quinta-feira, 9 de outubro de 2014


PT-Arena

Ruy  Castro
Aos 93 anos, o inesquecível Francelino Pereira, ex-deputado, ex-"governador" de Minas Gerais e ex-presidente da Arena, está não apenas vivo como deve ter tido uma sensação de "déjà vu" diante dos resultados das eleições de domingo. Ao ver o PT disparando no sertão, certamente se lembrou da citada Arena, que, nos anos 70, passou da condição de "maior partido do Ocidente" à mais modesta, de maior partido do Nordeste.

A Arena -- Aliança Renovadora Nacional -- foi uma invenção dos militares, em 1965, para ratificar no Congresso o que eles quisessem impor. Era o partido majoritário, tendo como adversário o então tíbio MDB -- Movimento Democrático Brasileiro --, de oposição tolerada, formado pelos políticos que sobreviveram às primeiras cassações. A Arena abrigava os mais notórios adesistas, oligarcas, coronéis, oportunistas, corruptos e o que havia de mais atrasado nos grotões rurais e urbanos. Tinha gente boa também.

Com isso, nas poucas eleições com voto direto, dominando 90% dos governos estaduais e 100% das prefeituras, não era surpresa que o partido do governo esmagasse a oposição. Francelino, empolgado com a performance de seus pares, fez os cálculos e decretou que a Arena era o maior partido do Ocidente.

Mas, um dia, as coisas começaram a mudar. Nas eleições de 1974 para o Senado, o povo, já farto, surrou a Arena. Elegeu os candidatos do MDB nos principais Estados e alterou de tal forma a balança do poder que Geisel teve de nomear senadores e governadores nos Estados em que não conseguia ganhar -- Francelino, aliás, foi um deles. À Arena sobrou apenas a fidelidade do Nordeste, sempre sensível aos afagos oficiais. Até dissolver-se em 1979.

Parece estar havendo uma certa arenização do PT. E não apenas porque sua força hoje se concentra no maciço apoio nordestino.

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