Auditoria aponta prejuízo de R$ 1 bilhão à Petrobras
Obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí |
Auditoria interna da Petrobras sobre o Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj) aponta que a estatal comprou equipamentos antes de
definir o modelo de negócio e a estrutura de produção da refinaria, o
que gerou um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão gasto para evitar a
deterioração de aparelhos e unidades sem uso.
Parte do maquinário adquirido inclusive não será mais utilizada, e agora
a Petrobras estuda se será possível aproveitar os equipamentos em
outras unidades.
Na investigação, funcionários da Petrobras apontaram "pressões"
das diretorias de Serviços e Abastecimento da estatal, então chefiadas
respectivamente por Renato Duque e Paulo Roberto Costa, investigados na
operação Lava Jato, para acelerar as aquisições e obras do Comperj.
A apuração também apontou irregularidade na maior contratação citada no
relatório, no valor de R$ 3,8 bilhões, feita pela Petrobras sem
concorrência pública com o consórcio TUC, formado pelas empresas
Odebrecht, UTC e Toyo.
Essas empreiteiras também são alvo da Lava Jato pela suposta formação de
cartel e foram incluídas pela Petrobras em lista de empresas
temporariamente impedidas de contratar com a estatal.
A comissão da Petrobras concluiu o relatório em novembro e enviou o trabalho para a força-tarefa da Lava Jato no mês seguinte.
A auditoria apontou que as compras de equipamentos e obras de unidades
começaram em abril de 2010, "enquanto ainda era discutido o modelo de
negócios para as utilidades e para a unidade de geração de hidrogênio,
essenciais para a entrada em operação da refinaria".
A estatal prevê que o Comperj comece a produzir em agosto de 2016. Para
preservar os equipamentos adquiridos e ainda sem uso, a estatal gastou
mais de R$ 1 bilhão.
A comissão relatou que na apuração "logo atraíram a atenção os relatos
de pressões por prazo à área de Engenharia" pelas diretorias chefiadas
por Duque e Costa.
Tal fato levou ao descompasso entre as contratações e as reais
necessidades de cada fase de implantação da refinaria, segundo a
apuração.
A contratação sem concorrência pública do consórcio TUC, formado por
empreiteiras investigadas na Lava Jato, foi para a implantação das
unidades de geração de vapor e energia, tratamento de água e efluentes
do Comperj.
A investigação apontou irregularidade no fato de a contratação direta
ter sido feita sob a justificativa de urgência, em 2011, em um momento
em que havia grande indefinição sobre os prazos de conclusão da
refinaria.
EVIDÊNCIAS
O relatório aponta "evidências no sentido de que os gestores não
possuíam, na época da contratação, a segurança necessária no cronograma
do Comperj que justificasse a contratação direta".
Duque, Costa e outros quatro diretores foram responsabilizados pelas irregularidades nas contratações.
Segundo a auditoria, "as falhas de gestão, problemas de planejamento e
de coordenação na execução do projeto podem ter contribuído para
facilitar a ocorrência de eventuais ações criminosas" sob apuração na
Lava Jato.
OUTRO LADO
Os ex-diretores da Petrobras Renato Duque e Paulo Roberto Costa
afirmaram que contratações apontadas como irregulares em auditoria sobre
o Comperj foram aprovadas em escalões superiores da estatal.
A Petrobras não se manifestou sobre as conclusões de sua apuração interna.
Por meio de nota, Duque afirmou que os contratos do Comperj foram
aprovados de forma colegiada pela diretoria executiva da Petrobras, após
receberem parecer favorável do departamento jurídico da companhia.
O advogado de Costa, João Mestieri, disse que o relatório mostra que "a
auditoria foi feita de um modo que ignora o processo de aprovação de
contratos na Petrobras".
Segundo Mestieri, todas as contratações são decididas pelo conselho de
administração da estatal, e os diretores atuam apenas como consultores
para as deliberações.
Em nota, a construtora Odebrecht afirmou que desconhece o teor da
auditoria da Petrobras e que "todos os contratos de prestação de
serviços conquistados pela Odebrecht foram pautados nas normas e leis
vigentes".
"A Odebrecht reitera que não participou ou participa de qualquer cartel e
está, como sempre esteve, à disposição das autoridades para quaisquer
esclarecimentos", de acordo com a nota.
A UTC afirmou em nota que "não pode se manifestar sobre documentos dos quais não tomou conhecimento oficial e integralmente".
Procuradas pela reportagem, a Petrobras e a Toyo não se manifestaram.
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