Revelações vão “chocar o país”, diz Youssef
Doleiro quer entregar os documentos que
guardou em um lugar seguro por mais de uma década e que seriam as provas
definitivas contra os corruptos e corruptores que atuavam na Petrobras
Alberto Youssef |
Durante muito tempo, o doleiro Alberto Youssef e o engenheiro Paulo
Roberto Costa formaram uma dupla de sucesso nos subterrâneos do governo.
Enquanto Paulo Roberto usava suas poderosas ligações com os altos
escalões do poder e o cargo na diretoria de Abastecimento da Petrobras
para desviar milhões dos cofres da estatal, Youssef encarregava-se de
gerenciar a bilionária máquina de arrecadação que era usada para
abastecer uma trinca de partidos e corromper políticos importantes.
Paulo Roberto era o articulador, o cérebro da organização. Youssef, o
caixa, o banco. Um apontava os caminhos para assaltar a estatal. O outro
era o encarregado dos malabarismos contábeis para fazer o dinheiro
chegar aos destinatários da maneira mais segura possível, sem deixar
rastros. Em março deste ano, quando a Polícia Federal deflagrou a
Operação Lava-Jato, que tinha o objetivo de desarticular um esquema de
lavagem de dinheiro, a dupla caiu na rede. O que ninguém imaginava — nem
mesmo os policiais — é que, a partir das informações dadas pelos dois
criminosos, uma monumental engrenagem de corrupção, talvez a maior de
todos os tempos, começaria a ruir.
Paulo Roberto Costa, o primeiro a assinar o acordo de delação com a
Justiça, entregou às autoridades o nome de mais de trinta políticos
envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras, entre eles três
governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25
deputados federais, além de Antonio Palocci, o coordenador da campanha
presidencial de Dilma Rousseff em 2010, que pediu 2 milhões de reais ao
esquema. O ex-diretor forneceu o nome dos corruptos que se locupletavam
do dinheiro desviado e das empreiteiras que contribuíam com a
arrecadação da propina — um golpe já considerado letal na estrutura da
organização criminosa. Se as revelações do ex-diretor — muitas ainda
desconhecidas — já provocaram um cataclismo, o que está por vir promete
um efeito ainda mais devastador. Alberto Youssef, o caixa, decidiu
seguir o parceiro e contar o que sabe. E, nas palavras do próprio
doleiro, o que ele sabe “vai chocar o país”.
Além de confirmar que o dinheiro desviado da Petrobras era usado para
sustentar três dos principais partidos da base aliada — PT, PMDB e PP —,
Youssef se colocou à disposição para fechar o elo da cadeia de
corrupção, fornecendo as contas no exterior, as datas de remessa e os
valores repassados a políticos e autoridades que ele tinha como
clientes. Youssef disse às autoridades que, durante o tempo em que
operou o banco da quadrilha, por quase uma década, tomou o cuidado de
esconder em um local seguro documentos que mostram a origem e o destino
das cifras bilionárias que movimentou. É o que ele garante ser a
verdadeira contabilidade do crime — um inventário que está escondido em
um cofre ainda longe do alcance das autoridades brasileiras. O acervo é
tão completo que incluiria até os bilhetes das viagens que demonstrariam
o que os investigadores já apelidaram de “money delivery”, o dinheiro
entregue em domicílio.
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