sexta-feira, 5 de outubro de 2018



Os sem-voto tentam despolarizar a eleição presidencial



Henrique Meireles (MDB), Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT),
Guilherme Boulos (PSOL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede)
candidatos à Presidência da República que participaram do debate promovido pela TV Globo,
no Rio de Janeiro, na quinta-feira (04.out.2018).


Surgiu no último debate presidencial do primeiro turno um novo agrupamento político: o MSV, Movimento dos Sem Voto. Convertidos pelo eleitorado em coadjuvantes da corrida presidencial, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Henrique Meirelles e Alvaro Dias se uniram num esforço para tentar despolarizar a sucessão. Tarde demais. A tendência de definição da disputa é um mano a mano entre Jair Messias Bolsonaro e Fernando ‘Lula’ Haddad.
Lula e Bolsonaro, embora pairassem como espectros sobre os estúdios da Globo, não estavam presentes. O primeiro continua preso, em Curitiba. O segundo, beneficiado pelo álibi de um atestado médico, trocou o debate global por uma entrevista no telejornal da Record, emissora ligada ao bispo Edir Macedo, seu apoiador. Quem mudou de canal teve a oportunidade de assistir ao empenho de Bolsonaro para se manter no topo do ranking das opções anti-PT. Os médicos do Albert Einstein proibiram Bolsonaro de debater na Globo porque ele mal conseguiria falar por dez minutos. Na Record, o paciente tagarelou por 25 minutos. A cenografia incluiu três intervenções de um enfermeiro.
O PT “mergulhou o Brasil na mais profunda crise ética, moral e econômica”, atacou Bolsonaro. Na campanha, prosseguiu Bolsonaro, “tudo é conduzido de dentro da cadeia pelo senhor Lula, que indica aí um fantoche seu chamado Haddad, que por incompetência sequer conseguiu passar para o segundo turno de sua reeleição em São Paulo.”
As críticas à polarização ecoaram durante todo o debate da Globo — da pergunta inaugural às manifestações finais.
O ataque coletivo dos sem-voto aos dois extremos da polarização, especialmente a Bolsonaro, chegaram com pelo menos cinco anos de atraso. Deve-se a ascensão do capitão à falência do sistema político. A sociedade sinalizara sua impaciência ao ocupar o asfalto na célebre jornada de junho de 2013. O retrovisor mostra que os coadjuvantes de 2018 não entenderam o ronco do asfalto.
Ciro continuou massageando Lula. Aderiu à tese petista de que a condenação por corrupção e lavagem de dinheiro foi motivada por perseguição política.
A inação do PSDB diante do mergulho de Aécio Neves na lama da corrupção agravou e contaminou a credibilidade do tucanato paulista levando Bolsonaro a ocupar o posto de anti-PT — no trato com a corrupção, o pior tipo de excesso é o da moderação.
Marina tomou chá de sumiço depois da derrota de 2014. Logo ela, que fora a grande vítima da polarização tucano-petista da sucessão passada.
Difícil reverter a menos de 72 horas da eleição um sentimento de ódio e desalento que foi construído ao longo de cinco anos de reações equivocadas.
Mas, contudo, já podemos dizer que o próximo Presidente da República, seja ele quem for, ficará devendo sua vitória a Luiz Inácio Lula da Silva.



Jair Bolsonaro em recuperação em casa


Recuperando-se de duas cirurgias, Bolsonaro não leva sua campanha às ruas há quase um mês. Ele faz e acontece nas redes sociais. No mesmo período, Haddad voou de palanque em palanque como um drone guiado pelo controle remoto do padrinho-presidiário. Vai à cadeia uma vez por semana para receber orientações.
A rápida ascensão de Haddad nas pesquisas ateou medo no pedaço do eleitorado que tem aversão ao PT. Ao trombetear na TV o risco de Bolsonaro ser derrotado pelo petismo no segundo turno, o neonanico Geraldo Alckmin converteu o medo em pânico. A tática funcionou, só que o voto refratário à volta do PT migrou direto para Bolsonaro, sem fazer escala em Alckmin ou assemelhados. O eleitorado anti-PT antecipou para o primeiro turno a viagem que o conduziria ao colo de Bolsonaro.
O eleitor pobre, que o PT supunha ser cativo, começou a cair de amores por Bolsonaro. Meio zonzo, os petistas têm saudades do tempo em que o PT polarizava as disputas presidenciais com o PSDB. O PT sabia quais botões deveriam ser apertados para desnortear o tucanato. Agora, aguarda as instruções da cadeia.

Quem dissesse há um ano que Jair Bolsonaro chegaria às eleições de 2018 como um presidenciável competitivo corria o risco de ser internado como maluco. Pois aconteceu. Além de liderar as pesquisas do primeiro turno, Bolsonaro deixou de ser um azarão para o segundo turno. Até o mercado financeiro, que sonhava com alternativas mais previsíveis, já trata a eventual vitória de Bolsonaro como algo natural.
Bolsonaro chega às portas do Planalto depois de passar 27 anos na Câmara como um folclórico deputado do baixíssimo clero. O capitão formou com um general uma chapa puro-sangue militar. Cavalga um partido de fancaria, o PSL, que elegeu um deputado em 2014 e que, hoje, conta com uma bancada de oito deputados. O tempo de Bolsonaro no horário eleitoral é de 8 segundos.
Como explicar que tamanha precariedade tenha virado um sucesso? Deve-se o fenômeno à falência do sistema político. Bolsonaro é a resposta enraivecida do eleitorado aos defeitos da democracia brasileira — da blindagem de corruptos até a ineficiência de escolas e hospitais, passando pela falta de empregos. Um pedaço do eleitorado envia, por meio de Bolsonaro, um aviso aos caciques da política, entrincheirados no PT, no PSDB, no MDB e nos seus cúmplices. Eis o recado: a conta da desfaçatez chegou.

No próximo domingo, 07.out.2018, dia da eleição, Luiz Inácio Lula da Silva estará completando seis meses de prisão.
No momento, reina o pessimismo na monarquia carcerária de Curitiba. Após uma semana em que Lula discutira com Haddad a hipótese de antecipar o anúncio do próximo ministro da Fazenda, o petismo assiste ao avanço da infantaria de Bolsonaro sobre redutos tradicionais da estrela vermelha. Entre eles a região Nordeste. Na reta final do primeiro turno, só uma coisa sobe na planilha do candidato petista: o índice de rejeição.



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Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (04.out.2018) avaliou qual a opinião dos brasileiros sobre a melhor forma de governo: “democracia”, “ditadura” ou “tanto faz”.
O levantamento mostrou que 69% dos brasileiros acreditam que a democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo, contra 12% que acham que a ditadura é melhor em certas circunstâncias. Para 13%, tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura.
O índice de apoio à democracia, de acordo com a pesquisa, é o maior desde 1989.

A pesquisa também aponta:
  • Para 84% dos eleitores com ensino superior, a democracia é sempre a melhor forma de governo; o índice é de 72% entre os que têm ensino médio; 55%, com ensino fundamental.
  • A porcentagem de apoio à democracia entre as mulheres é de 67%, e, entre os homens, de 71%.
  • 74% dos eleitores mais jovens, de 16 a 24 anos, e 64% dos mais velhos, com mais de 60 anos, apoiam a democracia.
Sobre a pesquisa:
  • Margem de erro: 2 pontos percentuais para mais ou para menos
  • Entrevistados: 10.930 eleitores em 389 municípios
  • Quando a pesquisa foi feita: 3 e 4 de outubro de 2018
  • Registro no TSE: BR-02581/2018
  • Nível de confiança: 95%




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