A história vive atrás de algo capaz de resumir uma época. Os brasileiros
do futuro talvez escolham como um desses momentos marcantes a presença
de Lula nas galerias do Senado como espectador do discurso de autodefesa
de Dilma Rousseff no processo de impeachment.
Dirão que foi um momento histórico porque, assim como seu governo já
tinha cronologicamente acabado em dezembro de 2010, só então, cinco anos
e meio depois de Lula ter usado sua superpopularidade para içar Dilma à
poltrona de presidente da República, o mito foi mesmo enterrado.
Depois de passar à história como primeiro presidente a fazer a sucessora
duas vezes, Lula se reposiciona diante da posteridade como um criador
que foi desfeito pela criatura.
Seu estilo de governar manipulando opostos e firmando alianças tóxicas
financiadas à base de mensalões e petrolões se revelaria uma rendição à
oligarquia empresarial. A pseudoesperteza de vender uma incapaz como
supergerente produziu um conto do vigário no qual a maioria do
eleitorado caiu.
Restou a imagem de um Lula que — convertido em réu por um juiz da
primeira instância de Brasília e indiciado pela Polícia Federal em
Curitiba — vai às galerias do Senado na condição de detrito. Destituído
de seus superpoderes, apenas observa o derretimento de sua criatura. O
ex-mito virou um personagem hemorrágico.
RECEITA FEDERAL PUNE INSTITUTO LULA POR 'DESVIO DE FINALIDADE' — A
Receita Federal decidiu suspender a isenção tributária do Instituto Lula
do período de 2011 a 2014 por "desvios de finalidade" e cobrar imposto
de renda e contribuições sociais, além de multa milionária.
O fisco encerrou a investigação aberta em dezembro do ano passado sobre a
entidade, fundada em 2011 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um comunicado será enviado ao instituto nesta semana informando das cobranças.
A conta final está sendo fechada, mas deve ficar entre R$ 8 milhões e R$ 12 milhões.
A investigação sigilosa considerou as declarações entregues pelo instituto à Receita Federal.
A principal irregularidade identificada foi o repasse de R$ 1,3 milhão
para a empresa G4 Entretenimento, que tem como donos Fábio Luís, filho
do ex-presidente, e Fernando Bittar, proprietário do sítio em Atibaia
investigado por pertencer a Lula.
Para os técnicos, houve simulação de prestação de serviço pela G4
Entretenimento, como forma de mascarar a transferência de recursos da
entidade para o ex-presidente ou parentes, configurando o desvio de
funcionalidade.
Os auditores apontam também pagamentos sem destinatários e o aluguel de
um imóvel apontado como sede, mas que era diferente do endereço do
instituto, criado em 2011 em substituição ao antigo Instituto da
Cidadania, também ligado ao petista.
No mesmo período auditado, a entidade recebeu quase R$ 35 milhões em
doações, a maior parte de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato,
como Odebrecht e Camargo Corrêa.
O fisco questionou a origem desses recursos, como o dinheiro foi gasto e se as contribuições foram declaradas.
A suspeita era a de que o instituto tenha sido usado para lavar dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras.
Essa investigação está sendo conduzida pela Polícia Federal.
A Receita se limitou aos aspectos contábeis das irregularidades. Os
auditores pediram, por exemplo, explicações ao presidente do instituto,
Paulo Okamotto, do motivo que teria levado grandes construtoras a doarem
ao menos R$ 18 milhões.
Além disso, contestaram doações de duas entidades sem fins lucrativos
que, juntas, destinaram R$ 1,5 milhão ao instituto entre 2013 e 2014.
Diante desses elementos, a Receita concluiu que houve desvio de finalidade.
Inicialmente, chegou a avaliar uma cobrança de até R$ 22 milhões em cima
de um critério extremo que configuraria má-fé por parte da entidade.
Esse valor seria calculado sobre todos os recursos recebidos, ignorando as despesas declaradas à Receita.
No entanto, decidiu-se que a conta a ser cobrada, entre R$ 8 milhões e R$ 12 milhões, vai considerar os balanços.
A decisão da Receita não cancela a isenção fiscal do instituto para
depois de 2014, a não ser que novos indícios de irregularidades sejam
identificados a partir do ano-base de 2015.
PALESTRAS — A investigação da Receita não contemplou a empresa de palestras do ex-presidente, a LILS Palestras e Eventos.
Entre 2011 e 2015, o ex-presidente deu 70 palestras pagas por 41 empresas e instituições.
Segundo investigação da Operação Lava Jato, a LILS Palestras recebeu R$
21 milhões no período, sendo R$ 9,9 milhões de empreiteiras
investigadas.
O ex-presidente disse que era "remunerado de acordo com sua projeção internacional e recolhendo os devidos impostos".
OUTRO LADO — O presidente do instituto, Paulo Okamotto, disse à Receita
que a G4 Entretenimento prestou serviços gratuitamente para fazer sites
ligados ao instituto e em 2012 foi contratada para cuidar de toda a
parte digital da entidade.
Okamotto destacou que a empresa não foi a única prestadora de serviço e
que os valores foram declarados e os impostos, recolhidos.
O presidente da entidade argumentou ainda ao fisco que a missão do
instituto é promover a inclusão social, marca do governo do
ex-presidente Lula. O projeto seria replicar a experiência brasileira em
países da África.
Ele afirmou que as empreiteiras brasileiras têm obras no continente
africano e, por isso, tinham interesse em patrocinar programas sociais
por meio do instituto.
Os auditores quiseram saber então por que, até o momento, nenhum grande projeto foi levado adiante na África.
O presidente do instituto disse que a entidade está elaborando esses
projetos, mas que priorizou a organização do acervo de Lula.
Procurado pela reportagem para se manifestar sobre a ação do fisco, o
Instituto Lula respondeu, por meio de sua assessoria, que não recebeu
notificação sobre o assunto e negou que tenha havido desvio de
finalidade.
Declarou que, assim que for notificado oficialmente, vai esclarecer
qualquer mal compreendido da Receita sobre as atividades do instituto.
Informou ainda que a contratação da G4 Entretenimento foi para quatro projetos digitais diferentes ao longo de vários anos.
Além de projetos que estão no ar, cita mais de mil e-mails que
comprovariam a prestação do serviço e afirma que não houve repasse, mas
pagamento por serviços.
O Instituto Lula diz ainda que trabalha com cooperação de políticas
públicas e integração na América Latina, e não por projeto social
específico, e que já organizou eventos no Brasil e em outros países.
O instituto ainda lamentou o que chamou de "vazamento ilegal de documentos" sem ouvir a defesa do instituto por órgão oficial.
Veja a íntegra da nota do Instituto Lula:
O Instituto Lula sempre atuou e continua
atuando dentro de suas funções legais. A matéria divulgada na
segunda-feira (29.ago.2016) não cita nenhuma fonte de suas informações e
faz supor que teve acesso a relatórios confidenciais de posse exclusiva
de auditores da Receita. Nós não acreditamos que isso tenha ocorrido.
O Instituto Lula não recebeu qualquer notificação
da Receita Federal sobre as apurações que este órgão faz sobre nossas
contas e que foram respondidas regularmente em janeiro de 2016. Novas
informações foram solicitadas pela Receita recentemente e entregues na
última quinta-feira, 25 de agosto de 2016.
A matéria publicada, além de ser caluniosa, faz
crer que seria embasada por supostas informações que teriam sido obtidas
ilicitamente através de vazamentos seletivos que já se tornaram rotina
no Brasil. Não por acaso, a matéria é divulgada exatamente no dia do
depoimento da presidenta Dilma Rousseff no Senado Federal e com a
presença do ex-presidente Lula.
O Instituto Lula é uma instituição de “defesa dos
direitos sociais”, assim classificada pelo CNAE — Classificação Nacional
de Atividades Econômicas — sem qualquer fim lucrativo. Suas atividades
são realizadas graças a doações efetuadas por pessoas físicas e
jurídicas e através de acordos, parcerias e convênios que firma com
organismos multilaterais e organizações não governamentais de várias
partes do mundo.
Os objetivos principais do Instituto Lula são atuar
por uma maior integração entre os países da América Latina; estimular o
compartilhamento de experiências no combate à pobreza e à fome com os
países africanos e, ainda, a preservação do legado e da memória do
ex-presidente.
Para concretizar esses objetivos, criamos as
Iniciativas América Latina e África. Suas atividades consistem
principalmente em organizar encontros, seminários, viagens, debates,
pesquisas, estudos e reuniões para produzir, articular e divulgar as
políticas públicas e programas sociais brasileiros de combate à fome e à
miséria. O Instituto não trabalha com projetos assistenciais em nenhum
lugar do mundo. Seu objetivo central é a cooperação na área social e o
intercâmbio com experiências de outros países em desenvolvimento.
No âmbito do compartilhamento de experiências, está
no ar há mais de um ano o portal Brasil da Mudança
http://www.brasildamudanca.com.br/ , um compêndio em três línguas das
políticas públicas de sucesso no país. Em memória das lutas democráticas
do povo brasileiro, foi produzido o museu digital Memorial da
Democracia http://memorialdademocracia.com.br/
Todas as atividades do Instituto Lula são públicas,
nenhuma delas revela qualquer desvio de funções. Elas foram divulgadas
regularmente através do site do Instituto Lula
http://www.institutolula.org/ e de comunicados constantes à imprensa.
Cinco relatórios foram publicados em 2015 e 2016 onde constam todas as
atividades realizadas pelo Instituto desde a sua constituição e podem
ser lidos também no site do Instituto.
Relatório 25 anos: http://www.institutolula.org/uploads/institutolula2015.pdf
Relatório da Iniciativa África:
http://www.institutolula.org/conheca-as-atividades-e-leia-o-relatorio-da-iniciativa-africa-do-instituto-lula
Relatório América Latina: http://www.institutolula.org/relatorio-de-atividades-da-iniciativa-america-latina-do-instituto-lula
Atividades Internacionais: http://www.institutolula.org/relatorio-de-atividades-internacionais-do-instituto-lula
Projetos Digitais: http://www.institutolula.org/relatorio-dos-projetos-digitais-do-instituto-lula
O Instituto Lula não tem nenhum fim lucrativo,
portanto, todas as doações recebidas são utilizadas para custear suas
atividades e para pagar suas despesas correntes. Para realizar essas
atividades o Instituto Lula conta com o trabalho de um grupo de
colaboradores contratados regularmente pela CLT, com o apoio voluntário
de uma relação de estudiosos, pesquisadores e sindicalistas e através
dos serviços pontuais prestados por fornecedores. É exatamente o mesmo
modelo de dezenas de fundações e institutos similares que existem no
Brasil e no mundo, liderados por ex-presidentes da República ou
autoridades de renome.
O Instituto Lula jamais fez qualquer pagamento a
prestadores de serviços sem a identificação do seu destinatário. A
empresa G4 foi uma dessas fornecedoras. Ela prestou serviços em quatro
projetos digitais do Instituto e foi remunerada por isso. A
especificação destes serviços foi minuciosamente descrita para a Receita
Federal, esses trabalhos foram efetivamente realizados e pagos mediante
entrega de notas fiscais e tiveram seus impostos recolhidos
regularmente. Meses atrás, quando questionados por um veículo de
imprensa sobre a referida empresa, o Instituto Lula emitiu a seguinte
nota de esclarecimento:
http://www.institutolula.org/conheca-o-trabalho-da-g4-brasil-com-o-instituto-lula
O Instituto Lula entregou à Receita Federal em 21
de janeiro de 2016 todas as informações solicitadas sobre suas
movimentações financeiras de 2011 a 2014. No dia 25 de agosto passado
entregamos à Receita as respostas a novas indagações daquele órgão. Não
temos notícia do encerramento destas averiguações e não acreditamos que
esses dados tenham sido vazados para a imprensa, o que caracterizaria um
procedimento absolutamente ilegal. Tudo indica que estamos diante de
mais um ataque infundado ao ex-presidente Lula com o objetivo de causar
danos irreparáveis à sua imagem, ao se basearem em informações
incorretas que só tumultuam o processo de apuração.
LEI DÁ BENEFÍCIO FISCAL A ORGANIZAÇÕES —
A legislação tributária permite que
entidades sem fins lucrativos como institutos, fundações e organizações
não governamentais, fiquem isentas do pagamento do imposto de renda e de
contribuições sociais (PIS e Cofins).
O objetivo é estimular o trabalho social dessas
entidades e, no caso dos institutos e fundações, também ajudar na
preservação do "patrimônio cultural e histórico" dos acervos
presidenciais.
Mas, para isso, a legislação exige que as doações recebidas sejam "integralmente" aplicadas na própria entidade.
O fisco aceita que parte seja aplicada no mercado
financeiro, mas os recursos têm de voltar para a entidade, com pagamento
de impostos.
Há também a necessidade de recolher imposto e
contribuições sobre o salário pago a funcionários contratados ou
prestadores de serviço.
As despesas devem ser detalhadas para evitar
desvios de finalidade —quando a entidade é usada para favorecer seus
fundadores ou desempenhar atividades que nada tem a ver com seu
propósito.