domingo, 16 de setembro de 2018

Papa Emérito Bento XVI já sofria os sintomas de Parkinson antes de sua renúncia
doença pode ter contribuído para sua decisão



Novembro de 2017 — Bento XVI recebe a visita de teólogos em sua residência: apoio no andador


“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência perante Deus, cheguei à conclusão de que as minhas forças, devido a uma idade avançada, não são capazes de um adequado exercício do ministério de Pedro.” A frase, dita a cardeais pelo papa Bento XVI às 11h30min da manhã de 11 de fevereiro de 2013, ficou gravada na história por sua pungência e raridade: havia seis séculos que um pontífice não renunciava ao trono. O ato de Bento XVI chacoalhou uma Igreja assolada por denúncias contra prelados pedófilos e por escândalos financeiros, e logo levantou especulações de todos os tipos. Afinal, a fraqueza papal era por não suportar — ou não saber lidar com — a podridão de um clero corrupto e indecoroso? Ele estaria sendo vítima de chantagem de alguns cardeais? Não se sabe, mas certamente esses problemas incomodavam Joseph Ratzinger.
Havia, entretanto, outro percalço: Bento XVI sofre de Parkinson, e já sentia os sinais da doença quando renunciou. O Parkinson é um mal degenerativo crônico do sistema nervoso central que afeta brutalmente os movimentos. Ao renunciar, o papa tinha 85 anos. Está com 91.
Integrantes da Igreja próximos ao atual papa emérito, que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar publicamente sobre sua saúde, contam que sua rotina está mais limitada em razão da doença. Às 7h45min, logo depois de acordar, ele celebra missa em uma capela com capacidade para cerca de vinte pessoas. Durante a cerimônia, nos moldes pré-Concílio Vaticano II, de frente para a cruz no altar, sustenta-se de pé com a ajuda de assessores. Emenda a missa com o café da manhã, sempre frugal: pão, café, leite e fruta. Até a hora do almoço, passa o tempo lendo (sobretudo biografias de santos) ou respondendo a cartas de fiéis. Ele escreve a mão. Usa lápis curto, que lhe dá mais firmeza — pede que todos os lápis sejam cortados de forma a ficar quase da altura de sua mão. Tem hoje a letra miudinha, uma característica dos portadores da doença, que compromete a coordenação motora. Uma secretária alemã, que o assiste há anos, é uma das raras pessoas que entendem sua atual caligrafia e transcreve os escritos para o computador.



Junho de 2018 — Francisco, um dos mais assíduos na casa do papa emérito:
vida reclusa e limitada ao Vaticano


As pernas são a parte do corpo mais atingida pelo Parkinson até agora. Os passos são cada vez mais curtos e lentos. À medida que o caminhar se torna mais difícil, o paciente de Parkinson curva a cabeça e o tronco e passa a jogar o corpo para a frente. A flexão provoca um deslocamento do centro de gravidade, que resulta em desequilíbrio, e, por esse motivo, os tombos podem se tornar frequentes. Isso explica a foto, divulgada em outubro de 2017, em que Bento XVI aparecia com hematoma no olho direito. Era decorrência de uma queda dentro de casa.
Bento XVI no início usou praticamente só bengala. Hoje, precisa também de cadeira de rodas e andador — o produto, fabricado na Alemanha, é à prova de quedas. Ou seja, se houver aceleração no caminhar, o andador freará automaticamente. À tarde, quando não está chovendo nem fazendo muito frio, o papa emérito gosta de ir à gruta de Nossa Senhora de Lourdes, nos jardins do Vaticano, para rezar o terço. Mas percorre os cerca de 200 metros até o local a bordo de um carro de golfe, presente da Gendarmeria, a força militar da Santa Sé.
Os primeiros indícios do Parkinson surgiram um ano antes da renúncia, quando Bento XVI estava às vésperas de embarcar para uma viagem ao México e a Cuba. Em 23 de março de 2012, o pontífice apareceu no Aeroporto Fiumicino, em Roma, com visível difi­culdade de andar. Pela primeira vez, apoiava-se em uma bengala. Cumpriu todos os compromissos ao longo daquela semana, mas dava sinais de cansaço, tendo de se esforçar para caminhar. Na volta, segundo o próprio papa contou em uma entrevista quatro anos depois, ouviu de seu médico: “O senhor não pode mais atravessar o Atlântico”. No ano seguinte, teria de vir ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, um evento de relevo no calendário papal. Percebeu que não conseguiria mais. E começou a amadurecer a ideia de renunciar.



Dezembro de 2012 — O pontífice Bento XVI durante missa na Basílica de São Pedro:
plataforma móvel para percorrer 100 metros


Em abril daquele ano de 2012, o papa surpreendeu a quem acompanhava a missa celebrada por ele em uma das capelas do Vaticano. Desfiou na ocasião palavras de alta dramaticidade: “Eu me encontro diante do último trecho da jornada da minha vida e não sei o que me espera. Sei, no entanto, que a luz de Deus existe, que ele ressuscitou, que sua luz é mais forte do que qualquer escuridão”. Um segundo sinal contundente de sua fragilidade física se anunciaria em dezembro de 2012, na Basílica de São Pedro. O pontífice se movia pouco e chamou atenção por precisar de uma plataforma móvel, empurrada por auxiliares, para percorrer os 100 metros da ala principal da igreja.
Hoje, Bento XVI mora no convento Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. O edifício, de dois andares, tem cerca de 400 metros quadrados e decoração módica. Foi construído por seu antecessor, João Paulo II, para ser a residência de freiras de clausura de diversas nacionalidades e ordens, com o objetivo de apoiá-lo com orações. De tempos em tempos, os grupos de religiosas eram trocados. Mas em novembro de 2012, quando o prazo da estada da última congregação terminou, ainda no pontificado do papa alemão, a casa foi fechada para reforma. Ele planejava ir para lá depois da renúncia, decisão que já tomara.
A suspeita de que Bento XVI tinha uma doença degenerativa já circu­lava. Em 15 de fevereiro deste ano, Georg Ratzinger, irmão do papa emérito que mora na Alemanha, deu uma entrevista à revista alemã Neue Post depois de uma visita à residência de Bento XVI. “Meu irmão sofre de uma doença paralisante. O maior medo é que a paralisia possa, a dada altura, atingir seu coração. Aí tudo pode acabar rápido. Oro todos os dias por uma morte boa”, disse Georg. No mesmo dia, o Vaticano afirmou que a informação era “falsa”. No início deste ano, o próprio Bento XVI escreveu uma carta ao jornal italiano Corriere della Sera, em resposta aos inúmeros questionamentos de leitores sobre sua saúde. Disse sofrer um “lento declínio das forças físicas”.

A transparência não é o forte na comunicação do Vaticano. Um dos exemplos mais emblemáticos se deu nos derradeiros dias do papado de João Paulo II, morto em 2005, em decorrência de complicações também de Parkinson. A doença maltratava o corpo do pontífice polonês desde 1996, mas só seria nominada em 2001, por seu médico pessoal, numa entrevista à revista italiana Oggi. Na época, o Parkinson já estava tão avançado que João Paulo II mal conseguia mover o braço esquerdo e erguer a cabeça. O papa morreu sem que a Santa Sé tivesse confirmado oficialmente sua condição. Passada mais de uma década, ao questionar a imprensa do Vaticano sobre a doença de Bento XVI, obteve-se a seguinte resposta: “O papa emérito está bem. A sua ‘doen­ça’ são os seus 91 anos”.



Papa Francisco visita a Sicília e prega contra a máfia

Na Sicília, Papa Francisco diz que ‘mafiosos não vivem como cristãos’
Francisco foi a Palermo para oficiar uma missa de morte do padre
Pino Puglisi, sacerdote italiano considerado o primeiro mártir da máfia


Em missa realizada em Palermo, na região da Sicília, no sul da Itália, o Papa Francisco pregou contra a máfia e ressaltou que aqueles que a integram não vivem como cristãos, além de pedir que transformem sua postura.
Francisco esteve no local para oficiar uma missa por ocasião do 25° aniversário de morte do padre Pino Puglisi, sacerdote italiano considerado o primeiro mártir da máfia. Ele foi beatificado 20 anos após ser assassinado, em 15 de setembro de 1993, e hoje é um símbolo da luta contra o crime organizado na Itália.
“Não se pode acreditar em Deus e ser mafioso, quem é mafioso não vive como cristão, porque blasfema com a vida o nome de Deus”, afirmou Francisco na homilia, diante de dezenas de milhares de fiéis que se aglomeraram no grande gramado do Foro Itálico.
“Portanto, digo aos mafiosos: mudem, parem de pensar só em vocês mesmos e em seu dinheiro, transformem-se para o verdadeiro Deus, de Jesus Cristo. De outro modo, a própria vida de vocês estará perdida, e será a pior das derrotas”, acrescentou.
O pontífice lembrou que o padre Pino Puglisi morreu no dia em que completou 56 anos e que “coroou sua vitória com um sorriso”, em alusão ao fato de que o sacerdote, muito conhecido por tentar tirar jovens do crime organizado, sorriu para seu assassino quando o viu chegar e lhe disse que “o esperava”.
“Aquele sorriso não deixa seu assassino dormir à noite, que diz: ‘havia uma espécie de luz naquele sorriso”, afirmou. “O padre Pino sabia que se arriscava, mas sabia, sobretudo, que o verdadeiro perigo na vida é não arriscar e viver confortavelmente”, ressaltou Francisco, que pediu aos fiéis para esquecerem o egoísmo seguindo o exemplo do sacerdote.
O Papa destacou ainda que as pessoas não devem se deixar levar pelo ódio ou o rancor. “Precisamos de homens de amor, não homens de honra. De serviço, não de opressão. Se a litania mafiosa é ‘você não sabe quem eu sou’, a cristã é ‘tenho necessidade de Ti’, e se a ameaça mafiosa é ‘você me pagará’, a prece cristã é ‘Senhor, ajuda-me a amar”, disse Francisco.




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