócios e poderiam ser concluídas em poucos anos. O
argumento é de que é preciso buscar soluções rápidas, considerando que
uma intervenção do porte do Aeroporto 20 de Setembro deverá consumir
pelo menos dez anos até a conclusão.
A concessão dos dois aeroportos à iniciativa privada deverá se estender
por 20 ou 30 anos. Disposto e com tom didático, o ministro também falou
em prazos: disse que a presidente Dilma quer "rapidez" e que a decisão
por adotar o modelo sugerido por ele deve ser tomado até o final do
primeiro semestre. Depois, estimou em um ano o prazo para a realização
do pregão em que deverá ser eleito um consórcio privado para as
operações.
Ele não falou no custo do 20 de Setembro. Disse que o governo
apresentará o projeto e os critérios de construção e qualidade. O
orçamento será tema exclusivo dos concessionários.
Sartori foi mais econômico nas palavras, mas manifestou apoio à adoção
das Parceria Público-Privadas. O governador informou ainda a criação de
um grupo para tomar uma decisão conjunta com o governo federal sobre o
futuro da aviação civil.
Mesmo com o momento delicado das finanças, com o governo federal
determinando cortes de custos em diversos setores, Padilha afirmou que
serão realizadas 15 obras de ampliação e modernização em aeroportos
regionais. Nestes casos, as gestões são do poder público e os
investimentos serão feitos com recursos do Fundo Nacional de Aviação
Civil (FNAC), que conta no momento com R$ 3,8 bilhões, com previsão de
ingresso de mais R$ 4,4 bilhões em 2015. Esse fundo é abastecido pelos
pagamentos de outorgas anuais dos aeroportos já concedidos à iniciativa
privada em outras cidades do país e também por uma taxa cobrada na
emissão de todas as passagens aéreas.
Como exemplo das intervenções nesses aeroportos, Padilha citou a
ampliação do terminal de passageiros e da pista e construção de novo
pátio, melhorias previstas para Alegrete.
Em valores de 2012, as 15 obras nos aeroportos regionais gaúchos estão orçadas em R$ 310,8 milhões.
Falando em "vacinar o pessimismo", Padilha procurou assegurar a existência de recursos.
— Os recursos estão no FNAC e só podem ser utilizados na aviação civil.
Não podem ir para a saúde, educação ou qualquer outra área — afirmou o
ministro, admitindo, na pior das hipóteses, alguns contingenciamentos
temporários dos recursos.
Na lista dos 15 terminais regionais, consta a construção do Aeroporto de
Vila Oliva, em Caxias do Sul, que deverá ser licitado no final de 2016.
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