Itália autoriza extradição de Pizzolato
e pede prisão do brasileiro
Polícia desconhece paradeiro e inicia busca para prender ex-diretor do BB,
condenado pelo Mensalão; caso passa à esfera política
Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil condenado no caso do mensalão |
A instância máxima da Justiça na Itália autoriza a extradição de
Henrique Pizzolato ao Brasil e determina que o condenado no caso do
mensalão volte para a prisão, em Modena. Nesta quinta-feira
(12.fev.2015), a Corte de Cassação em Roma reverteu a decisão de
primeira instância de rejeitar o envio do brasileiro de volta ao País e
aceitou as garantias dadas pelo governo brasileiro de que a integridade
física de Pizzolato será assegurada.
A Interpol já foi acionada e lançou na manhã desta quinta-feira
(12.fev.2015) uma operação para prender o brasileiro. Num primeiro
momento, a organização internacional informara que já sabia onde estava o
acusado, mas depois de consultar a polícia italiana, se deu conta que,
de fato, seu paradeiro não era desconhecido. A falta de informação pode
levar uma nova caçada a Pizzolato. A polícia de Modena confirmou que
nos últimos dias ele passou a ser monitorado para evitar uma nova fuga.
O julgamento ocorreu na quarta-feira (11.fev.2015), em Roma, mas a
sentença foi pronunciada apenas na manhã desta quinta-feira,
12.fev.2015. Pela decisão da Corte, "existem condições para a
extradição', numa referência à situação das prisões no Brasil, e das
garantias dadas pelo governo.
Ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, Pizzolato foi condenado a 12
anos e sete meses de prisão. Mas, há um ano e cinco meses, fugiu do
País com um passaporte falso e declarou que confiava que a Justiça
italiana não faria um processo político contra ele, como acusa a Justiça
brasileira de ter realizado.
Ele acabou sendo preso na cidade de Maranello e, em setembro do ano
passado, a Corte de Bolonha negou sua extradição argumentando que as
prisões brasileiras não têm condições de recebê-lo. Ao sair da prisão,
declarou que havia fugido para "salvar sua vida".
Para conseguir reverter a decisão, os advogados contratados pelo Brasil
insistiram na tese de que a Itália não poderia generalizar a condição
das prisões no País.
A partir de agora, o caso de Pizzolato deixa a esfera judicial e passa
para o âmbito político. Caberá ao ministro da Justiça do governo de
Mateo Renzi uma decisão final sobre o caso. Fontes na Itália admitem
que, a partir de agora, pode pesar o atrito entre Brasil e Roma no que
se refere à decisão do ex-ministro da Justiça, Tarso Genro de não
extraditar Cesare Battisti, condenado na Itália por assassinato.
BATTISTI
Na quarta-feira (11.fev.2015), os advogados de Pizzolato introduziram
pela primeira vez o tema de Battisti no debate e tentaram argumentar
diante da Corte que o ex-diretor do Banco do Brasil não poderia ser
extraditado por conta da recusa do governo brasileiro em cooperar no
caso de Battisti. O argumento não foi acatado.
"O Brasil mostrou que não há uma reciprocidade", indicou o advogado de
Pizzolato, Emmanuelle Fragasso. Para ele, a Itália também deve responder
da mesma forma, rejeitando o pedido brasileiro. "O Brasil fez um
julgamento político", declarou.
Miqueli Gentiloni, advogado contratado pelo Brasil, rejeita o argumento
da defesa de Pizzolato. "Isso não tem nenhuma influência nesse
processo", insistiu. "É a primeira vez que a defesa usa esse argumento
no processo", ressaltou.
Battisti foi condenado na Itália por terrorismo. Mas, no Brasil, Tarso
Genro o concedeu asilo, o que gerou fortes protestos por toda a Itália e
ameaças de suspender certos acordos de cooperação. Gentiloni, porém,
alega que os casos são "diferentes". Além disso, o Brasil destaca que
outros dois criminosos foram extraditados ao País nos últimos meses, com
o sinal verde do tribunal de Roma.
ESPECIAL
O Brasil conseguiu uma vitória judicial graças às garantias diplomáticas
dadas de que Pizzolato teria sua proteção assegurada na prisão.
As garantias foram apresentadas pelo ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, e pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para a
defesa contratada pelo Brasil, isso "demonstra inequivocadamente não
apenas que (Pizzolato) não corre perigo de tortura, mas é garantia de
que receberá um tratamento melhor em respeito a dos demais presos".
Os advogados contratados pelo Brasil indicaram ainda ao juiz de
Pizzolato faria parte, assim como os demais condenados no mesmo caso, de
"uma categoria de presos aos quais está assegurado o total respeito da
lei e de seu conforto".
Para dar provas disso, o Brasil explicou a estrutura do Complexo da
Papuda, penitenciária para onde Pizzolato seria enviado, e deu garantias
de que ele ficaria "isolado do resto da população carcerária".
Fragasso, advogado de Pizzolato, criticou a postura do Brasil. "Ainda
não sabemos se vão de férias para Papuda ou é uma prisão. O turista que
vai para Copacabana também aproveita para visitar a Papuda?", ironizou o
advogado.
PRECEDENTES
Os advogados do Brasil também usaram mais de uma dezena de casos para
mostrar que países europeus já extraditaram criminosos "para países onde
a situação de direitos humanos é muito pior que as do Brasil".
Gentiloni mostrou que, por toda a Europa e mesmo na Corte de
Estrasburgo, criminosos já foram extraditados para países como
Bangladesh, México, Rússia, Cazaquistão, Índia e Turcomenistão.
Para os advogados, portanto, a situação generalizada das prisões de um
país não pode ser um argumento suficiente para impedir a extradição.
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