O tesoureiro do esquema
João Vaccari Neto, apontado pelo delator
como o operador do PT na corrupção da Petrobras, também é acusado pelo
MP de São Paulo de lesar uma cooperativa habitacional
O secretário nacional de finanças do PT, João Vaccari Neto, é admirado
pelos companheiros pela dedicação ao partido. Dizem que ele não mede
esforços para cumprir as missões que recebe. Foram essas características
de fidelidade e resignação partidárias que o levaram a substituir
Delúbio Soares e a desempenhar o papel de tesoureiro informal das
campanhas de Dilma Rousseff. Assim, passou a transitar facilmente entre
empresários interessados em estreitar relações com o partido que comanda
o País há 12 anos. Homem de confiança de José Dirceu, símbolo maior do
mensalão, e do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini,
Vaccari é discreto, avesso a badalações e grandes eventos. Mas, segundo
as revelações relacionadas ao escândalo da Petrobras, ele tem função
destacada no submundo da política, onde atuaria há anos com grande
desenvoltura – especialmente com a missão de abastecer o caixa 2 da
legenda nas campanhas eleitorais. Na semana passada, o depoimento à
Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa detalhou como o
tesoureiro do Partido dos Trabalhadores agiu na divisão dos recursos
desviados de contratos da Petrobras.
HOMEM DE CONFIANÇA - Como Delúbio Soares, Vaccari é admirado pela fidelidade aos amigos e ao partido |
Segundo Costa, o PT tinha direito aos 2% dos contratos. As licitações da
área de abastecimento seriam conduzidas pela diretoria de serviços,
comandada por Renato Duque, indicado pelos petistas para o cargo e amigo
de Vaccari. “Todas as licitações da área de abastecimento eram feitas
na diretoria de serviços, que escolhe as empresas, coordena a comissão
de licitação e faz o orçamento básico”, explicou. “Dentro da área de
serviços, tinha o diretor Duque, que foi indicado na época pelo ministro
da Casa Civil, José Dirceu. Ele tinha essa ligação com o Vaccari dentro
desse processo do PT”, relatou Paulo Roberto. De acordo com o
depoimento dado pelo ex-diretor, o PT recebia ainda mais das outras
diretorias da estatal, que repassavam 3% dos contratos para o PT e ainda
pagavam o PMDB e o PP. A cobrança da cota petista seria feita
diretamente por Vaccari. Como fizeram todos os mensaleiros, ele nega
tudo. Em nota, disse que nunca tratou sobre contribuições financeiras do
partido, ou de qualquer outro assunto, com Paulo Roberto Costa. Reclama
que não tem acesso ao processo e não consegue exercer o direito à ampla
defesa. O secretário insiste ainda que as contribuições financeiras
recebidas pelo PT são transparentes e realizadas sempre de acordo com a
legislação em vigor.
Não é bem assim. O escândalo do mensalão mostrou que distribuir recursos
para partidos da base aliada e, claro, para o próprio PT, não é uma
novidade. Vaccari chegou a ser citado no auge das investigações do
mensalão, que levou alguns dos seus companheiros mais próximos para a
cadeia. Segundo o depoimento do corretor de fundos Lúcio Funaro, dado
durante as investigações, em 2004 Vaccari o recebeu na sede da Bancoop –
cooperativa de crédito habitacional que à época era presidida por ele –
e explicou ao corretor interessado em fazer negócios nos fundos de
pensão que era preciso pagar propina ao PT em qualquer contrato fechado.
O depoimento consta no processo, mas Vaccari não chegou a ser indiciado
porque o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no Supremo
Tribunal Federal, entendeu que não era a Bancoop que irrigava o
mensalão.
O PADRINHO - O ministro Ricardo Berzoini é um dos responsáveis pelo prestígio de Vaccari no PT |
Como já foi reportado, embora não tenha sido envolvida oficialmente na
ação penal do mensalão, a cooperativa habitacional é investigada em
outro processo, que apura a prática de corrupção durante a gestão de
Vaccari. Segundo denúncia feita em 2007 pelo Ministério Público de São
Paulo, desde 2002 a Bancoop lesou cerca de três mil mutuários e foi
usada pelo PT para desvio de dinheiro para financiamento de campanhas
eleitorais, especialmente a do ex-presidente Lula, em 2002. Os desvios
eram feitos para empresas fantasmas em nome de laranjas do partido e
depois distribuídos oficialmente para o PT. Tudo sob o comando de
Vaccari. Como as operações deram resultado e o chefe da Bancoop tem
respondido sozinho pelas denúncias, em 2010 Vaccari acabou recompensado
pelos companheiros. Deixou a cooperativa para assumir o prestigiado
cargo de tesoureiro da legenda. A denúncia do Ministério Público afirma
que os desvios causaram um rombo de R$ 170 milhões e pede que os
responsáveis paguem a conta com recursos do próprio bolso.
A ação penal protagonizada por Vaccari tramita até hoje na 5ª Vara
Criminal de São Paulo, ainda sem um desfecho. Em agosto deste ano, o
julgamento foi retomado e a expectativa dos mutuários é de que o
processo finalmente seja concluído nos próximos meses. De acordo com as
acusações, o secretário de finanças do PT cometeu crimes em série, como
formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de
dinheiro. A gestão do homem forte do partido na Bancoop também deixou
para trás cerca de mil processos movidos por associados que alegam terem
sido lesados pelas fraudes. Enquanto isso, nos bastidores, Vaccari
segue firme e prestigiado dentro da legenda que ele ajuda a enriquecer. O
problema para ele é que quando o processo da Petrobras chegar ao fim é
possível que não seja mais um réu primário.
DENÚNCIA - Em 11 de junho de 2008, ISTOÉ revelou o esquema de João Vaccari e Ricardo Berzoini na Bancoop |
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