Interceptações da PF indicam que Costa foi convidado para ser
ministro
Convite para o Ministério das Cidades teria sido recusado pelo
ex-diretor da Petrobras poucos dias antes de ele ser preso.
Informação é mencionada em troca de mensagens entre doleiro e
deputado
Paulo Roberto Costa após sua prisão pela Lava Jato: ex-diretor da Petrobras era ligado ao PP, partido que comanda o Ministério das Cidades |
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria sido convidado
para assumir o Ministério das Cidades em março deste ano, poucos
dias antes de ser preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava
Jato. A informação consta de uma troca de mensagens entre o doleiro
Alberto Youssef e o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA) de 13 março
– mesmo dia em que foi anunciada a substituição de seis ministros,
entre eles o das Cidades, pela presidente Dilma Rousseff (PT). A
conversa foi interceptada pela PF e estava sob sigilo até o início
deste mês. Os diálogos não deixam claro se o convite teria sido
feito pela própria presidente ou pelo PP, partido que controla o
ministério.
Na primeira mensagem, enviada às 19h34, Argôlo pergunta para
Youssef: “Vc sabia q chamaram PR pra assumir o Ministério?? E ele n
quis. Aguinaldo [Ribeiro, o ministro] saiu hoje” (sic). Segundo as
investigações, a sigla PR era usada para citar Paulo Roberto Costa.
Youssef responde: “Sabia. Ele já tinha me contado”. E em seguida
completa: “Foi a melhor coisa q ele fez [não ter aceitado]” (sic).
A troca de mensagens ocorreu exatamente uma semana antes de Costa
ser preso por ocultar provas da Operação Lava Jato – que foi
deflagrada em 17 de março. À época, Dilma promovia uma reforma
ministerial que tinha dois objetivos: liberar ministros que seriam
candidatos e pacificar a tensão com o “blocão dos insatisfeitos” do
Congresso indicando aliados dos partidos da base.
O Ministério das Cidades faz parte da “cota” do PP, partido que
indicou Costa para a diretoria que ele ocupou na Petrobras. Além
disso, Youssef é apontado como o operador do esquema de desvio de
dinheiro da estatal dentro do partido – que também envolveria o PMDB
e o PT, segundo as investigações da PF. Antes de entrar no
Solidariedade (SD), Argôlo era filiado ao PP. O deputado responde a
processo de cassação de mandato pela relação com o doleiro.
O ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro (PP) deixou o cargo para
ser candidato a deputado federal pela Paraíba (e foi eleito). Na
época de sua saída, Dilma garantiu à sigla aliada que a pasta
continuaria sendo do partido. Publicamente, foi cogitado o nome do
senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. Mas Gilberto
Occhi, que era vice-presidente da Caixa Econômica pela cota do
partido, acabou sendo nomeado.
Provável
O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, afirmou que “não
acha improvável” que o cliente tenha sido convidado a assumir um
ministério. “Ele pediu demissão [da Petrobras] e saiu com os elogios
que merecia. Se mais tarde alguém o convidou [para ser ministro],
ele deve ter dado coerentemente a negativa”, disse. Segundo o
advogado, Costa não queria mais ter “nenhum tipo de relação com
isso, com o governo, com coisas desse tipo”, disse.
Mestieri relata ainda que o desligamento de Costa do governo “foi um
processo difícil”. E que hoje o ex-diretor, depois de ter firmado o
acordo de delação premiada em que detalhou o esquema, está tentando
“reencontrar o seu próprio eu”. “É um caminho de redenção.”
Por e-mail, o Ministério das Cidades respondeu apenas que
“desconhece esse assunto”. A reportagem procurou ainda a assessoria
da Presidência, mas não obteve retorno. Os advogados de Youssef e
Argôlo também não responderam aos pedidos da reportagem. O
Ministério Público Federal (MPF) e a PF, que conduzem as
investigações, não comentaram o assunto.
Como é feita a escolha
A partilha de ministérios entre partidos da base aliada geralmente é
“moeda de troca” para garantir a governabilidade no Congresso. No
caso do suposto convite feito a Paulo Roberto Costa não ficou claro
se ele teria sido chamado por representantes do governo federal para
ocupar o ministério ou se o convite partiu do PP, partido cuja
“cota” na Esplanada é o Ministério das Cidades. Apesar das
indicações partidárias, a palavra final sobre a escolha de ministros
sempre é dada pela Presidência da República.
Entenda o caso
Relembre a reforma ministerial de Dilma e a Operação Lava Jato:
• Início de 2014 – Dilma prepara uma reforma ministerial. Insatisfeito pela possibilidade de perder pastas, um bloco de partidos insatisfeitos – entre eles o PP – trava votações de interesse do governo no Congresso.
• 13/03 – Como parte da reforma, Dilma anuncia a substituição do comando de seis ministérios, incluindo o das Cidades. No mesmo dia, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) e o doleiro Alberto Youssef comentam o suposto convite a Paulo Roberto Costa para assumir a pasta, que é da cota do PP.
• 17/03 – Youssef é preso na Operação Lava Jato.
• 20/03 – Costa é preso tentando destruir provas e documentos.
• 23/08 – Em troca de redução da pena, Costa começa a prestar depoimentos, detalhando o esquema, em delação premiada.
• 03/10 – Documentos apreendidos pela Polícia Federal no início da Lava Jato são publicados no processo. Entre eles, o que contêm a conversa entre Youssef e Argôlo.
• 08/10 – Em depoimento à Justiça Federal, Youssef e Costa dão detalhes sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, que teria beneficiado o PP, PT e PMDB.
Caso argôlo
PPS quer saber por que Petrobras pagou viagem VIP para deputado
O líder da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno
(PR), encaminhou pedido de informações ao Ministério de Minas
e Energia sobre a viagem VIP paga pela Petrobras ao deputado Luiz
Argôlo (SD-BA), que responde a dois processos por quebra de decoro
parlamentar em virtude de sua relação com o doleiro Alberto Youssef,
preso na Operação Lava Jato. Bueno quer saber por que a Petrobras
pagou passagens e hospedagem em hotel cinco estrelas no Rio de
Janeiro para Argôlo. Em abril de 2013, Argôlo foi escolhido pela
estatal para unidades da Petrobras no estado. O deputado era membro
titular da Comissão de Minas e Energia da Câmara. Em nota, a
Petrobras informou que realiza o programa de visitas corporativas
desde 1999 e que a iniciativa tem como objetivo “criar e consolidar
a imagem de empresa de energia integrada, que tem responsabilidade
social e ambiental”.
Presidente do PP não acredita em convite para Costa ser ministro
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse desconhecer
qualquer tipo de convite para que o ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa assumisse o Ministério das Cidades, uma semana antes de ser preso pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato.
"Nunca soube deste convite e acho difícil, para não dizer impossível, que tenha acontecido", disse Nogueira.
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