Como Ulisses em "A Odisseia", nos últimos meses estive amarrado ao
mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões
plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.
A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera,
esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos
chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais,
minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me
querem bem.
Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do
conforto das selfies no Instagram para somar forças na necessária
renovação política brasileira. Mas daí a postular a candidatura a
presidente da República há uma distância maior que os oceanos da jornada
de Ulisses.
Há algum tempo me vejo diante desta pergunta: qual foi exatamente a
trajetória, o fato e até mesmo o momento em que meu nome foi lançado
entre os possíveis candidatos à Presidência do Brasil?
Eu mesmo demorei um pouco para encontrar a resposta. Mas depois de
alguma reflexão, ela veio e me pareceu muito clara: minha exposição
pública e, espero, meu jeito, minhas características, minha
personalidade e a forma como vejo o mundo. As mesmas forças que me movem
desde sempre me levaram a esse lugar.
Explicando em outras palavras, entre as centenas de defeitos que
carrego, talvez eu tenha uma única virtude: carrego desde sempre,
genuinamente, enorme paixão e curiosidade pelo outro.
Gosto muito de gente. Sempre gostei. De todo tipo, origem, tamanho, cor,
posição na pirâmide. É só olhar para o que faço profissionalmente há
mais de duas décadas. Não paro de procurar pelo diferente. E não falo de
um olhar distante, acadêmico, teórico. Falo de andanças intermináveis
por todos os quadrantes do Brasil e por vários do mundo atrás daquilo
que não conheço. Ando há anos e anos por lugares ricos, paupérrimos,
super ou subdesenvolvidos, em guerra, centros moderníssimos de saber,
cantos absolutamente esquecidos pelo desenvolvimento. Sempre atrás da
mesma coisa: gente boa.
E a sensação de "intimidade" que meus mais de 20 anos de televisão
provocam nas pessoas possibilita conversas instantaneamente francas e
verdadeiras.
Esse dia a dia me permitiu construir uma visão muito própria e ampla dos
recortes, curvas e reentrâncias do país. Sinto na pele o pulso das
ruas.
E foi essa permanente "bateção de perna", sempre " in loco", que me
tirou definitivamente da zona de conforto e me fez ver: O Brasil está
sofrendo demais – especialmente os mais pobres, mas não apenas eles–
para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto.
O que está aí jamais será empático, perceberá e muito menos traduzirá
as reais necessidades da gente. Da nossa gente.
Vendo meu nome apontado, é muito importante frisar sempre, sem ter
levantado a mão ou me oferecido para concorrer ao cargo mais importante
na governança do país, minha reação natural foi tentar entender melhor
do que se tratava. Gosto de aprender, de saber o que não sei e penso que
cultivo um bom hábito desde muito cedo: tentar descobrir e encontrar
quem sabe.
De forma intuitiva e quase caseira, fui procurando referências em
pessoas que se dedicam de forma mais intensa a entender o Brasil; o
sofrimento, as dificuldades e, principalmente, as soluções.
Acho também que sou meio obsessivo por fazer as coisas direito. Por
isso, saí buscando e principalmente ouvindo dezenas de pessoas que
admiro, que considero inteligentes, sensíveis, maduras e capacitadas,
para que elas compartilhassem comigo suas visões. Foram meses que
produziram em mim uma pequena revolução, um aprendizado enorme.
Tantas ideias, tanta gente interessada, brilhante e altamente
capacitada, disposta a colocar energia a favor de uma transformação
definitiva: De um país à deriva em uma nação de verdade, que possa de
uma vez por todas refletir a qualidade indiscutível do seu povo.
Aqui é importante pontuar uma constatação que logo apontou no meu radar e
que há tempos ecoa nele de maneira incômoda. Minha geração está
trabalhando e inovando com vigor em muitas frentes. Há milhares de
notáveis empreendedores, profissionais liberais, atletas, executivos,
artistas, intelectuais, pensadores e por aí vai. Mas pela política, ela
tem feito pouco.
Tenho dito sempre algo que me parece muito evidente, quase óbvio, mas
assim mesmo um alerta necessário: se não nos aproximarmos de fato da
política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu
ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica.
Dito isso, sigo acreditando que o melhor caminho passa obrigatoriamente
pelos movimentos cívicos, pela abertura de espaço na mídia para novas
lideranças, por uma escuta dos anseios das pessoas, por reformas
estruturais, muitas delas doloridas, por políticas públicas afetivas e
efetivas, por políticas econômicas modernas e eficazes, pela educação
levada a sério, pela saúde tratada com respeito, por tecnologia que
alavanque as boas ideias e pela total transparência dos gastos públicos.
Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade. A lista é
grande.
O momento de total frustração com a classe política e com as opções que
se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central
na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país.
É claro que isso me trouxe a sensação boa de que uma parte razoável da
população entende o que sou e faço como algo positivo. Evidente também
que junto vieram uma pressão muito pesada e questionamentos de todos os
tipos.
Já disse e escrevi antes, mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida
e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o
nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras
posições no front nacional, não só fazendo aquilo que já faço mas
ampliando meu raio de ação ainda mais.
Com a mesma certeza de que neste momento não vou pleitear espaço nesta
eleição para a Presidência da República, quero registrar que vou
continuar, modesta e firmemente, tentando contribuir de maneira ativa
para melhorar o país. Vou bem além da voz amplificada enormemente pela
televisão que amo fazer, do eco monumental das redes sociais que aprendi
a tecer, do instituto que fundei há quase 15 anos e de todos os meios
que o carinho das pessoas me proporcionou.
Vou também direcionar toda a energia de que disponho para outra coisa que acredito saber fazer: agregar.
Agregar as mentes sábias que fui encontrando em diferentes camadas da
sociedade, dentro e fora do Brasil, pessoas extremamente capazes e
dispostas de fato a conjugar o verbo servir no tempo e no sentido
corretos. Vou trabalhar efetivamente para estruturar e me juntar a
grupos que assumam a missão de ir fundo na elaboração de um pensamento e
principalmente de um projeto de país para o Brasil.
E, para isso, não são necessários partidos, cargos, nem eleições.
Essa intenção já esta viva através dos movimentos cívicos dos quais me
aproximei com bastante interesse e intensidade. E de outras iniciativas
que estão por vir.
Quero registrar de novo que entre as percepções que confirmei nesses
últimos meses está a convicção de que não há nada mais importante do que
tomarmos consciência da importância da política e de que precisamos nos
mover concretamente na direção da atuação incisiva, para que não
sejamos mais vítimas passivas e manobráveis de gente desonesta, sem
caráter, despreparada e incapaz de entender o conceito básico da
interdependência ou de pensar no coletivo.
A hora é de trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras
para o país, e não de focar o próprio umbigo ou de alimentar polêmicas
pueris e gritas sem sentido.
Quem se interessa pelo que sou e faço pode acreditar: vou atuar cada vez
mais, sempre de acordo com minhas crenças, em especial com a fé enorme
que tenho neste país.
Contem comigo. Mas não como candidato a presidente.