sábado, 9 de agosto de 2014


Submetido a um crime, o Planalto desconversa

Josias  de  Souza
Há algo de podre na rede de internet da Presidência da República. Máquinas plugadas ao sistema vêm sendo usadas para alterar perfis mantidos na Wikipedia. Quando a biografia é de membro ou aliado do governo, suprimem-se verdades incômodas. Quando o texto se refere a personagens que o governo vê como inimigos, injetam-se inverdades.
Nesta sexta, soube-se que a rede do Planalto foi usada para enfiar falsidades dentro dos perfis de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. Já se sabia que há no governo pessoas que acreditam na tese segundo a qual o Brasil, para dar certo, precisa trocar de imprensa. Essa que está aí, viciada em imprensar, é de péssima qualidade. Descobre-se agora que alguém na sede do governo evoluiu da debilidade cerebral para a criminalidade. Virou caluniador.
Em reação às calúnias, o Planalto divulgou uma nota. No texto, informou que lamenta muito o ocorrido. Mas anotou que é “tecnicamente impossível identificar os responsáveis pelas modificações nos perfis dos jornalistas'' Alega-se que a rede é wi-fi, sem fio. Por isso, “qualquer pessoa, mesmo que estivesse em visita ao Palácio do Planalto, poderia, em tese, ter realizado as alterações''.
Investigação? Nem pensar! Faz sentido. Todo mundo sabe de antemão quem cometeu o crime. É mais ou menos como num jogo de futebol. O sujeito pode ser um Neymar, mas não marca o gol sozinho. Há por trás dele uma estrutura que prepara o chute. O roupeiro, o massagista, o treinador e todo um time em campo para preparar a jogada. No lance da Wikipedia, mal comparando, é a mesma coisa.
O PT defende a regulação da mídia. As autoridades, como comandantes de navio que se queixam do mar, atacam a imprensa. Armada a jogada, o criminoso apenas pluga o computador à rede e comete o crime. Que a Presidência não tem o mais remoto interesse de investigar. Não há inocentes nessa história, só há cúmplices.

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