quarta-feira, 10 de junho de 2015


Velas abertas no oceano cósmico!

O veleiro solar LightSail-A, da ONG Planetary Society, acaba de concluir a transmissão de sua primeira imagem diretamente do espaço, com as velas abertas. A foto é basicamente a declaração mais eloquente de sucesso que os engenheiros e cientistas poderiam ter. E é uma beleza de se ver.

As velas do LightSail abertas no espaço, sob a luz do Sol, em imagem 
transmitida na terça-feira (09.jun.2015)

A missão passou por momentos de emoção antes da abertura dos painéis solares, o contato com o pequeno satélite foi interrompido por um problema com as baterias, frustrando os planos de abrir as velas como originalmente planejado. A comunicação voltou e o cubesat (de apenas 10 x 30 cm) foi comandado a içar as velas. Foi detectada a telemetria dos motores executando a operação, mas somente com uma imagem seria possível confirmar  o sucesso. Na segunda-feira (08.jun.2015) já havia uma pista boa, com uma imagem parcial, e na tarde de terça-feira (09.jun.2015) a imagem completa revelou a abertura bem-sucedida!
Agora, o que era um satélite do tamanho de um pão de forma é uma pipa com 5,6 metros de lado voando acima da Terra. O aumento de área fez duas coisas: tornou possível observar o LightSail a olho nu quando ele passa por cima de cidade logo após o pôr do Sol ou antes do nascente e aumentou brutalmente o arrasto atmosférico, de forma que ele deve decair de sua órbita e reentrar na atmosfera terrestre em poucos dias. Mas com a missão cumprida.

LUZ QUE EMPURRA
Um veleiro solar funciona usando a luz que vem do Sol como propulsão. Cada partícula de luz produz um empurrão muito suave nas superfícies que toca, e se a superfície for suficientemente grande, e a nave suficientemente leve, isso é o que basta para obter aceleração para viajar pelo espaço, uma vez que se vence o poderoso campo gravitacional da Terra.
É um empurrãozinho de nada, é verdade, mas a vantagem é que ele é sempre constante — o Sol não para nunca de brilhar. Combustível é desnecessário para acelerar o veículo. Então, imagine um empurrãozinho agindo durante meses e anos, aumentando gradualmente a velocidade da nave. Com habilidade e controle, é possível levá-la a qualquer parte do Sistema Solar (claro, tudo vai ficando mais difícil conforme se afasta do Sol, e o nível de luz diminui, mas ainda assim é teoricamente possível ir bem longe desse jeito).
Honestamente, os veleiros movidos a luz são hoje a única tecnologia conhecida que pode de fato realizar missões interestelares — ou seja, capazes de atravessar num tempo razoável a distância entre o Sol e as estrelas mais próximas. Alguns conceitos de missões (tripuladas e não-tripuladas) até as estrelas mais próximas com veleiros já chegaram a ser rascunhados (eles envolviam, além do veleiro em si, poderosos lasers espaciais para focar a luz sobre a vela quando ela já estivesse bem longe do Sol). Mas, claro, tudo isso ainda está muito longe de nossa capacidade de engenharia atual. De toda forma, são uma luz no fim do túnel no espinhoso problema do voo interestelar, e missões como a LightSail são um passo na direção certa para demonstrar conclusivamente o potencial dessa tecnologia.
Nesse lançamento inicial, os sistemas do veleiro foram testados, mas ainda não produziram efetiva navegação por luz. Como o cubesat foi colocado numa órbita baixa, o arrasto provocado pela atmosfera terrestre sobre a grande superfície das velas é maior do que qualquer propulsão que ele possa obter. A proposta nesse primeiro momento era testar a capacidade de abrir as velas no espaço e controlar a orientação do veículo. No ano que vem deve voar o LightSail para valer, que usará suas velas para efetivamente navegar por luz.


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