Por gratificação salarial, juízes federais param processos
Juízes federais de ao menos três Estados usaram suas decisões judiciais
para pressionar o governo a lhes conceder um benefício salarial. Fazendo
criticas à presidente Dilma Rousseff e dizendo receber menos que
procuradores da República, os magistrados suspenderam a tramitação de
processos e exigiram a regulamentação de um adicional para liberar o
andamento de ações.
A reportagem teve acesso a dez decisões judiciais, proferidas por cinco
juízes, em que eles explicitam a briga. Os magistrados dizem que a
presidente Dilma fez cortes no orçamento do Judiciário e vetou o chamado
"adicional por acúmulo de função", que é pago aos membros do Ministério
Público Federal.
A ação dos magistrados é coordenada pela Ajufe (Associação dos Juízes
Federais do Brasil). A entidade orientou filiados a deixarem de decidir
processos que não fazem parte de seu acervo primário, ou seja, que
pertenceriam a um juiz substituto que ainda não foi nomeado.
Com a orientação, parte dos magistrados parou de trabalhar com o "acervo extra".
Na quinta-feira (09.out.2014), uma juíza de Petrópolis escreveu num
despacho que ela, ou "qualquer trabalhador", não é obrigado a atuar "sem
retribuição adequada". Disse ainda que o trabalho forçado não é
admitido no Brasil. Afirmou que "a união se enriquece ilicitamente" com
seu trabalho há anos, pois ela "acumula acervos de forma graciosa, sem
remuneração [extra]".
No Brasil, um juiz federal ganha R$ 25,2 mil de salário e outros R$ 4,3 mil na forma de auxílio-moradia.
As frases da juíza foram copiadas de outra decisão de um magistrado da
Justiça Federal do Rio de Janeiro. Ao menos três juízes usam exatamente
os mesmos termos para pressionar por aumento ou pela imediata nomeação
de um juiz substituto para suas Varas.
Além do Rio, há decisões no Pará e no Acre, onde juízes citam
expressamente a Ajufe para justificar a suspensão de processos. A
reportagem também identificou ações paralisadas no Distrito Federal,
mas, nos despachos, é dito somente que o presidente do Tribunal Regional
Federal recebeu uma lista de juízes que não irão mais decidir casos que
seriam de juízes substitutos.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcus Vinícius
Côelho, criticou a atuação dos juízes. "É como se um militar se negasse a
acender um canhão dizendo que seu soldo é pequeno. Não se pode
condicionar decisões da Justiça a reajustes salariais".
Questionado sobre o caso, o corregedor da Justiça Federal, ministro
Humberto Martins, disse que irá atuar contra este tipo de paralisação.
"Vou cobrar os corregedores regionais para que adotem providências
quanto aos juízes. Não se pode condicionar o andamento de processos a
gratificações ou auxílios."
O presidente da Ajufe, Antônio César Bochenek, disse que, mesmo nos
processos de acervos extras, casos urgentes são decididos. "Não somos
irresponsáveis e não queremos prejudicar o cidadão, mas também não
podemos trabalhar sem contraprestação."
Ele ainda destacou que que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em
2011, garantiu a simetria entre magistrados e o Ministério Público. Por
isso, se há gratificação para procuradores também deveria haver para
juízes federais.
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