sábado, 29 de setembro de 2018



O outro lado de Bolsonaro, segundo sua ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle


Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro,
acusou o presidenciável de furtar um cofre de banco,
ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir
com “desmedida agressividade”




ACUSADORA — Ana Cristina, que hoje faz campanha para Bolsonaro:
agora, ela diz que falou em excesso


Em 2007, o deputado Jair Bolsonaro, então com 52 anos, estava terminando seu segundo casamento, com Ana Cristina Siqueira Valle. Depois de mais de dez anos juntos e um filho, o casal resolveu se separar, mas o caso acabou na Justiça. Eles disputavam a guarda do filho, hoje com 20 anos, e Ana Cristina alegava que seu ex-marido resistia a fazer uma partilha justa dos bens. Por isso, em abril de 2008, ela deu entrada com uma ação na 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O processo, com mais de 500 páginas, contém uma série de incriminações mútuas que fazem parte do universo privado do ex-casal. Há, no entanto, acusações de Ana Cristina ao ex-marido que entram na esfera do interesse público porque contradizem a imagem que Bolsonaro construiu sobre si mesmo na campanha presidencial. São elas:

• Bolsonaro ocultou patrimônio pessoal da Justiça Eleitoral em 2006. Quando foi candidato a deputado federal, declarou que tinha um terreno, uma sala comercial, três carros e duas aplicações financeiras, que somavam, na época, 433.934 reais. Sua ex-mulher, no mesmo processo, anexou uma relação de bens e a declaração do imposto de renda do ex-marido, mostrando que seu patrimônio incluía também três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. Os bens do casal, em valores de hoje, somariam cerca de 7,8 milhões de reais.

• Bolsonaro tinha uma “próspera condição financeira” quando era casado com Ana Cristina, segundo ela própria. A renda mensal do deputado chegava a 100.000 reais — cerca de 183.000 reais, em valores atualizados. Na época, oficialmente, Bolsonaro recebia 26.700 reais como deputado e 8.600 reais como militar da reserva. Para chegar aos 100.000 reais, diz a ex-mulher, Bolsonaro recebia “outros proventos”, que ela não identifica.

• Bolsonaro, de acordo com Ana Cristina, furtou seu cofre numa agência do Banco do Brasil, em outubro de 2007, e levou todo o conteúdo: joias avaliadas em 600.000 reais, 30.000 dólares em espécie e mais 200.000 reais em dinheiro vivo — totalizando, em valores de hoje, cerca de 1,6 milhão de reais. O cofre ficava na agência do Banco do Brasil da Rua Senador Dantas, no centro do Rio de Janeiro. Seu conteúdo é incompatível com as rendas conhecidas do então casal.

• Bolsonaro era um marido de “comportamento explosivo” e de “desmedida agressividade”. Essa foi a razão que levou Ana Cristina a separar-se, segundo ela mesma informa.



SILÊNCIO — Ainda internado depois do atentado,
Bolsonaro não quis se manifestar sobre as acusações da ex-mulher


Bolsonaro e Ana Cristina se separaram oficialmente em 2008, depois de dez anos juntos. Com o passar do tempo, os dois voltaram a se entender e selaram um armistício que dura até hoje, tanto que Ana Cristina, candidata a deputada federal pelo Podemos do Rio de Janeiro, até usa o sobrenome do presidenciável e se apresenta aos eleitores como “Cristina Bolsonaro” — sobrenome que jamais teve.
Agora, ela diz que as acusações que fez contra o ex-marido são fruto de excessos retóricos. Não é incomum que, em separações litigiosas, marido e mulher troquem acusações infundadas, destinadas a magoar ou tentar extrair alguma vantagem. Mas uma consulta ao processo e suas adjacências mostra que Ana Cristina não estava mentindo. O furto do cofre, por exemplo, realmente ocorreu. Em 26 de outubro de 2007, ela esteve na agência do Banco do Brasil e, misteriosamente, sua chave não abriu o cofre. Chamado ao local, um chaveiro destravou o equipamento, e Ana Cristina constatou que estava vazio. “Isso só pode ter sido coisa do meu ex-marido”, disse ela aos funcionários do banco. Um deles tentou acalmá-la, sem sucesso. “Ele pode tudo, e vocês têm medo dele”, respondeu ela. No mesmo dia, Ana Cristina registrou um boletim de ocorrência sobre o furto na 5ª Delegacia da Polícia Civil.



O FURTO DO COFRE — Em 26 de outubro de 2007, Ana Cristina registrou um boletim de ocorrência que relatava o furto de 600.000 reais 
em joias, 30.000 dólares em espécie e 200.000 reais em dinheiro vivo, guardados em um cofre que ficava numa agência do Banco do Brasil.
Na época, ela acusou Bolsonaro pelo crime.


A reportagem teve acesso ao inquérito policial. Em depoimento, Alberto Carraz, um dos gerentes do Banco do Brasil, confirmou que tanto Ana Cristina quanto Bolsonaro mantinham cofres na agência. No caso do deputado, não se sabe o que ele guardava — e ele também nunca declarou a propriedade do cofre. Já a ex-mu­lher disse que guardava joias avaliadas em 600.000 reais, mais 30.000 dólares em espécie e 200.000 reais em dinheiro vivo. Localizado pela reportagem, Alberto Carraz conta que, de fato, o conteúdo do cofre sumiu e dá uma pista do que pode ter sido o desfecho da história: “Quando Bolsonaro soube que a ex-mu­lher tinha feito um registro de ocorrência na delegacia, ele me disse que iria resolver a questão. Depois, eu soube por ele que estava tudo resolvido e que ela tinha retirado a queixa”. Na verdade, não foi bem assim.
A discussão sobre o furto do cofre continuou, segundo mostra o processo. A defesa de Bolsonaro, na etapa em que o ex-casal discutia a guarda do filho, juntou um depoimento em que o deputado acusava a mulher de chantageá-lo. Dizia que ela tinha levado o filho para o exterior e condicionava o retorno da criança à devolução do dinheiro e das joias subtraídos do cofre. Bolsonaro acusou a mulher de sequestro. Ela acusou-o de furto. Na época, além de procurar a Polícia Federal, Bolsonaro pediu ajuda ao Itamaraty para localizar o filho no exterior. Ana Cristina e a criança estavam em Oslo, na Noruega. Na semana passada, uma reportagem divulgou telegramas do Itamaraty nos quais Ana Cristina, em conversa com um vice-cônsul brasileiro em Oslo, dizia que fora para a Noruega depois de ser ameaçada de morte pelo ex-mari­do. Ela negou que tenha dito isso ao vice-cônsul, mas a reportagem ouviu cinco amigas brasileiras de Ana Cristina em Oslo e todas a desmentiram e confirmaram que a ameaça de morte fora o motivo de sua viagem para a Europa. O fato é que, quando o depoimento de Bolsonaro acusando Ana Cristina de sequestro foi anexado ao processo, o ex-casal chegou imediatamente a um acordo. O filho voltou do exterior, a disputa pelos bens foi resolvida nos termos reivindicados por Ana Cristina e o valor da pensão foi acertado. Sobre o furto do cofre, porém, nenhuma palavra.



O EX-GERENTE — Carraz confirmou que o casal mantinha dois cofres no banco


Alberto Carraz se diz amigo de Bolsonaro até hoje. Há dois anos, ele foi acusado de furtar 2 milhões de reais de vários cofres da agência do Banco do Brasil. Poderia ter sido ele então o ladrão do cofre de Ana Cristina? Na relação oficial das supostas vítimas de Carraz não aparece o nome nem de Ana Cristina nem de Bolsonaro. E a investigação policial sobre o assunto não deu em nada. Ana Cristina foi chamada a depor duas vezes, não compareceu e, no ano passado, depois de dez anos, a polícia encerrou o caso sem esclarecê-lo. Bolsonaro e Ana Cristina não tinham renda para possuir bens e valores da ordem de 1,6 milhão de reais guardados num cofre de banco. Localizada pela reportagem, Ana Cristina não quis entrar em detalhes. Deu-se o seguinte diálogo:

De onde vieram as joias, dólares e reais?
Era coisa minha, que juntei. Coisas do meu ex-marido, joias que ganhei do Jair.

Por que a senhora não atendeu às convocações para depor na polícia?
Não lembro. Fiquei quieta.

Por quê?
Não me sentia à vontade. Iria dar um escândalo para ele e para mim. Deixei para lá.

Escândalo para o deputado?
Eu, brava, falo besteira.

Por isso a senhora desistiu da investigação?
Nós dois tínhamos um acordo de abrir mão de qualquer apuração porque não seria bom.

Qual o acordo?
Aí eu prefiro ficar … me omitir.

Ao entrar na Justiça para formalizar a separação, Ana Cristina queria a divisão que considerava justa do patrimônio que o casal adquiriu ao longo do casamento. À Justiça, ela disse que o ex-marido “proporcionava a sua família um elevado padrão, financiando frequentes viagens ao exterior” e que Bolsonaro tinha “remuneração de militar da reserva, de deputado federal e outros proventos que ultrapassam a mais de 100.000 reais mensalmente”. Na época, a renda oficial de Bolsonaro era de 35.300 reais. Recebia 26.700 reais como deputado e 8.600 reais como militar aposentado. Para chegar aos “mais de 100.000 reais”, a renda do deputado teria de ser multiplicada por três. Ana Cristina não informou quais seriam os “outros rendimentos” de Bolsonaro, mas anexou ao processo uma relação de bens e a declaração de imposto de renda do ex-marido referente ao ano de 2006. Os peritos da Justiça avaliaram esse patrimônio todo em 4 milhões de reais — cerca de 7,8 milhões de reais em valores atualizados.



PATRIMÔNIO OCULTO — Em 2006, Bolsonaro apresentou à Justiça Eleitoral a relação de seus bens, que totalizavam, segundo ele,
433.934 reais — ou 850.000 em valores atualizados. No processo de separação, descobre-se que o patrimônio real do casal à época
era de 4 milhões de reais — ou 7,8 milhões em valores atualizados



No mesmo ano de 2006, Bolsonaro entregou à Justiça Eleitoral uma relação de bens que somava somente 433.934 reais — coisa de 10% apenas do que a perícia judicial avaliara. Ele omitiu a propriedade de três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. A lei exige que cada candidato divulgue seus bens para que o eleitor possa acompanhar a evolução do seu patrimônio e avaliar, por exemplo, se amealhou bens em valores desproporcionais aos proventos recebidos durante o mandato. “É um mecanismo de fiscalização dos eleitores e da imprensa sobre os políticos”, diz Henrique Neves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Quando um candidato divulga uma lista subfaturada, está enganando o eleitor. O advogado Daniane Furtado, especialista em direito eleitoral, diz que a omissão de bens na declaração entregue à Justiça Eleitoral pode ser enquadrada nos crimes de falsidade ideológica e sonegação. “O que o político informou à Justiça Eleitoral tem de ser compatível com o que está no imposto de renda”, diz.

Numa das petições, a ex-mulher de Bolsonaro diz que o casal sempre teve uma “afortunada” condição de vida, que podia ser confirmada “pelos sinais exteriores de riqueza”. Para comprovar o relato, juntou ao processo documentos, holerites, fotos de viagens — e a acusação dos tais “mais de 100.000 reais” não declarados, hoje equivalentes a 183.000 reais. Nas declarações de imposto de renda de Bolsonaro anexadas ao processo — tanto a referente a 2006 quanto a de 2007 — não há registro de nenhuma renda além dos proventos de deputado e militar da reserva.



RENDA NÃO DECLARADA — Ana Cristina anexou ao processo os holerites de Bolsonaro e relatou que o casal tinha uma renda
de “mais de 100.000 reais” — em valores de hoje equivalentes a 183.000 reais. Na época, os proventos como deputado e militar da reserva,
suas únicas fontes de renda conhecidas, totalizavam 35.300 reais mensais


A vida patrimonial de Bolsonaro, a julgar pelos documentos entregues à Receita Federal e à Justiça Eleitoral, é uma gangorra. Em 2001, ele declarou à Receita um patrimônio de 419.000 reais. Em 2006, o patrimônio informado ao Fisco subiu para 1,6 milhão de reais — embora, nos cinco anos transcorridos entre uma declaração e a outra, a soma de seus proventos como parlamentar e militar aposentado não tenha chegado a 1 milhão de reais líquidos. Neste ano eleitoral de 2018, Bolsonaro disse à Justiça Eleitoral que seu patrimônio soma 2,2 milhões de reais, incluindo cinco imóveis. Um deles, comprado em 2009, fica num condomínio residencial localizado em frente à praia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Corretores da região consultados informam que as casas mais baratas no condomínio de Bolsonaro não custam menos de 2 milhões de reais. Uma reportagem, publicada em janeiro passado, revelou que Bolsonaro comprou sua casa no condomínio por 400.000 reais — é um valor inferior aos 580.000 reais que o próprio vendedor pagou ao adquiri-la quatro meses antes.



“ELEVADO PADRÃO” — A casa do deputado num condomínio de luxo no Rio de Janeiro


Hoje, Ana Cristina nega as acusações. “Quando você está magoado, fala coisas que não deveria”, disse. Sobre os “outros rendimentos” e a vida “afortunada” do candidato, ela diz que nem se lembra: “Eu falei isso?”. No processo, Ana Cristina explicou que a separação do casal aconteceu porque o comportamento de Bolsonaro era “explosivo”, o que tornou a convivência “insuportável”, em virtude da “desmedida agressividade” do parlamentar. Mas, agora, tudo mudou. Diz ela: “Bolsonaro é digno, carinhoso, honesto e provedor. Apesar de ‘machão’, ama os filhos incondicionalmente e trata suas mulheres como princesas”. Consultado, Bolsonaro não quis dar entrevista.




quarta-feira, 26 de setembro de 2018



Segundo Itamaraty, ex-mulher afirmou ter sofrido
ameaça de morte de Bolsonaro


Segundo documento de 2011, Ana Cristina afirmou que viajou à Noruega por medo de Bolsonaro; relato não é real, diz ela hoje


Ex-mulher do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle afirmou ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil (também conhecido como Itamaraty) em 2011 que foi ameaçada de morte por ele, o que a levou a deixar o Brasil. O relato consta de um telegrama reservado arquivado no órgão, ao qual a reportagem teve acesso. Na época Bolsonaro e Ana Cristina travavam uma disputa judicial no Rio de Janeiro sobre a guarda do filho do casal, então com cerca de 12 anos.



A ex-mulher do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle,
durante ato pró-Bolsonaro nas ruas de Resende, interior do estado do Rio de Janeiro — 17.set.2018


​“A senhora Ana Cristina Siqueira Valle disse ter deixado o Brasil há dois anos [em 2009] ‘por ter sido ameaçada de morte’ pelo pai do menor [Bolsonaro]. Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega]”, diz o telegrama.
Em outro trecho do documento, Ana Cristina disse considerar que, ao procurá-la, o vice-consulado do Brasil na Noruega “estava agindo em nome do deputado federal Jair Bolsonaro”.
O mesmo telegrama havia sido liberado a reportagem pela Lei de Acesso à Informação, porém com esses e outros trechos cobertos por tarja preta. Duas fontes ouvidas pela reportagem e o então embaixador, Carlos Henrique Cardim, que assina os textos, confirmaram a íntegra dos documentos.
Atualmente Ana Cristina, ex-servidora da Câmara Municipal de Resende (RJ), usa o sobrenome “Bolsonaro” e é candidata a deputada federal pelo Podemos. Ela disse apoiar a candidatura do ex-marido ao Planalto e considerou “superado” o episódio na Noruega, apesar de ter admitido ter sido pressionada por ele à época.
Bolsonaro mobilizou o Itamaraty, em 2011, como deputado federal, para que o órgão intercedesse em seu favor depois que Ana Cristina viajou para a Noruega com o filho do casal.
Segundo o site do Itamaraty e resposta enviada à reportagem, o órgão não pode interferir em assuntos pessoais de brasileiros no exterior. No entanto, em 2011 localizou e manteve contato com Ana Cristina a pedido de Bolsonaro.


Telegrama com acusação contra Bolsonaro - Reprodução


A afirmação dela sobre a suposta ameaça de morte consta da íntegra de um telegrama de julho de 2011 enviado a Brasília pela Embaixada Brasileira em Oslo e escrito por Cardim a partir de informações prestadas pelo vice-cônsul naquele país.
Procurado pela reportagem, o diplomata, professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), disse se recordar do conteúdo do documento. Ele contou que, em julho de 2011, foi acionado por escrito pelo Itamaraty, em Brasília, e também procurado por Bolsonaro, com quem conversou por telefone. Segundo Cardim, Bolsonaro estava contrariado com o fato de sua ex-mulher ter viajado, sem a sua autorização, com o filho para a Noruega.
Depois da conversa com o deputado, o então embaixador recebeu as informações do vice-cônsul do Brasil em Oslo, que havia entrado em contato telefônico com Ana Cristina. Segundo Cardim, o procedimento “segue uma rotina das embaixadas do Brasil”.
“Foi explicada a ela a legislação do Brasil, da Noruega. E aí ela mencionou para o vice-cônsul que estava pensando em pedir asilo. E que teria dito ao vice-cônsul que sofreu uma ameaça de morte do deputado Bolsonaro. E o vice-cônsul me transmitiu isso”, descreveu o ex-embaixador.
Cardim disse ainda que, com o telegrama, fez apenas “um relato” da situação. “Não estou aqui [no telegrama] julgando se houve ou não essa ameaça. Só estou registrando o fato que ela falou para o vice-cônsul. E ponto. Lá [embaixada] não é delegacia de polícia. Se ela quiser apresentar uma queixa, ela vai a uma delegacia de polícia no Brasil, apresenta, é outro processo, compreende?”, explicou o diplomata.
A conversa de Ana Cristina com o funcionário do Itamaraty, um oficial de chancelaria que exercia a função de vice-cônsul, ocorreu porque Bolsonaro havia procurado, dias antes, a sede do Itamaraty em Brasília para pedir uma intervenção do órgão a respeito do paradeiro de seu filho.
O vice-cônsul na época era Matheus Henrique Zóqui, que, procurado, não se manifestou sobre o assunto.
Por lei, segundo o embaixador, uma criança só podia sair do país acompanhada de apenas um dos pais desde que houvesse junto uma autorização do pai ou da mãe que não estivesse na viagem.
A íntegra de outro telegrama mostra que Bolsonaro relatou ao Itamaraty que Ana Cristina havia obtido um passaporte para seu filho “com base em certidão de nascimento expedida antes do reconhecimento de paternidade feito pelo deputado Bolsonaro”. Dessa forma, no documento constaria apenas o nome da criança como Renan Valle, sem o sobrenome do deputado, e, no campo da filiação, não aparecia o nome do pai.  O telegrama não esclarece quando Bolsonaro reconheceu a paternidade do menino.
Na reunião em Brasília, Bolsonaro disse, segundo o telegrama, que seu filho morava há dois anos em sua residência do Rio de Janeiro, “onde frequenta escola e tem sua vida estruturada”. O deputado disse ainda que o gesto da ex-mulher “constituiria falsidade ideológica com intuito de sequestro” e, por isso, pediu a “gestão do Itamaraty para averiguar as condições em que estaria o menor”.

O OUTRO LADO — Procurado por meio de sua assessoria, Bolsonaro não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem. Ele está internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, se recuperando de um atentado a faca sofrido em Juiz de Fora (MG) no último dia 06.set.2018.
Em entrevista na sexta-feira (21.set.2018), Ana Cristina disse que o deputado estava equivocado porque ela não tinha a intenção de fugir com a criança, e sim passar um período de férias na Noruega porque o menino reivindicava a presença da mãe ao seu lado. Ela disse que a ligação telefônica dada pelo pessoal da Embaixada foi para seu marido norueguês, e não para ela.
“Foi uma pressão que [Bolsonaro] fez. Mas é uma questão de pai, de foro íntimo, entendeu, de família mesmo. Eu achava que ele nem deveria ter feito isso, mas se ele fez ... E depois acabou tudo bem, ele tirou a ação [que corria no Rio] e ficou tudo bem. [...] É coisa de pai, que eu respeito ele, porque ele tem um amor fora do comum pelos filhos”, disse Ana Cristina.
Na terça-feira (25.set.2018), novamente procurada pela reportagem, Ana Cristina disse por mensagem de aplicativo de telefone celular que “não falou com nenhum cônsul ou vice”. Indagada se falaria com a reportagem ao telefone, ela respondeu: “Sobre este assunto não tenho nada a dizer”. Questionada se houve ameaças de morte de Bolsonaro contra ela por volta de 2009, ela respondeu que havia conversado com seu marido norueguês e ele “falou que não disse nada disso”. “Acho que vocês estão pegando pesado falando isso”, escreveu Ana Cristina.
Procurado pela reportagem na terça-feira (25.set.2018) o Itamaraty informou, por meio de sua assessora, que, “em razão do direito constitucional à privacidade, reafirmado na Lei de Acesso à Informação, o Ministério das Relações Exteriores não se pronuncia sobre questões específicas envolvendo brasileiros no exterior”.


Ex-mulher de Bolsonaro ataca jornal, nega ameaça e faz campanha para o presidenciável — Ana Cristina Valle publicou vídeo em rede social


Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), atacou o jornal Folha de São Paulo em vídeo divulgado nas redes sociais na terça-feira (25.set.2018) e negou ter sido ameaçada de morte pelo seu ex-marido.
Hoje ela utiliza o nome Cristina Bolsonaro para fazer campanha a deputada federal pelo Podemos em Resende (RJ). Ela afirmou que Bolsonaro será eleito presidente da República “se depender” dela.
Pouco antes, o jornal Folha de São Paulo revelou que um telegrama do Itamaraty de julho de 2011 registrou que Ana Cristina afirmou então ter sido ameaçada de morte pelo ex-marido por volta de 2009 e que, por isso, ela teve que deixar o Brasil.
No vídeo, Ana Cristina não esclareceu se deu as declarações ao vice-consulado do Brasil na Noruega, conforme está escrito no telegrama de 2011. Ela afirmou no vídeo de pouco mais de um minuto:
“Venho aqui muito indignada desmentir a suja Folha de S.Paulo, [que] publica que o Jair me ameaçou de morte. Nunca. Pai do meu filho, meu ex-marido, ele é muito querido por mim e por todos. Ele não tem essa índole para poder fazer tal coisa. Bom pai, bom ex-marido, foi um bom marido também. Espero que vocês acreditem que essa mídia suja só quer denegrir a imagem dele, porque ele tá em primeiro lugar nas pesquisas e assim vai ficar. Porque eu acredito que ele ganhe em primeiro turno, espero que vocês acreditem também. Então fica aqui meu recado, mídia suja, não adianta, nada vai fazer com que ele caia. Ele tá em pé, depois de tudo o que aconteceu e vai continuar, e vai chegar à Presidência, se depender de mim.”




Jair Bolsonaro mobilizou Itamaraty para resolver assunto pessoal em 2011 — Órgão contatou ex-companheira que viajara com filho do presidenciável para a Noruega




Ana Cristina Valle com o filho Jair Renan Bolsonaro em ato pró-Bolsonaro
nas ruas de Resende, interior do estado do Rio de Janeiro — 17.set.2018


Telegramas do Itamaraty revelam que, em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), o hoje presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) pressionou o Itamaraty como deputado federal e teve o apoio do órgão para resolver um assunto pessoal.
Em seu site, no tópico sobre “o que nós não podemos fazer por você”, o Itamaraty informa que não pode “interferir em questões de direito privado, como direitos do consumidor ou questões familiares”. Em 2011, contudo, o órgão mobilizou seu setor consular na Noruega a pedido do parlamentar e foi atrás de uma mulher com quem Bolsonaro havia tido um filho.
O episódio se passou em julho de 2011, quando Ana Cristina Valle, mãe que tinha a guarda de Jair Renan, à época com cerca de 12 anos de idade, embarcou com o menino para Oslo, Noruega. Inconformado com a viagem, que teria ocorrido à sua revelia, Bolsonaro abriu uma ação judicial no Rio de Janeiro e procurou o Itamaraty para que o órgão intercedesse em seu favor.
Segundo os telegramas, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação com vários trechos ainda cobertos por tarjas pretas, Bolsonaro procurou a assessoria parlamentar do Itamaraty, destinada a atender demandas dos congressistas, e esteve na Sere, unidade do ministério responsável pelo serviço consular.
Bolsonaro “solicitou gestão do Itamaraty para averiguar as condições em que estaria” seu filho, segundo trecho do telegrama.
O documento diz que ele pediu número do telefone do embaixador em Oslo, Carlos Henrique Cardim, e sugeriu “um simples contato da embaixada” com alguém, provável referência a Ana Cristina.
A mulher foi de fato procurada pelo vice-cônsul em Oslo — segundo Ana Cristina, seu marido norueguês é que recebeu a ligação telefônica. O gesto demandou explicações do vice-cônsul, que depois escreveu em telegrama que o norueguês “pareceu compreender que o contato foi feito à luz do princípio da impessoalidade”.
Localizado pela reportagem, Cardim confirmou ter sido procurado por Bolsonaro por telefone a respeito do paradeiro do filho.
Ele disse que repassou ao deputado os contatos do chefe do setor consular da embaixada para que o acionasse a fim de obter informações sobre legislação dos dois países, e não mais que isso.
Segundo Cardim, a praxe é apenas “ouvir o que ele [brasileiro] vai dizer, explicar a situação, que leis existem na Noruega sobre o assunto e as leis brasileiras. [...] O consulado não sai atrás das pessoas, as pessoas vão até o consulado”.
O ex-embaixador, que naqueles mesmos dias entrou em férias e viajou ao Brasil, disse não se recordar de alguém do Itamaraty ter ido ao encontro de Ana.
“O Itamaraty não vai entrar em assunto pessoal, seria uma violência até, compreende, o Itamaraty dizer o que tem que ser. O trabalho consular é um trabalho de apoio aos brasileiros no exterior.”
A reportagem ouviu dois especialistas em direito consular. Falando em tese, sem conhecer o caso concreto, um disse que o Itamaraty não pode procurar pessoas sobre assuntos pessoais no exterior; outro considerou a ação legal e inserida nas atribuições do órgão.
Localizada por telefone na sexta-feira (21.set.2018), Ana Cristina, hoje candidata a deputada federal com o nome Cristina Bolsonaro (Podemos-RJ), disse que seu marido foi procurado pelo serviço diplomático brasileiro com o objetivo de que ela regressasse ao Brasil.
Ela explicou a divergência com Bolsonaro na época: “A briga foi que ele [Bolsonaro] não queria nem que o menino passasse férias comigo lá. O menino sentia a minha falta, ‘mãe, eu quero ir com você’. Eu fiz o que meu filho pediu, levei. Depois eu comuniquei [a viagem]”. Ela disse que ficou com o filho na Noruega não mais que 20 dias.
Por lei, ela precisaria de autorização do pai para viajar com o filho — questionada, ela não comenta detalhes de como conseguiu viajar.
Ana afirma considerar o episódio totalmente superado. “Foi uma pressão que fez. Mas é uma questão de pai, de foro íntimo, entendeu, de família mesmo. Eu achava que ele nem deveria ter feito isso, mas se ele fez ... E depois acabou tudo bem, ele tirou a ação e ficou tudo bem.”
“É coisa de pai, que eu respeito ele, porque ele tem um amor fora do comum pelos filhos”, afirmou Ana.
“Nós dois nos damos bem. Nosso filho é a nossa prioridade e não tem problema nenhum [no relacionamento], faço campanha para ele aqui. Quero que ele chegue, torço para que ele melhore e chegue à Presidência da República no primeiro turno.”

Em nota, o Itamaraty reafirmou que o serviço consular “não interfere em questões familiares”. “Limita-se a informar e a orientar as partes sobre questões jurídicas aplicáveis.” Afirmou também que não comenta questões específicas envolvendo brasileiros no exterior em razão do direito à privacidade.
Disse ainda que uma de suas principais atribuições é “prestar assistência aos nacionais brasileiros no exterior, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional, como prevê a Convenção de Viena”.




terça-feira, 18 de setembro de 2018



Urna eletrônica brasileira usa tecnologia desenvolvida por técnicos do próprio Tribunal Superior Eleitoral






O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o responsável pelos projetos de desenvolvimento da urna eletrônica (hardware) e dos programas que fazem parte do sistema eletrônico de votação nela instalados (softwares). Toda a tecnologia utilizada na urna eletrônica dispõe de uma rede de proteção, com diversas camadas de segurança, também projetadas pelo TSE, que inviabilizam qualquer tentativa de invasão, fraude ou tentativa de burla dos sistemas eleitorais.
A cada ciclo eleitoral, as equipes de desenvolvimento de software do TSE produzem e desenvolvem todos os programas das eleições, inclusive os que serão inseridos nas urnas. Entre esses sistemas estão: o GEDAI-UE, gerenciador de dados, aplicativos e interface com a urna, que fornece às equipes dos cartórios eleitorais e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) o suporte de software necessário à carga das urnas eletrônicas; o SCUE, software de carga da urna responsável por preparar e instalar o sistema operacional, software e dados de eleição nas urnas; o ATUE, autoteste que tem como função executar testes para validar o funcionamento das urnas antes do dia da eleição; e o VOTA, cuja função é coletar e apurar os votos de uma seção eleitoral.
Além disso, o sistema eletrônico de votação e a urna passam periodicamente por Testes Públicos de Segurança (TPS) obrigatórios e que fazem parte do próprio projeto de preparação de uma eleição. Esses testes asseguram a melhoria contínua dos programas empregados, por meio de sugestões vindas de especialistas de alto gabarito em Ciência e Tecnologia da Informação, tanto de organismos públicos quanto de instituições privadas.
As cinco últimas eleições presidenciais e seis municipais, ao longo de 22 anos, foram realizadas por meio da urna eletrônica. Muito antes da realização do pleito, o TSE inicia o desenvolvimento do ecossistema da urna, que é o conjunto de soluções de software que permite apoiar e automatizar as atividades e processos envolvendo a urna eletrônica, desde o tratamento das mídias até a apuração do resultado da seção, funcionando como uma unidade que interage em torno da urna eletrônica.

Transparência — De acordo com a legislação eleitoral, a partir de seis meses antes do primeiro turno das eleições, partidos políticos, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Ministério Público podem acompanhar as fases de especificação e de desenvolvimento dos sistemas eleitorais por meio de representantes formalmente indicados e qualificados perante a Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) do TSE. Após concluídos, os programas a serem utilizados no processo eleitoral são assinados digitalmente pelo presidente do TSE e por representantes dessas entidades na Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas.



Conheça a preparação da urna eletrônica e o caminho do voto


Prestes a ser usada em sua sexta eleição presidencial — a primeira vez foi há vinte anos — a urna eletrônica começa a ser preparada bem antes de os partidos definirem seus candidatos. O objetivo, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, é garantir a máxima segurança e sigilo do processo de votação.
O desenvolvimento de um software que inclui testes públicos e auditorias externas, abertas inclusive aos partidos políticos, não foi capaz de debelar um rosário de teorias da conspiração que culminou com a aprovação de uma lei que prevê a volta do voto impresso nas próximas disputas — apesar das suspeitas recorrentes, nunca nenhuma fraude foi comprovada.
A impressão do voto só não começou a ser usada no pleito de 2018 porque o Supremo Tribunal Federal entendeu que a medida coloca em risco o sigilo do voto e concedeu uma liminar contra a sua adoção. Além de não servir para o que pretende, a novidade é cara: o TSE estimou em 1,8 bilhão de reais o custo para implementar a medida integralmente.
A ideia do voto impresso é permitir a conferência do resultado apurado. Só que as escolhas dos eleitores já são gravadas na urna em três dispositivos diferentes: dois módulos de memória ligados ao circuito interno e uma espécie de pendrive que permanece lacrado durante o dia da votação e só é removido para a apuração.
Além de auditorias no sistema que faz a urna funcionar, sua tecnologia permite a recontagem de votos por meio de um registro digital de voto e sua comparação com o boletim de urna, impresso logo após a votação. Acompanhe abaixo todas as etapas de programação do software pelo setor de tecnologia do TSE e os caminhos do voto até a divulgação do resultado.
Nova programação — A preparação do software da urna eletrônica dura cerca de um ano e meio. Logo após o término de um pleito, a equipe de tecnologia do Tribunal Superior Eleitoral começa as mudanças pensando no próximo. O objetivo é atualizar o programa para atender novas demandas por segurança e instruções normativas do próprio tribunal.
Teste anti-hacker — Entre novembro e dezembro do ano anterior à eleição, o TSE convoca um teste público de segurança. Especialistas são chamados a participar do desenvolvimento do software e colocar os mecanismos de segurança à prova para identificar eventuais vulnerabilidades. Em maio, as correções são confirmadas em uma nova rodada de avaliações.
Auditoria externa — Seis meses antes das eleições, partidos políticos, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil podem inspecionar todo o código-fonte do programa. Estes órgãos podem apresentar sugestões e conferir se o software funciona para aquilo que foi desenvolvido: registrar e contar votos corretamente.
Software fechado — Até um mês antes do pleito é feita a lacração do sistema. Esta etapa, também pública, serve para garantir que o software que será compilado para ser instalado nas urnas é exatamente o mesmo cujo desenvolvimento foi acompanhado e avaliado pelas entidades. Neste momento também são geradas as assinaturas digitais dos órgãos envolvidos.
Instalação nas urnas — Vinte dias antes do pleito, as urnas começam a ser preparadas para o dia da votação com a  instalação do software e as informações dos candidatos. São inseridos os cartões de memória que receberão uma cópia dos votos que serão apurados. Como os aparelhos não são ligados a nenhuma rede externa, o programa é instalado individualmente.
Votos em backup — O dia de votação começa com a impressão da zerésima, que comprova que a urna não tem nenhum voto. A emissão deste documento é acompanhada por fiscais dos partidos. Durante todo o dia, os votos são computados em duas memórias internas — uma delas pode ser removida caso seja preciso substituir a urna.
Gravação dos dados — Após o fim da votação é gerado o boletim de urna, com todos os votos da seção, e os dados são gravados em cartões de memória chamados de “mídia de resultado”. Estes dispositivos são removidos e lacrados em um envelope, junto com duas cópias do boletim, que segue para a apuração.
Envio dos votos — As mídias de resultado são encaminhadas para um centro de transmissão, que pode ser o próprio cartório eleitoral, o local de votação ou a sede do TRE. Em locais de difícil acesso, a transmissão é feita por satélite. O envio dos dados é todo feito em rede privada, exclusiva da Justiça Eleitoral.
Checagem dupla — Nos TREs, os dados são checados para garantir que eles vieram da mesma urna onde a mídia de resultado estava inserida. Os sistemas também verificam se os dados foram gerados pelo mesmo software que passou pelos testes de segurança e auditoria, que conta com assinatura digital.
Apuração dos resultados — Uma vez verificados e descriptografados, os votos podem finalmente ser totalizados e divulgados. Os TREs são responsáveis por apurar os votos para deputados, senadores e governadores. Os dados da eleição presidencial são enviados para totalização no Tribunal Superior Eleitoral.



Além do teclado de votação





1. Mídia de resultado: é removida e enviada, em um envelope lacrado, para a apuração da Justiça Eleitoral

2. Memória externa: também guarda os votos já computados e serve para abastecer uma nova urna em caso de substituição

3. Impressora térmica: imprime a “zerésima” e os boletins de urna, com a quantidade votos por candidatos e partidos

4. LEDs indicadores: mostram o estado de abastecimento de energia

5. Botão liga/desliga

6. Bateria externa: entra em funcionamento em caso de falta de energia e se a bateria interna parar de funcionar



A urna por dentro










Cadastramento biométrico alcança mais de
87 milhões de eleitores






As eleições de outubro de 2018 vão marcar os dez anos do início da adoção da biometria no processo eleitoral brasileiro. No pleito deste ano, pela primeira vez, o sistema biométrico de identificação atenderá a metade do eleitorado. Dos 147.302.357 eleitores aptos a votar, 73.688.211 serão identificados por meio de digitais, ou seja, 50,03% do eleitorado. Atualmente, um total de 87.359.184 eleitores estão aptos para votar biometricamente.
O número surpreende pela enorme expansão do cadastramento nos últimos anos. Em 2014, o quantitativo de eleitores com identificação digital em municípios com reconhecimento biométrico totalizava 21.677.955 pessoas, o que correspondia a 15,18% do eleitorado. O crescimento, de uma eleição geral a outra, foi de 239,92%. Essa rápida evolução é resultado de ações da Justiça Eleitoral que têm como objetivo identificar 100% dos eleitores por meio da impressão digital até 2022. A medida visa prevenir fraudes e tornar as eleições brasileiras ainda mais seguras, impedindo que um eleitor tente se passar por outro no momento do voto.
Neste ano, 2.793 municípios, sendo 22 capitais, utilizarão exclusivamente a biometria para identificar eleitores. O número revela que 48,65% das cidades brasileiras votarão com identificação biométrica. Em dez unidades da federação — Amapá; Alagoas; Distrito Federal; Goiás; Paraíba; Piauí; Rio Grande do Norte; Roraima; Sergipe e Tocantins — a biometria está 100% implantada.
Nesses locais, a identidade do eleitor é confirmada quando ele posiciona o dedo no leitor biométrico da urna eletrônica, sendo dispensado de assinar o caderno de votação. Para votar, é necessário apresentar documento de identificação com foto ou baixar o e-título, que também vale como documento de identificação para quem já fez a biometria. O aplicativo pode ser baixado na Apple Store e Google Play.
Em outras 1.533 cidades (26,70% do total) a identificação será híbrida, pois nesses locais a biometria ainda não é obrigatória. Por esse motivo, a verificação das digitais no momento da votação será feita apenas para eleitores que já têm suas informações biométricas cadastradas no banco de dados da Justiça Eleitoral. Para os demais cidadãos, será adotado o procedimento tradicional, que consiste na assinatura do eleitor no caderno de votação, após a apresentação do título de eleitor e um documento de identificação com foto.

Superação das metas — Grande parte do sucesso da expansão do sistema de identificação biométrica se deve ao esforço da Justiça Eleitoral para cumprir e ultrapassar as metas fixadas para 2018. A previsão inicial era alcançar cerca de 9 milhões de eleitores, mas, ao final do processo, foram registrados os mais de 15 milhões de eleitores que compareceram aos cartórios eleitorais para o cadastramento biométrico.
Houve casos de estados que superaram em muito as expectativas. Isso ocorreu no Paraná, que tinha a previsão de cadastrar 34 mil eleitores, mas registrou 521mil digitais, o que corresponde a um aumento de 1.533%  em relação à meta prevista. Outros 15 estados também ultrapassaram os quantitativos previstos para 2018.
O cadastramento biométrico para as eleições de 2018 foi encerrado em maio, mas a meta estabelecida para este ano inclui ainda os meses de novembro e dezembro.

Biometria — A biometria é a ciência que estuda a identificação dos indivíduos pelas características físicas únicas. O sistema adotado no Brasil recolhe as impressões digitais, fotografia e assinatura digital e garante que o eleitor seja único no cadastro eleitoral, o que torna praticamente impossível a tentativa de fraudar qualquer identificação.
Com a adoção da biometria, a votação fica muito mais segura, uma vez que a intervenção humana no processo é praticamente excluída.

Recadastramento — O recadastramento biométrico deve ser feito por todos os que votam nas cidades que utilizam, exclusivamente, a identificação biométrica no dia das eleições. Quem pretendia votar nas Eleições de 2018 teve até o dia 9 de maio para fazer o seu registro. Nesses locais, os eleitores que não fizeram o recadastramento tiveram o título de eleitor cancelado e não poderão votar no pleito deste ano. Todos poderão regularizar a situação após o pleito.






Realidade ou Lenda



Por que existe o narcotráfico? Eis a pergunta singela que o general Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro, deveria fazer aos seus botões. O tráfico existe porque há um mercado consumidor, eis a resposta óbvia. Vende-se cocaína no Brasil porque há quem a aspire. Vende-se muita cocaína, porque há quem tenha dinheiro para sorvê-la em grandes quantidades.
A meninada das comunidades pobres vira “avião” de traficante porque mamãe, vovó, papai e vovô são abandonadas à própria sorte pelo Estado, incapaz de prover o básico: educação, segurança e emprego. A tese de que famílias da periferia não conseguem cuidar dos filhos é prima-irmã da máxima segundo a qual pobre não sabe votar. Graças a essa premissa, o país foi governado por cinco generais escolhidos sem a interferência popular.

O chefe das Forças Armadas, segundo a Constituição, é o presidente da República. É ele, e somente ele, portanto, quem em nome delas pode falar sobre temas políticos de repercussão geral. Aos comandantes das três armas — Exército, Marinha e Aeronáutica —, cabe falar sobre assuntos administrativos e aqueles diretamente afeitos aos cargos que ocupam.
Militar não é igual a civil — O que os distingue não é só a farda que um veste e o outro não. Militar tem acesso a armas pesadas, pilota brucutu, maneja tanques e é treinado para matar. Se um deles fala qualquer coisa, soa diferente do civil que diga o mesmo. Porque um tem a força capaz de pulverizar literalmente quem quer que seja. O outro, só a força da palavra e do voto.

Faltam menos de 20 dias para o desfecho do primeiro turno da eleição presidencial. E são cada vez mais fortes os sinais de que o segundo turno pode ser extremista. De um lado, Bolsonaro. Do outro, Haddad. Esboça-se uma polarização sui generis: Hospital X Cadeia.
Numa divisão grosseira, o eleitorado trincou em três pedaços. Um odeia o PT, tem ojeriza a Lula, e encontrou no ultra-conservadorismo de Bolsonaro a melhor tradução para sua raiva. Outro lembra com saudade do governo Lula, fecha os olhos para a decomposição ética e vota em quem o presidiário indicar. Um terceiro naco, no centro, pulveriza-se. Oscila entre os outros candidatos, a dúvida ou o voto em ninguém.

Suprema ironia: os dois personagens que mais movimentam o cenário eleitoral estão imobilizados. Um, hospitalizado, passa mais tempo deitado do que em pé. Comunica-se por meio de vídeos de UTI. Outro, encarcerado, teve o horizonte reduzido aos 15 m² de uma cela especial. Envia correspondências do cárcere. O risco que o país corre é o de sair da disputa presidencial dividido e, pior, agarrado a dois sinais trocados.

A turma que detesta Lula confunde populismo radical com solução. A banda que tem devoção pelo pajé do PT confunde urna com tribunal. O problema é que radicalismo não produz solução, gera mais radicalismo. E o voto, embora possa anestesiar culpas, não absolve réus. Os dois tipos de confusão têm algo em comum. Ambos costumam conduzir à decepção.

Uma semana depois de ser confirmado como presidenciável do PT, Fernando Haddad exercitou sua lulodependência em nova visita ao mentor-presidiário na segunda-feira (17.set.2018). O hipotético cabeça da chapa petista foi receber instruções de Lula, o cérebro de sua campanha, na cela da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Nos últimos 40 dias, Haddad visitou a cela especial de Lula meia dúzia de vezes. Seu ingresso nas dependências da PF é assegurado por uma farsa. Advogado bissexto, Haddad revalidou seu registro profissional para ser incluído no rol de defensores de Lula. Nas suas visitas, cuida de política, não da defesa do preso.
Graças à complacência das autoridades judiciárias, a cela de Lula tornou-se o comitê central da campanha presidencial do PT. Mal comparando, Lula age como os líderes de facções criminosas. Condenado a 12 anos e um mês de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro, transformou a cadeia em escritório político.

A urna eletrônica começou a ser utilizada massivamente no Brasil a partir das eleições municipais de 1996. Somos o único país do mundo que possui um sistema de eleições 100% eletrônico.
Bolsonaro entrou na vida pública em 1988 elegendo-se vereador do Rio pelo Partido Democrata Cristão. Nas eleições de 1990 elegeu-se deputado federal. Reelegeu-se mais quatro vezes. É freguês da urna eletrônica há 20 anos, sem jamais contestá-la antes. Foi filiado a nove partidos. Elegeu um filho deputado federal e outro vereador. A ex-mulher é candidata a deputada federal. Só agora Bolsonaro reclama?

Talvez o mais importante das últimas décadas seja o fato de que perdemos qualquer vestígio de inocência. Acreditamos em nada. Duvidamos de tudo. Optamos pela descrença temperada pelo cinismo. Faz tempo que a gente não sonha. Não imagina a vida daqui a alguns anos. Não planeja. Não tem controle (ainda que ilusório) do próprio destino. Fazemos tudo por hábito alegando falta de opção. Como se opções nascessem do nada.
Minuto a minuto, dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano, fomos destruindo o pouco que existia da nossa crença nas instituições. Pasmos, vagamos por quase quarenta anos de democracia em deserto de ideias e abundância de maldade insolente.
Olhando para frente, ninguém vê a luz no fim do túnel. Alias, nem mais sabemos se estamos em um túnel. Parecemos acreditar, resignados, que esse é nosso destino já escrito. No faroeste digital que virou a política tropical, todos culpam a todos. Dizem nada. Como facções organizadas, embarcam em debates inúteis onde ninguém ouve, mas todos falam.
Ninguém mais argumenta como as coisas podem melhorar. Nem se acredita que vão. A gente não mais escolhe o melhor. Fica contente em escolher o menos ruim. E satisfeito com a ideia de que as outras escolhas talvez sejam piores.
O Brasil virou lugar onde acontece de tudo. Mas sempre dá em nada.




domingo, 16 de setembro de 2018

Papa Emérito Bento XVI já sofria os sintomas de Parkinson antes de sua renúncia
doença pode ter contribuído para sua decisão



Novembro de 2017 — Bento XVI recebe a visita de teólogos em sua residência: apoio no andador


“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência perante Deus, cheguei à conclusão de que as minhas forças, devido a uma idade avançada, não são capazes de um adequado exercício do ministério de Pedro.” A frase, dita a cardeais pelo papa Bento XVI às 11h30min da manhã de 11 de fevereiro de 2013, ficou gravada na história por sua pungência e raridade: havia seis séculos que um pontífice não renunciava ao trono. O ato de Bento XVI chacoalhou uma Igreja assolada por denúncias contra prelados pedófilos e por escândalos financeiros, e logo levantou especulações de todos os tipos. Afinal, a fraqueza papal era por não suportar — ou não saber lidar com — a podridão de um clero corrupto e indecoroso? Ele estaria sendo vítima de chantagem de alguns cardeais? Não se sabe, mas certamente esses problemas incomodavam Joseph Ratzinger.
Havia, entretanto, outro percalço: Bento XVI sofre de Parkinson, e já sentia os sinais da doença quando renunciou. O Parkinson é um mal degenerativo crônico do sistema nervoso central que afeta brutalmente os movimentos. Ao renunciar, o papa tinha 85 anos. Está com 91.
Integrantes da Igreja próximos ao atual papa emérito, que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar publicamente sobre sua saúde, contam que sua rotina está mais limitada em razão da doença. Às 7h45min, logo depois de acordar, ele celebra missa em uma capela com capacidade para cerca de vinte pessoas. Durante a cerimônia, nos moldes pré-Concílio Vaticano II, de frente para a cruz no altar, sustenta-se de pé com a ajuda de assessores. Emenda a missa com o café da manhã, sempre frugal: pão, café, leite e fruta. Até a hora do almoço, passa o tempo lendo (sobretudo biografias de santos) ou respondendo a cartas de fiéis. Ele escreve a mão. Usa lápis curto, que lhe dá mais firmeza — pede que todos os lápis sejam cortados de forma a ficar quase da altura de sua mão. Tem hoje a letra miudinha, uma característica dos portadores da doença, que compromete a coordenação motora. Uma secretária alemã, que o assiste há anos, é uma das raras pessoas que entendem sua atual caligrafia e transcreve os escritos para o computador.



Junho de 2018 — Francisco, um dos mais assíduos na casa do papa emérito:
vida reclusa e limitada ao Vaticano


As pernas são a parte do corpo mais atingida pelo Parkinson até agora. Os passos são cada vez mais curtos e lentos. À medida que o caminhar se torna mais difícil, o paciente de Parkinson curva a cabeça e o tronco e passa a jogar o corpo para a frente. A flexão provoca um deslocamento do centro de gravidade, que resulta em desequilíbrio, e, por esse motivo, os tombos podem se tornar frequentes. Isso explica a foto, divulgada em outubro de 2017, em que Bento XVI aparecia com hematoma no olho direito. Era decorrência de uma queda dentro de casa.
Bento XVI no início usou praticamente só bengala. Hoje, precisa também de cadeira de rodas e andador — o produto, fabricado na Alemanha, é à prova de quedas. Ou seja, se houver aceleração no caminhar, o andador freará automaticamente. À tarde, quando não está chovendo nem fazendo muito frio, o papa emérito gosta de ir à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, nos jardins do Vaticano, para rezar o terço. Mas percorre os cerca de 200 metros até o local a bordo de um carro de golfe, presente da Gendarmeria, a força militar da Santa Sé.
Os primeiros indícios do Parkinson surgiram um ano antes da renúncia, quando Bento XVI estava às vésperas de embarcar para uma viagem ao México e a Cuba. Em 23 de março de 2012, o pontífice apareceu no Aeroporto Fiumicino, em Roma, com visível difi­culdade de andar. Pela primeira vez, apoiava-se em uma bengala. Cumpriu todos os compromissos ao longo daquela semana, mas dava sinais de cansaço, tendo de se esforçar para caminhar. Na volta, segundo o próprio papa contou em uma entrevista quatro anos depois, ouviu de seu médico: “O senhor não pode mais atravessar o Atlântico”. No ano seguinte, teria de vir ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, um evento de relevo no calendário papal. Percebeu que não conseguiria mais. E começou a amadurecer a ideia de renunciar.



Dezembro de 2012 — O pontífice Bento XVI durante missa na Basílica de São Pedro:
plataforma móvel para percorrer 100 metros


Em abril daquele ano de 2012, o papa surpreendeu a quem acompanhava a missa celebrada por ele em uma das capelas do Vaticano. Desfiou na ocasião palavras de alta dramaticidade: “Eu me encontro diante do último trecho da jornada da minha vida e não sei o que me espera. Sei, no entanto, que a luz de Deus existe, que ele ressuscitou, que sua luz é mais forte do que qualquer escuridão”. Um segundo sinal contundente de sua fragilidade física se anunciaria em dezembro de 2012, na Basílica de São Pedro. O pontífice se movia pouco e chamou atenção por precisar de uma plataforma móvel, empurrada por auxiliares, para percorrer os 100 metros da ala principal da igreja.
Hoje, Bento XVI mora no convento Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. O edifício, de dois andares, tem cerca de 400 metros quadrados e decoração módica. Foi construído por seu antecessor, João Paulo II, para ser a residência de freiras de clausura de diversas nacionalidades e ordens, com o objetivo de apoiá-lo com orações. De tempos em tempos, os grupos de religiosas eram trocados. Mas em novembro de 2012, quando o prazo da estada da última congregação terminou, ainda no pontificado do papa alemão, a casa foi fechada para reforma. Ele planejava ir para lá depois da renúncia, decisão que já tomara.
A suspeita de que Bento XVI tinha uma doença degenerativa já circu­lava. Em 15 de fevereiro deste ano, Georg Ratzinger, irmão do papa emérito que mora na Alemanha, deu uma entrevista à revista alemã Neue Post depois de uma visita à residência de Bento XVI. “Meu irmão sofre de uma doença paralisante. O maior medo é que a paralisia possa, a dada altura, atingir seu coração. Aí tudo pode acabar rápido. Oro todos os dias por uma morte boa”, disse Georg. No mesmo dia, o Vaticano afirmou que a informação era “falsa”. No início deste ano, o próprio Bento XVI escreveu uma carta ao jornal italiano Corriere della Sera, em resposta aos inúmeros questionamentos de leitores sobre sua saúde. Disse sofrer um “lento declínio das forças físicas”.

A transparência não é o forte na comunicação do Vaticano. Um dos exemplos mais emblemáticos se deu nos derradeiros dias do papado de João Paulo II, morto em 2005, em decorrência de complicações também de Parkinson. A doença maltratava o corpo do pontífice polonês desde 1996, mas só seria nominada em 2001, por seu médico pessoal, numa entrevista à revista italiana Oggi. Na época, o Parkinson já estava tão avançado que João Paulo II mal conseguia mover o braço esquerdo e erguer a cabeça. O papa morreu sem que a Santa Sé tivesse confirmado oficialmente sua condição. Passada mais de uma década, ao questionar a imprensa do Vaticano sobre a doença de Bento XVI, obteve-se a seguinte resposta: “O papa emérito está bem. A sua ‘doen­ça’ são os seus 91 anos”.



Papa Francisco visita a Sicília e prega contra a máfia

Na Sicília, Papa Francisco diz que ‘mafiosos não vivem como cristãos’
Francisco foi a Palermo para oficiar uma missa de morte do padre
Pino Puglisi, sacerdote italiano considerado o primeiro mártir da máfia


Em missa realizada em Palermo, na região da Sicília, no sul da Itália, o Papa Francisco pregou contra a máfia e ressaltou que aqueles que a integram não vivem como cristãos, além de pedir que transformem sua postura.
Francisco esteve no local para oficiar uma missa por ocasião do 25° aniversário de morte do padre Pino Puglisi, sacerdote italiano considerado o primeiro mártir da máfia. Ele foi beatificado 20 anos após ser assassinado, em 15 de setembro de 1993, e hoje é um símbolo da luta contra o crime organizado na Itália.
“Não se pode acreditar em Deus e ser mafioso, quem é mafioso não vive como cristão, porque blasfema com a vida o nome de Deus”, afirmou Francisco na homilia, diante de dezenas de milhares de fiéis que se aglomeraram no grande gramado do Foro Itálico.
“Portanto, digo aos mafiosos: mudem, parem de pensar só em vocês mesmos e em seu dinheiro, transformem-se para o verdadeiro Deus, de Jesus Cristo. De outro modo, a própria vida de vocês estará perdida, e será a pior das derrotas”, acrescentou.
O pontífice lembrou que o padre Pino Puglisi morreu no dia em que completou 56 anos e que “coroou sua vitória com um sorriso”, em alusão ao fato de que o sacerdote, muito conhecido por tentar tirar jovens do crime organizado, sorriu para seu assassino quando o viu chegar e lhe disse que “o esperava”.
“Aquele sorriso não deixa seu assassino dormir à noite, que diz: ‘havia uma espécie de luz naquele sorriso”, afirmou. “O padre Pino sabia que se arriscava, mas sabia, sobretudo, que o verdadeiro perigo na vida é não arriscar e viver confortavelmente”, ressaltou Francisco, que pediu aos fiéis para esquecerem o egoísmo seguindo o exemplo do sacerdote.
O Papa destacou ainda que as pessoas não devem se deixar levar pelo ódio ou o rancor. “Precisamos de homens de amor, não homens de honra. De serviço, não de opressão. Se a litania mafiosa é ‘você não sabe quem eu sou’, a cristã é ‘tenho necessidade de Ti’, e se a ameaça mafiosa é ‘você me pagará’, a prece cristã é ‘Senhor, ajuda-me a amar”, disse Francisco.