Insistência em aplicar o mesmo método sempre, para aquecer economia, empurrou o Brasil para situação atual
O próximo sábado (15.set.2018) vai marcar dez anos de um momento crucial
para a economia global: a quebra do banco Lehman Brothers, considerada o
início oficial da crise originada na farra de financiamentos
imobiliários nos Estados Unidos, que, num efeito dominó, derrubou
mercados de todo o mundo. Por aqui, o tsunami foi apelidado de
“marolinha” pelo governo da época, após medidas de estímulo terem
amenizado a recessão. No entanto, uma década mais tarde, enquanto o
mundo surfa uma onda positiva, o Brasil ainda luta para se livrar de uma
das maiores crises de sua história. E a gênese dessa troca de papéis
pode estar precisamente no remédio aplicado pelo País em 2008.
O problema, segundo economistas, reside menos nas medidas tomadas há dez
anos — liberação de dinheiro de bancos públicos, cortes de impostos e
incentivo ao consumo — , mas na insistência em aplicar o mesmo remédio
sempre que a economia deu sinais de desaquecimento desde então. “Quando o
Brasil voltou a apresentar problemas, no início do governo Dilma
Rousseff, a equipe econômica dobrou a aposta. E repetiu o que foi feito
em 2008 e 2009, mas numa situação fiscal totalmente diferente”, diz
Samuel Pessôa, economista do Ibre/FGV.
Em outras palavras: a política econômica virou um “samba de uma nota
só”, levada no batuque da intervenção estatal. A crise de 2008 ajudou a
justificar essa fórmula de expansão, pois vários mercados maduros,
Estados Unidos à frente, endureceram a regulação e injetaram dinheiro na
economia, lembra o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
“A crise de 2008 foi, de certa forma, equivalente à queda do Muro de
Berlim. Se a queda do muro provou que o socialismo real tinha falido, a
crise financeira validou, para pessoas de um certo viés ideológico, que o
neoliberalismo teria falido”, compara.
A turbulência no mundo desenvolvido foi o pretexto para pôr em prática
uma posição que era latente no governo Lula desde 2006 — como indicou a
escolha de Guido Mantega para substituir Antonio Palocci no Ministério
da Fazenda. Do ponto de vista intelectual, a disposição do PT em fazer
do Estado o motor central da economia e o fato de a crise ter sido
originada na frouxa regulação bancária lá fora juntaram a “fome com a
vontade comer”, na visão de Simão Silber, professor da FEA/USP.
O governo, porém, não comprou sozinho a tese de que a intervenção era
necessária, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper e autor do
livro Capitalismo de Laços. “Virou uma cartilha de ação estatal, de
apoio e de promoção”, lembra. “Na época eu lembro de conversar com
empresários que diziam: ‘É isso mesmo, esse é o nosso modelo’. E
perguntavam: ‘você quer ser igual aos Estados Unidos’?”.
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