Ex-diretor da Petrobrás diz que 3% do valor dos contratos ‘eram para atender ao PT’
Em depoimento à Justiça Federal, Paulo
Roberto Costa revela que dinheiro dos contratos de produção, gás e
energia ‘iam diretamente para o PT’ por meio do tesoureiro João Vaccari
Paulo Roberto Costa (ao centro) |
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, afirmou
à Justiça Federal que o PT chegava a ficar com 3% sobre o valor dos
contratos da estatal, dependendo das diretorias envolvidas na operação.
“Todos sabiam que tinha um porcentual dos contratos da área de
abastecimento. Dos 3%, 2% eram para atender ao PT através da diretoria
de Serviços.”, afirmou.
“Outras diretorias como gás e energia e escoação e produção também eram
PT”, declarou o ex-diretor da Petrobrás. “Então, tinha PT na diretoria
de produção, gás e energia e na área de serviços. O comentário que
pautava a companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT.”
“O que rezava dentro da companhia era que esse valor integral (3%) ia
para o PT”, afirmou Costa. Ele acusou diretamente o tesoureiro do PT,
João Vaccari, ao ser questionado sobre quem fazia a entrega ou a
distribuição da propina ao partido do governo. “Dentro do PT (o contato)
do diretor de serviços era com o tesoureiro do PT, sr. João Vaccari, a
ligação era diretamente com ele.”
O juiz perguntou se ele tem conhecimento de outros diretores que
recebiam valores. “Na área de serviços foi o diretor (Renato) Duque, que
foi indicado na época pelo ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele
tinha essa ligação com o João Vaccari dentro desse processo do PT.”
O ex-ministro da Casa Civil - José Dirceu |
Falou de Nestor Cerveró, então da diretoria Internacional. “O Cerveró
foi indicado por um político e tinha uma ligação muito forte com o
PMDB.”O juiz perguntou se Duque e Cerveró também recebiam valores.
“Claro que sim, a resposta é sim.”
O juiz quis saber se o montante destinado aos outros diretores da
Petrobrás era de 3% sobre o valor dos contratos. “Correto.”, disse
Costa.
O tesoureiro do PT - João Vaccari |
Ele disse que a diretoria Internacional tinha indicação do PMDB. “Então,
tinha indicação do PMDB, então tinha também recursos que eram
repassados para o PMDB na diretoria Internacional.”
Questionado se recebia parte desses valores da corrupção, Costa
confessou. “Sim, em valores médios o que acontecia. Do 1% para o PP, em
média 60% ia para o partido, 20% para despesas às vezes de emissão de
nota fiscal e para envio e 20% restantes eram repassados assim, 70% para
mim e 30% para o Janene ou Alberto Youssef.”
“Eu recebia em espécie normalmente na minha casa, ou no shopping ou no
escritório, depois que abri a minha companhia de consultoria”, declarou.
Segundo ele, quem fazia a entrega do dinheiro era Janene ou Youssef.
Sobre a propina para o PMDB. “O PMDB era da diretoria Internacional, o
nome é Fernando Soares, o Fernando Baiano, ele fazia a articulação.”
Costa afirmou ainda que recebeu R$ 500 mil em dinheiro vivo das mãos do
presidente da Transpetro, Sergio Machado. ”Na Transpetro houve alguns
casos de repasses para políticos, sim. Eu recebi uma parcela da
Transpetro, se não me engano R$ 500 mil.”
“Quem pagou?”, perguntou o juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato.
“O presidente Sergio Machado.”
“Quando?”
“Datas talvez eu tenha dificuldade de lembrar. São muitas, 2009 ou 2010, acho eu por aí. Recebi em uma única oportunidade.”
“Qual o motivo?”
“Foi devido à contratação de alguns navios. Essa contratação tinha que
passar pela diretoria de Abastecimento, contratação de navios pela
Transpetro. Esse valor foi entregue diretamente por ele no apartamento
dele (Machado) no Rio.”
OUÇA O ÁUDIO DO DEPOIMENTO DE COSTA À JUSTIÇA FEDERAL (A PEDIDO DOS ADVOGADOS, COSTA NÃO FOI FILMADO)
Ouça a 1ª parte do depoimento de Costa à Justiça Federal
ÁUDIO: na primeira parte do depoimento, Paulo Roberto Costa fala sobre
seu ingresso na Petrobras (2min30s), a indicação de José Janene
(4min10s), o processo de cartelização das empresas que participam de
licitação na Petrobras (8min45s), os percentuais da propina (10min30s), a
forma de entrega dos valores (16min50s), os repasses da Transpetro
(23min) e o recebimento de dinheiro depois da saída da Petrobras
(24min30s).
Ouça a 2ª parte do depoimento de Costa à Justiça Federal
ÁUDIO: na segunda parte do depoimento, Paulo Roberto Costa detalha o
recebimento de um carro como parte de propina (0min1s), menciona as
empreiteiras e com quem negociaria os pagamentos (1min25s), explica as
reuniões com grupo político e a tabela para as contribuições para
partidos em 2010 (8min45s), admite a formação de patrimônio com as
"vantagens indevidas" (9min45s), relembra as tentativas de quebrar o
cartel (15min) e trata repasse de 3% de propina também no caso dos
aditivos contratuais.
Ouça a 3ª parte do depoimento de Costa à Justiça Federal
ÁUDIO: no trecho final do depoimento, Paulo Roberto Costa relaciona os
nomes das personalidades com quem contactava nas construtoras (0min15s),
detalha sua participação no conselho da refinaria Abreu Lima (3min),
relata o envolvimento de Youssef no esquema (7min), explica as razões
pelas quais virou diretor da Petrobras (12min20s), volta a falar sobre a
relação com o doleiro (19min), relata as dificuldades para quebrar
cartel (25min25s) e lembra que, nos primeiros 27 anos na Petrobras, não
tem máculas (30min10s).
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