Paulo Roberto Costa declarou à
Justiça Federal que esquema financiou campanhas das três
siglas nas eleições de 2010
Esquema irrigou campanhas do PT,
PMDB e PP, diz ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto Costa |
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa,
revelou à Justiça Federal na quarta-feira, 08.out.2014, em seu
primeiro depoimento à Justiça após ter feito um acordo de delação
premiada, que pagou propinas a três partidos políticos “grandes” – o
PT, o PMDB e o PP – para financiar a campanha eleitoral das siglas
em 2010. Ano em que foram disputadas eleições para presidente,
governadores e deputados.
Costa disse que foi indicado para o cargo pelo ex-deputado José
Janene (PP-PR), em 2004, com a missão de montar um esquema de
pagamento de propinas para políticos. Ele afirmou que a propina para
os partidos era dividida na base de 1% para um e 2% para outro –
sobre valores superfaturados de contratos da Petrobrás com
empreiteiras e fornecedores.
O ex-diretor, que fez delação premiada ao Ministério Público
Federal, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal, declarou na audiência que o esquema financiou a
campanha eleitoral de 2010.
Ele não pôde dizer, em seu relato, os nomes de políticos que teriam
recebido dinheiro de corrupção. “Muita gente”, ele disse. A
competência para investigar ou processar parlamentares é exclusiva
do Supremo Tribunal Federal, por isso ele não pode citar os nomes à
Justiça Federal.
Costa depôs durante cerca de duas horas no processo da Operação Lava
Jato em que é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro desviado
das obras da refinaria Abreu e Lima.
Deflagrada em março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato
descobriu um esquema de desvio de dinheiro da Petrobras que envolveu
Costa, doleiros e fornecedores da estatal. Segundo a PF, uma
"organização criminosa" atuava dentro da empresa. O esquema teria
movimentado R$ 10 bilhões.
O ex-diretor apontou os nomes de outros três diretores da Petrobrás
que, segundo ele, faziam parte do esquema. Afirmou que recebeu
“pessoalmente de Sérgio Machado (presidente da Transpetro) a quantia
de R$ 500 mil.” Também citou José Eduardo Dutra, atual diretor da
Petrobras e ex-presidente da BR Distribuidora, como participante dos
esquemas do grupo. Dutra também presidiu o PT.
Ele afirmou que em “outras diretorias” da Petrobrás também havia
esquema de propinas. “Havia um esquema de grupos atuando na
Petrobrás, cada um com seus interesses, cada um com seu operador.”
Segundo Paulo Roberto, três ex-diretores da Petrobras fizeram parte
do esquema: Nestor Cerveró, Jorge Zelada e Renato Duque.
Sobre a participação de políticos, ele disse. “Os líderes estão fora
desse processo, são agentes políticos, não são as empresas”.
Segundo Costa, as empreiteiras e fornecedores “estavam submetidas
até à quebra se não pagassem propina”.
“Quem não pagava não participava”, declarou o ex-diretor.
No depoimento, ele reconheceu ter recebido dinheiro da Odebrecht,
citou o nome do executivo Márcio Farias como sendo seu contato, mas
não citou valores, segundo informou o advogado Haroldo Nater, que
defende Leonardo Meirelles, apontado como laranja do doleiro Alberto
Youssef no laboratório Labogen, usado para lavar dinheiro.
Paulo Roberto disse que a propina correspondia a 3% do valor
líquidos de contratos da Petrobras, que eram divididos entre ele e
partidos políticos. Afirmou também que o CNCC, consórcio liderado
pela Camargo Corrêa pagou propina para ganhar obras da Petrobras,
segundo seu advogado, Antonio Augusto Figueiredo Basto.
Costa foi levado nesta quarta-feira (08.out.2014) do Rio para
Curitiba (PR), em um voo comercial da Azul, com escolta da Polícia
Federal.
Após o depoimento Paulo Roberto Costa deixou a sede da Justiça
Federal, em Curitiba, e retornou ao Rio de Janeiro, onde cumpre
prisão em regime domiciliar.
Costa saiu da prisão no última quarta-feira (1º.out.2014), como
parte do acordo em que decidiu que contaria o que sabe sobre
corrupção na Petrobras em troca de uma pena menor —a perspectiva de
seus advogados era que ele fosse condenado a 50 anos de prisão.
O executivo foi preso em 20 de março pela PF. O ex-diretor também
citou, em outro depoimento, segundo a revista "Veja", os nomes de 12
parlamentares que recebiam propina do esquema, entre os quais o do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-SP), e do presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Todos negam com veemência
que tivessem recebido recursos.
OUTRO LADO
Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró, diz que não pode
considerar qualquer declaração despida de provas e que ainda não
sabe do que se tratam as declarações de Paulo Roberto Costa.
O Consórcio CNCC comunicou, por meio de nota, que não teve acesso ao
depoimento e que repudia qualquer acusação de atuação irregular.
O presidente da Transpetro, Sergio Machado, por sua vez, diz que a
declaração contra ele "trata-se de uma afirmação absurda e falsa".
Por meio de sua assessoria, disse estar "indignado com a divulgação
do suposto conteúdo de um depoimento dado a portas fechadas e sobre
o qual não se tem nenhuma informação oficial", além de afirmar que
tomará "as providências cabíveis" e processará "quem quer que seja
na defesa da Transpetro".
Também em nota, a Odebrecht negou veementemente as alegações, que
chamou de "caluniosas".
"A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas. A empresa repudia especialmente menções a nomes de seus integrantes e reitera que tem todo o interesse em que a verdade seja apurada com rigor - e está, como sempre esteve, à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento."
Procurada pela reportagem, a Petrobras não se manifestou. A
reportagem não conseguiu localizar Jorge Zelada e José Eduardo Dutra
até a noite de quarta-feira.
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