PF investiga esquema ilegal que usa Brasil na fuga de iraquianos e sírios
A Polícia Federal investiga a utilização do Brasil como rota de sírios e
iraquianos, portando passaportes falsos, a caminho da Europa.
Uma parte dos grupos tenta escapar da guerra na Síria. Outra, formada
por minorias iraquianas, foge da perseguição da milícia radical Estado
Islâmico.
Parte dos documentos falsos seria produzida no Rio e, segundo se apurou,
há suspeita de que policiais federais integrem o esquema.
Oficialmente, a PF diz investigar a "possibilidade de haver algum tipo de apoio logístico [aos coiotes] no Brasil".
Segundo o órgão, ao menos 60 pessoas usaram ou tentaram usar passaportes
falsos – em sua maioria documentos israelenses – para tentar sair do
país nos últimos meses. A PF, contudo, afirma que, na maioria dos casos
identificados, eles foram falsificados no exterior.
Em pelo menos dois casos apurados pela reportagem, os documentos foram entregues já em território brasileiro.
As investigações começaram em junho, dias antes da abertura da Copa. Na
ocasião, seis sírios foram detidos no aeroporto de Salvador tentando
embarcar para Madri com passaportes falsos da Bulgária.
O grupo foi identificado a partir de informações da inteligência da PF e
da Abin (Agência Brasileira de Informações). Os documentos custaram €
800. Outros € 3.000 seriam pagos em Madri.
Os passaportes foram entregues no Rio, e agentes federais teriam sido
cooptados pela quadrilha para facilitar a entrega. Segundo as
investigações, a documentação era toda original – fotos e nomes é que
eram falsos.
Em setembro, um caso semelhante foi registrado. Cinco sírios que
inicialmente planejavam fugir para a Europa pelo mar foram abordados na
Turquia por coiotes que ofereceram passaportes falsos e passagens,
usando o Brasil como rota, por € 9.500.
O grupo chegou a tirar visto de turista brasileiro na Turquia e
desembarcou no Rio com os passaportes sírios verdadeiros, sendo
recepcionado por um integrante da quadrilha no aeroporto.
Segundo se apurou, o homem levou os sírios para uma hospedagem no centro
do Rio, onde permaneceram por mais de um mês esperando passaportes
israelenses.
Os documentos foram entregues por um homem que não falava árabe nem
português. Na primeira semana de novembro, o grupo embarcou no Rio rumo à
Holanda, mas foi detido numa escala do voo em Natal.
Os cinco estão em uma prisão de Natal e foram acusados de uso de
documento falso e formação de quadrilha. Em dezembro, a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) de Natal entrou com pedido de refúgio junto ao
governo.
"Segundo eles, dezenas de sírios já entraram na Europa passando pelo
Brasil", diz Marconi Macedo, presidente da Comissão de Relações
Exteriores da OAB de Natal.
VISTO FÁCIL
O representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(Acnur) no Brasil, Andrés Ramirez, cita o maior rigor nas fronteiras na
Europa e os riscos da travessia pelo mar como motivos que podem
estimular iraquianos e sírios a arriscar rotas mais longas.
A escolha pelo Brasil seria motivada especialmente pela flexibilização
recente do governo na concessão de vistos a quem foge do conflito na
Síria. "A facilidade da emissão de vistos de turista, a abertura do país
e o fato de o Brasil ter uma grande comunidade de sírios fazem com que
eles pensem no Brasil como opção", diz Ramirez.
Segundo a PF, em 2014 entraram no Brasil 4.399 pessoas portando passaporte sírio e 492 com o documento iraquiano.
Os policiais suspeitam que a quadrilha que atua para beneficiar sírios e
iraquianos seja a mesma que vem facilitando a entrada e a permanência
de chineses no Brasil.
No domingo - 08.fev.2015, 11 iraquianos foram mandados de volta ao Rio
após serem descobertos, com passaportes israelenses falsos, no Uruguai.
Eles tentariam embarcar para Madri. Ao chegar ao Brasil, foram
encaminhados à ONG Cáritas e pediram refúgio no país.
Em janeiro, ao menos 34 iraquianos chegaram a São Paulo, cruzaram o país
de ônibus até o Pará e, de lá, seguiram para a Guiana Francesa. Depois,
tentaram embarcar para Paris. Um dos grupos ficou detido no país
vizinho.
A PF disse não ter identificado os passaportes dos três grupos por serem "falsificações de alta qualidade".
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