sexta-feira, 10 de outubro de 2014


Doleiro diz que virou representante do PP em contatos com empreiteiras
Youssef acusa executivos da Camargo Corrêa de receberem “comissão” por vendas a alvo da Lava Jato; dinheiro era sacado em espécie em seu escritório

Alberto  Youssef
O doleiro Alberto Youssef revelou que após a morte do deputado federal José Janene (PP-PR), em 2010, passou a ser o representante do PP nas negociações com as empreiteiras contratadas pela Petrobrás, alvo dos desvios investigados na Operação Lava Jato, que abasteceram, além do partido, o PT e o PMDB e serviu de caixa-2 na campanha eleitoral de 2010.

O doleiro afirmou ainda que diretores de grandes construtoras também recebiam parte da propina. As revelações de Youssef feitas na Justiça Federal, em Curitiba, na quarta-feira (08.out.2014), complicam o grupo Camargo Corrêa, que detém grandes contratos com a Petrobrás. “Na verdade, a Camargo Corrêa me devia R$ 2 milhões que o próprio vice-presidente e o presidente me pediram que adiantasse a agentes políticos e ao Paulo Roberto Costa e que posteriormente vinha e resolvia os pagamentos. E depois foi empurrando com a barriga e eu estava nervoso”, explicou Youssef ao ser questionado sobre uma troca de e-mail entre ele e outro denunciado no processo.

Questionado pelo juiz sobre quem ele falava, respondeu “Dalton e Eduardo Leite”, respondeu Youssef, referindo-se a Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Hermelino Leite, executivos da construtora. Na troca de mensagem, Youssef mencionou “tanto dinheiro que demos para esse cara”, e o juiz da lava Jato quis saber de quem ele falava. “Do Eduardo Leite. Por conta das vendas de tubos que fazíamos para a Camargo Corrêa ele também recebia parte do comissionamento da Sanko, tanto ele como o diretor Paulo Augusto (Silva), das vendas da Sanko”, acusou o doleiro.

Questionado pelo juiz, ele afirmou que era ele quem pagava a propina. “Eu fazia o pagamento. Em dinheiro vivo”, explicou. Buscando detalhes Moro perguntou como ele depositava o dinheiro. “Não, ele retirava no meu escritório”.

Segundo o doleiro, esse comissionamento era dividido entre Costa, ele e dois executivos da construtora. O doleiro explicou que especificamente da Camargo Corrêa foram pagos R$ 9 milhões como comissionamento a Youssef pela intermediação das vendas da Sanko. “Isso não tem a ver com repasses que iam para os partidos”, explicou ele ao afirmar que além dos repasses de caixa-2 aos partidos, os envolvidos nos contratos retiravam “comissões” dos negócios.

Pela primeira vez depondo formalmente à Justiça como parte do acordo de delação premiada, Youssef explicou como funcionava os desvios da Petrobrás via contrato da Camargo Corrêa, nas obras da Refinaria Abreu e Lima, que usava o consórcio CNCC para executar os serviços.

“Toda empresa maior já sabia que qualquer obra que fosse fazer na área de Abastecimento da Petrobrás ela tinha que pagar o pedágio de 1%”, afirmou. A diretoria foi ocupada de 2004 a 2012 por Costa, por indicação do PP.

“Vou explicar para a vossa excelência. O contrato é um só, uma obra da Camargo Corrêa, R$ 3.400.000.000,00, tá certo? R$ 34 milhões ela tinha que pagar por aquela obra para o PP. Eu era responsável por essa parte. A outra parte eu não era responsável. Ele tinha que pagar mais 1% ou 2% como Paulo Roberto está dizendo, para outro operador, que no caso era João Vaccari, assim diziam”, explicou o doleiro que faz a confissão para tentar uma redução de pena.

Segundo ele, na diretoria de Engenharia e Serviço também havia o esquema, mas que esse era operacionalizado por João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. “Se a Engenharia cobra mais que 1% para mim é uma novidade, para mim eles também cobravam 1% e não 2%. Se o doutor Paulo Roberto está dizendo que cobram 2%, ele deve saber mais que eu”.

Todos contratos direcionados para uma lista de 13 grandes empreiteiras que agiam em cartel, segundo Youssef, combinando os processos licitatórios entre elas, por ordem dos políticos e diretores da estatal. “Ela não fazia a obra se ela não pagasse. Era coloca isso para a empresa”. Ele citou os nomes das empresas e quem eram os contatos com quem ele se reunia para acertar os pagamentos de propina.

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