Nosso passado, nosso futuro.
O Brasil é um país civilizado da boca para fora. Insatisfeito em
aniquilar o futuro, o país já destrói até o seu passado. Nenhuma
sociedade chega a esse estágio do dia para a noite.
Há três meses, o Museu Nacional, situado no Rio de Janeiro, fez
aniversário de 200 anos. Hoje, trava-se uma guerra ideológica em torno
de suas cinzas. Prolifera-se um fenômeno típico nacional: o jogo de
empurra. Repete-se: a lamentação depois do fato.
Não é hora de buscar culpa específica. Há culpa estrutural, um projeto
que não atenta à preservação. No país do ‘faturo’, até o passado é
exterminado.
Há no Brasil pouco mais de 3.100 museus cadastrados. A maioria é
pública: 67%. O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista antes de virar
cinzas, fora fechado ao público por um período, em 2015, faltou dinheiro
até para a limpeza. O Museu do Ipiranga, custeado pelo governo de São
Paulo, foi fechado para reformas em 2013, caía aos pedaços, só será
reaberto em 2022.
A entrada do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista após o incêndio |
Os recursos federais recebidos pelo Museu Nacional da Quinta da Boa
Vista no Rio de Janeiro, destruído pelo incêndio, caíram praticamente à
metade nos últimos cinco anos: de R$ 1,3 milhão, em 2013, para R$ 643
mil, no ano passado. De janeiro a agosto deste ano, os repasses federais
para o museu foram de R$ 98 mil.
O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, subordinado à Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), passava por dificuldades diante do
corte de verbas para sua manutenção. O museu recebeu da UFRJ R$ 54 mil
em quatro meses, entre janeiro e abril deste ano, para as despesas com
manutenção. Tinha sinais visíveis de má conservação, como paredes
descascadas e fios elétricos expostos.
Até agosto, o Museu Nacional recebera R$ 28 mil para “funcionamento”, R$
17 mil para “reestruturação” e R$ 51,8 mil para bolsas de estudos. Nada
mais.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) gastou somente nos sete
primeiros meses em 2018 mais de R$ 1,8 bilhão em salários de servidores
(ativos e inativos). São 25.028 servidores da UFRJ, cada um já custou
cerca de R$ 72 mil este ano, em média. Não se sabe quantos estão lotados
no Museu Nacional.
Em 2017, a folha da UFRJ consumiu mais de R$ 3,2 bilhões. Em 2016, foram
R$ 2,96 bilhões em salários e R$ 519,5 mil para manutenção do Museu
Nacional.
Só em 2017 o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista recebeu 192 mil
visitantes, que pagaram ingressos entre 4 e 20 reais. Não se conhece o
destino dessa receita.
Quando a UFRJ recorreu ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) em busca de recursos para a restauração do Museu
Nacional, esqueceu-se de um item tão básico quanto obrigatório para a
segurança do prédio e do acervo: um sistema de prevenção e combate a
incêndios.
Esse tópico simplesmente não existia no projeto originalmente
protocolado no banco. E o relatório de análise do BNDES constatou que o
Museu estava “irregular no que diz respeito às licenças emitidas pelo
Corpo de Bombeiros”.
O comitê de enquadramento e crédito do BNDES exigiu que o projeto fosse
refeito pela UFRJ para incluir o item para que o dinheiro fosse liberado
— um total de R$ 21,3 milhões, que foram aprovados em junho.
Após essa determinação do BNDES, a UFRJ teve que modificar o projeto e obter novas aprovações no Ministério da Cultura (MinC).
Incêndio no Museu Nacional: O Acervo Perdido
Imagens mostram o primeiro andar do
Museu Nacional após o incêndio
Museu Nacional após o incêndio
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