PT-Arena
Ruy Castro |
Aos 93 anos, o inesquecível Francelino Pereira, ex-deputado,
ex-"governador" de Minas Gerais e ex-presidente da Arena, está não
apenas vivo como deve ter tido uma sensação de "déjà vu" diante dos
resultados das eleições de domingo. Ao ver o PT disparando no
sertão, certamente se lembrou da citada Arena, que, nos anos 70,
passou da condição de "maior partido do Ocidente" à mais modesta, de
maior partido do Nordeste.
A Arena -- Aliança Renovadora Nacional -- foi uma invenção dos
militares, em 1965, para ratificar no Congresso o que eles quisessem
impor. Era o partido majoritário, tendo como adversário o então
tíbio MDB -- Movimento Democrático Brasileiro --, de oposição
tolerada, formado pelos políticos que sobreviveram às primeiras
cassações. A Arena abrigava os mais notórios adesistas, oligarcas,
coronéis, oportunistas, corruptos e o que havia de mais atrasado nos
grotões rurais e urbanos. Tinha gente boa também.
Com isso, nas poucas eleições com voto direto, dominando 90% dos
governos estaduais e 100% das prefeituras, não era surpresa que o
partido do governo esmagasse a oposição. Francelino, empolgado com a
performance de seus pares, fez os cálculos e decretou que a Arena
era o maior partido do Ocidente.
Mas, um dia, as coisas começaram a mudar. Nas eleições de 1974 para
o Senado, o povo, já farto, surrou a Arena. Elegeu os candidatos do
MDB nos principais Estados e alterou de tal forma a balança do poder
que Geisel teve de nomear senadores e governadores nos Estados em
que não conseguia ganhar -- Francelino, aliás, foi um deles. À Arena
sobrou apenas a fidelidade do Nordeste, sempre sensível aos afagos
oficiais. Até dissolver-se em 1979.
Parece estar havendo uma certa arenização do PT. E não apenas porque
sua força hoje se concentra no maciço apoio nordestino.
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