segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


Presidente imune à corrupção
fará a faxina ética

Domingos  Montagner
na minissérie 

‘O Brado Retumbante’
Calma, não se anime. O político 100% ético existe. Mas só na ficção. Chama-se Paulo Ventura. Será interpretado pelo ator Domingos Montagner, na minissérie ‘O Brado Retumbante’, de Euclydes Marinho.
Presidente da Câmara, Paulo assumirá o Planalto graças a uma fatalidade. O titular do governo e o vice morrerão num acidente. Ao assumir, se defrontará com a roubalheira.
Impermeável à corrupção, Paulo combaterá o bom combate. Será popular, muito popular, popularíssimo. E tentará governar escorado em seu grupo palaciano e nos altos índices das pesquisas.
Nas pegadas da independência política, virão as conspirações. José Wilker, na pele de Floriano, viverá um ministro aético. De dentro do governo, comandará as maquinações contra o presidente novato.
Floriano será pilhado apalpando dinheiro sujo. Suas picaretagens  serão
José  Wilker
é Floriano na minissérie 

‘O Brado Retumbante’
registradas em grampos e fotos. A despeito da ficha suja – ou por causa dela — será a principal alternativa presidencial da velha guarda da política.
Por trás de Floriano, a insuflá-lo, um senador mau-caráter personificado por Luiz Carlos Miele. Acossado por denúncias de rapinagem, associa-se às investidas contra o presidente.
O senador não tem nome. Chamam-no apenas de ‘Senador’. A sinopse da minissérie anota: o personagem é “tão emblemático que não é preciso nem chamá-lo pelo nome – todos sabem que ele é O Senador.”
Paulo, o político virtuoso da ficção, manterá um blog na internet. Convidará a juventude a se associar às suas causas. Eis a principal bandeira: o fim do foro privilegiado para congressistas e autoridades.


'O Brado Retumbante'
Com tema político a minissérie terá 8 capítulos
Há três anos, o dramaturgo Euclydes Marinho apresentou uma sinopse à Globo sobre um presidente fictício que, apesar de mulherengo e chefe de família disfuncional, tinha a grande virtude de ser estritamente ético. A trama contaria, claro, com toda sorte de figuras que o Brasil está acostumado a ver na política: um senador que não quer largar o osso do poder, um ministro corrupto e deputados que compram falsos dossiês e articulam conspirações. Demorou, mas a emissora aprovou o projeto e exibirá a minissérie O Brado Retumbante, com Domingos Montagner, novo (e raro) galã quarentão da TV, no papel do presidente fictício Paulo Ventura.
"No Brasil, não temos o hábito de fazer tramas políticas. Sentia falta de uma história assim, mas demorou pra emplacar, por ser um tema delicado. A Globo pensou muito antes de exibir. É uma empresa visada e estamos em um governo do PT, que, em tese, é contra a Globo", acredita o autor. "O projeto foi aprovado no fim de 2009, mas, como 2010 era ano eleitoral, não pudemos fazer. E, por problemas de grade de programação em 2011, a minissérie ficou só para 2012."
Para evitar comparações e poder dizer a frase "qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência", Euclydes e seus colaboradores - o colunista Nelson Motta, a roteirista Denise Bandeira e o autor Guilherme Fiuza (de Meu Nome Não É Johnny) - decidiram retratar, em oito capítulos, um Brasil inventado, em que o centro do poder é um palácio no Rio. Ventura, advogado sem pretensões políticas, é alçado a presidente da Câmara e acaba no posto mais alto dessa democracia após a morte do presidente e vice.
"Ele aceita ser presidente da Câmara porque é um sonhador, meio quixotesco, quer mudar a situação do país, mas não é um homem da política, não sabe fazer alianças e, como só tem 15 meses no poder, decide que seu lema será banir a corrupção", explica Montagner.
Por ser um cara comum, Ventura se aproxima do público, e a interpretação carregada que o ator estava acostumado no teatro (Montagner faz parte da Cia. La Mínima, de circo) ganhou um tom quase que documental.
"Suavizei esse apego pelo poder, para torná-lo mais carismático, mas não me inspirei em ninguém", garante. "Ele é só um cidadão de boa índole e emocionalmente frágil."
Maria  Fernanda  Cândido
é Antônia na minissérie 

‘O Brado Retumbante’
Extremamente boa-praça, é compreensível que o público nem dê muita bola aos desvios de Sua Excelência, que até toca clarinete para espantar a tristeza: ser mulherengo e fazer sofrer a bela primeira-dama, Antônia (Maria Fernanda Cândido).
"Com esse pequeno defeito, se fosse nos Estados Unidos, provavelmente ele estaria liquidado, mas aqui talvez seja algo mais leve", diz Fiuza, coautor.
Fiuza garante, entretanto, que não se trata aqui de um "presidente ideal".
"Ele é um anti-herói e, para humanizá-lo, fizemos com que ele cometesse deslizes éticos, como ter um hacker na equipe que, ilicitamente, vai investigar o ministro da Justiça. Vamos mostrar a ingenuidade e a frustração dele."


PS: ‘O Brado Retumbante’ estreará terça-feira - 17 de janeiro de 2012. Vai ao ar na Rede Globo, às 23h30. A parte que trata dos escândalos e dos conluios, sobreviverá ao enredo. O pedaço que exibe um mandatário intransigente vai durar oito dias. O tempo de uma minissérie. Fora da TV não há rigidez de caráter nem austeridade de princípios. Na política real, tudo é inocência e cumplicidade. Não necessariamente nessa ordem.

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