Doleiro diz que virou representante do PP em contatos com empreiteiras
Youssef acusa executivos da Camargo
Corrêa de receberem “comissão” por vendas a alvo da Lava Jato; dinheiro
era sacado em espécie em seu escritório
Alberto Youssef |
O doleiro Alberto Youssef revelou que após a morte do deputado federal
José Janene (PP-PR), em 2010, passou a ser o representante do PP nas
negociações com as empreiteiras contratadas pela Petrobrás, alvo dos
desvios investigados na Operação Lava Jato, que abasteceram, além do
partido, o PT e o PMDB e serviu de caixa-2 na campanha eleitoral de
2010.
O doleiro afirmou ainda que diretores de grandes construtoras também
recebiam parte da propina. As revelações de Youssef feitas na Justiça
Federal, em Curitiba, na quarta-feira (08.out.2014), complicam o grupo
Camargo Corrêa, que detém grandes contratos com a Petrobrás. “Na
verdade, a Camargo Corrêa me devia R$ 2 milhões que o próprio
vice-presidente e o presidente me pediram que adiantasse a agentes
políticos e ao Paulo Roberto Costa e que posteriormente vinha e resolvia
os pagamentos. E depois foi empurrando com a barriga e eu estava
nervoso”, explicou Youssef ao ser questionado sobre uma troca de e-mail
entre ele e outro denunciado no processo.
Questionado pelo juiz sobre quem ele falava, respondeu “Dalton e Eduardo
Leite”, respondeu Youssef, referindo-se a Dalton dos Santos Avancini e
Eduardo Hermelino Leite, executivos da construtora. Na troca de
mensagem, Youssef mencionou “tanto dinheiro que demos para esse cara”, e
o juiz da lava Jato quis saber de quem ele falava. “Do Eduardo Leite.
Por conta das vendas de tubos que fazíamos para a Camargo Corrêa ele
também recebia parte do comissionamento da Sanko, tanto ele como o
diretor Paulo Augusto (Silva), das vendas da Sanko”, acusou o doleiro.
Questionado pelo juiz, ele afirmou que era ele quem pagava a propina.
“Eu fazia o pagamento. Em dinheiro vivo”, explicou. Buscando detalhes
Moro perguntou como ele depositava o dinheiro. “Não, ele retirava no meu
escritório”.
Segundo o doleiro, esse comissionamento era dividido entre Costa, ele e
dois executivos da construtora. O doleiro explicou que especificamente
da Camargo Corrêa foram pagos R$ 9 milhões como comissionamento a
Youssef pela intermediação das vendas da Sanko. “Isso não tem a ver com
repasses que iam para os partidos”, explicou ele ao afirmar que além dos
repasses de caixa-2 aos partidos, os envolvidos nos contratos retiravam
“comissões” dos negócios.
Pela primeira vez depondo formalmente à Justiça como parte do acordo de
delação premiada, Youssef explicou como funcionava os desvios da
Petrobrás via contrato da Camargo Corrêa, nas obras da Refinaria Abreu e
Lima, que usava o consórcio CNCC para executar os serviços.
“Toda empresa maior já sabia que qualquer obra que fosse fazer na área
de Abastecimento da Petrobrás ela tinha que pagar o pedágio de 1%”,
afirmou. A diretoria foi ocupada de 2004 a 2012 por Costa, por indicação
do PP.
“Vou explicar para a vossa excelência. O contrato é um só, uma obra da
Camargo Corrêa, R$ 3.400.000.000,00, tá certo? R$ 34 milhões ela tinha
que pagar por aquela obra para o PP. Eu era responsável por essa parte. A
outra parte eu não era responsável. Ele tinha que pagar mais 1% ou 2%
como Paulo Roberto está dizendo, para outro operador, que no caso era
João Vaccari, assim diziam”, explicou o doleiro que faz a confissão para
tentar uma redução de pena.
Segundo ele, na diretoria de Engenharia e Serviço também havia o
esquema, mas que esse era operacionalizado por João Vaccari Neto,
tesoureiro do PT. “Se a Engenharia cobra mais que 1% para mim é uma
novidade, para mim eles também cobravam 1% e não 2%. Se o doutor Paulo
Roberto está dizendo que cobram 2%, ele deve saber mais que eu”.
Todos contratos direcionados para uma lista de 13 grandes empreiteiras
que agiam em cartel, segundo Youssef, combinando os processos
licitatórios entre elas, por ordem dos políticos e diretores da estatal.
“Ela não fazia a obra se ela não pagasse. Era coloca isso para a
empresa”. Ele citou os nomes das empresas e quem eram os contatos com
quem ele se reunia para acertar os pagamentos de propina.
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