Propina ao PT era paga a tesoureiro, diz ex-diretor
Suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor dos contratos
Citado pelos depoentes, Vaccari refutou as acusações e disse que todas as doações ao PT são feitas dentro da lei
Citado pelos depoentes, Vaccari refutou as acusações e disse que todas as doações ao PT são feitas dentro da lei
O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto |
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto
Youssef apontaram em interrogatório na Justiça que o tesoureiro nacional
do PT, João Vaccari Neto, recebia para o partido recursos desviados de
obras da estatal.
"A ligação era diretamente com ele", disse Costa em interrogatório em Curitiba (PR), na quarta-feira (08.out.2014).
Vaccari refutou as declarações e disse que todas doações ao PT são feitas dentro da lei.
Três partidos se beneficiaram desse esquema: PT, PMDB e PP, segundo os
depoentes. O doleiro disse que o intermediário do PMDB era o lobista
Fernando Soares e ele próprio cuidava do suborno destinado ao PP.
Para Costa, as empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras pagavam
propina por receio de sofrer retaliação em concorrências do governo.
"No meu tempo lá, eu não lembro de nenhuma empresa ter deixado de
pagar."
Foi o primeiro interrogatório de Costa e Youssef após ambos terem feito
um acordo de delação premiada para escapar de penas que podiam chegar a
50 e 100 anos, respectivamente. Eles foram presos em março, sob acusação
de comandarem um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro no país.
O suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor líquido dos contratos da Petrobras.
O ex-diretor disse que, desses 3%, 2% ficavam com o PT e 1% ia para o
PP, partido que indicou Costa para o cargo na Petrobras em 2004. Ele
ficou na estatal até 2012, quando foi demitido pela presidente Dilma
Rousseff (PT).
Costa contou que o desvio dos 3% valia para contratos em todas as
diretorias da Petrobras. Nas encabeçadas por indicados pelo PT -- a de
exploração e produção, a de gás e energia e a de serviços, segundo ele
--, os 3% iam integralmente para o partido.
A atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, foi diretora
de gás entre 2007 e 2012, cargo ocupado antes por Ildo Sauer.
Guilherme Estrella foi diretor de produção e exploração entre 2003 e
2012. Renato Duque foi diretor de serviços entre 2004 e 2012. Costa, no
entanto, não citou nominalmente Graça, Estrella e Sauer.
Segundo ele, a diretoria internacional, em que trabalharam Nestor
Cerveró (2003 a 2008) e Jorge Zelada (2008 a 2012), abastecia o PMDB com
1% do valor dos contratos.
Em seu depoimento, Youssef contou que num contrato da Camargo Corrêa
para a refinaria Abreu e Lima, de R$ 3,48 bilhões, o suborno que ele
tinha conhecimento chegou a 2%. De acordo com ele, PT e PP receberam R$
34 milhões cada um. A refinaria, de R$ 40 bilhões, é a obra mais cara em
curso no Brasil. O ex-diretor da Petrobras disse que o contrato foi
superfaturado para que houvesse suborno.
O doleiro disse que os acertos sobre propina eram feitos em reuniões com
políticos, Costa, executivos de empreiteiras e ele próprio. O encontro
ocorria em hotéis ou na casa de políticos, segundo ele. Os acordos eram
registrado em atas, de acordo com ele.
A ação penal em que Costa e Youssef são réus, sobre desvios na
Petrobras, corre sem segredo de Justiça. Por isso, os depoimentos foram
disponibilizados nesta quinta-feira (09.out.2014) pela Justiça Federal.
Os dois, no entanto, foram alertados pelo juiz Sergio Moro que não
poderiam citar o nome de políticos nos depoimentos, já que eles têm foro
privilegiado e só podem ser processados pelo Supremo.
Auxiliares de Dilma querem que Vaccari deixe a tesouraria do partido.
Também pressionam para que ele saia do conselho de administração de
Itaipu. O PT, porém, resiste ao afastamento.
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