9% dos brasileiros admitem ter pago propina no último ano, revela estudo britânico
Polícia é o serviço público mais citado pelos brasileiros como destino
dos subornos. Saúde, educação e governos locais também são alvo de
corrupção frequentemente, mostra estudo de dois pesquisadores britânicos.
Nove a cada cem brasileiros confessam que pagaram propina nos últimos 12
meses. Esse é o resultado de um estudo realizado por dois pesquisadores
britânicos das Universidades de Birmingham e Strathclyde que contou com
mais de 250 mil entrevistas em 119 países, sendo 1.500 no Brasil. A
polícia é quem mais recebeu dinheiro nessa corrupção do dia a dia e 4%
dos brasileiros reconhecem ter corrompido policiais no último ano.
Longe dos grandes casos de corrupção nacional investigados pela Justiça e
que envolvem autoridades e muitos milhões de reais, a vida do
brasileiro também parece próxima dos desvios de conduta. A pesquisa de
Caryn Peiffer, da Universidade de Birmingham, e de Richard Rose,
professor da Universidade de Strathclyde, revela que 9% dos brasileiros
reconhecem que pagaram propina no último ano. Ou seja, praticamente uma a
cada dez pessoas admite usar o suborno para obter vantagem.
Pagamento à polícia liderou no Brasil |
Após ouvir brasileiros nas cinco regiões do País, os pesquisadores
descobriram que a polícia é o principal alvo dessa conduta ilegal. Do
grupo de brasileiros, 4% admitiu que entregou algum dinheiro para
policiais em troca de favorecimento. A vida brasileira é repleta de
situações que abrem brechas para esse tipo de corrupção, como uma blitz
no trânsito, pedido proteção policial informal ou liberação por delito.
Em seguida, também foram alvo de propina no Brasil os serviços de saúde
(3% dos entrevistados), educação (2%), administração local – como
fiscais e alvarás (1%) e a Justiça (menos de 1%). A soma dos porcentuais
resulta em número maior que os 9% citados pelo estudo porque há
brasileiros que admitiram subornar em mais de um setor. A pesquisa se
transformou no livro “Paying Bribes for Public Services” publicado pela
Palgrave Macmillan na Inglaterra e sem previsão de lançamento no Brasil.
Burocracia dissemina propina, diz estudo |
Burocracia
Caryn Peiffer explica que não há razão única para a frequência das
propinas no Brasil. A pesquisadora explicou que vários fatores têm pesos
diferentes, mas todos ajudam a explicar o fenômeno. No caso brasileiro e
de outros países vizinhos, o excesso de burocracia pode ser uma
explicação. “A história burocrática de cada país importa. Nós entendemos
que países da América Latina que ganharam a independência da Espanha e
Portugal muito antes estabeleceram uma burocracia mais justa e hoje têm
menor ocorrência”, explicou.
Entre os demais fatores, está a facilidade e a qualidade do serviço
prestado pelas autoridades. “A disponibilidade de mais e melhores
serviços públicos, como saúde e educação, reduz a propina porque os
burocratas perdem sua influência”, diz Caryn. “A liberdade de imprensa
também torna mais difícil para autoridades esconderem casos e torna mais
fácil para que as pessoas denunciem”, completa.
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