quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Planalto receia que Temer seja alvo de panelaço



Michel Temer
Presidente interino


Ao decidir levar ao ar seu primeiro pronunciamento no feriado em 7 de Setembro, Michel Temer deu de ombros para ponderações que ouviu de auxiliares. Integrantes de sua equipe receiam que ele seja alvo do seu primeiro panelaço. Embora concorde com a avaliação, Temer decidiu correr o risco.
Temer se esforça para conviver com a impopularidade. Há duas semanas, foi à abertura dos Jogos Olímpicos sabendo que seria hostilizado. Evocou Nelson Rodrigues: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio.” Ao anunciar a abertura da Olimpíada, foi vaiado mesmo sem que seu nome tivesse sido mencionado no sistema de som.
Temer faltou à cerimônia de encerramento, na noite de domingo (21.ago.2016). Enviou como representante o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado sentou-se ao lado do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach. Mas sua presença também não foi anunciada pelo cerimonial do evento.
Numa tentativa de vacinar Temer contra o panelaço, o Planalto volta a se escorar em Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”, disse um auxiliar do presidente que, em poucos dias, deve ser efetivado no cargo pelo Senado. “As manifestações da sociedade são parte da democracia”, acrescentou.
Em junho, o medo de panelaço fizera Temer desistir de uma aparição em rede nacional de rádio e tevê. O governo enviara ao Congresso a proposta de emenda constitucional que cria um teto para limitar o crescimento das despesas públicas. E Temer programara-se para bater bumbo na vitrine eletrônica. Celebraria a normalização das relações com o Legislativo e a retomada da confiança dos agentes econômicos.
Recuou depois de ouvir o estrondo da delação premiada de Sérgio Machado, o ex-tucano que se converteu ao PMDB e presidiu a Transpetro por quase 12 anos. Período em que fez da subsidiária da Petrobras uma usina de trambiques e propinas.
Machado ocupou manchetes nas quais o Planalto imaginara que acomodaria seu otimismo econômico. Índio da tribo do pajé Renan Calheiros, o delator disse ter recolhido R$ 115 milhões no balcão da Transpetro. Distribuiu-os a 23 políticos de oito partidos. A parte do leão, R$ 100 milhões, foi destinada aos cardeais do PMDB. Nessa versão, a pedido de Temer, R$ 1,5 milhão fora borrifado na campanha de Gabriel Chalita, então candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB.
A aparição de Temer representará uma espécie de ressurreição dos pronunciamentos oficiais de presidente. Sob Dilma, a ferramenta havia sido abandonada desde maio de 2015. Madame fugiu dos panelaços refugiando-se na internet. Rompendo a tradição, cancelou a exibição da mensagem do Dia do Trabalho em rede nacional. Veiculou-a nas redes sociais.
O então ministro Edinho Silva (Comunicação Social da Presidência) disse na época que Dilma não fugiu do horário nobre da tevê por medo das panelas. Ela “só está valorizando outro modal de comunicação. Já valorizou a rádio, valoriza todos os dias a comunicação impressa. E resolveu valorizar as redes sociais.” Dilma jamais seria vista novamente numa rede nacional.




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