sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Dirceu e Vaccari eram os responsáveis por receber propina
Em depoimento à Polícia Federal, Youssef afirma que o nome do ex-ministro da Casa Civil constava como 'Bob' na contabilidade de Julio Camargo

José Dirceu e João Vaccari Neto, acusados de serem os responsáveis
por receber propina em esquema de corrupção na Petrobras

O doleiro Alberto Youssef afirmou, em depoimento à Polícia Federal, em outubro, que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, eram os responsáveis no PT por receber as propinas de empreiteiras envolvidas no esquema da Petrobras. Segundo o depoimento, que faz parte do acordo de delação premiada do doleiro, Dirceu e Vaccari, além de receberem os valores, frequentaram um edifício na Rua Joaquim Floriano, no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, que servia de base para os pagamentos de propina.
“O dinheiro entregue pelo declarante em São Paulo servia para pagamento da Camargo Corrêa e da Mitsue Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu”, registra o depoimento de Youssef à Polícia Federal.
Youssef diz que intermediou o pagamento de R$ 27 milhões, que foram distribuídos aos agentes políticos, entre 2005 e 2012. De acordo com o delator, o montante foi direcionado exclusivamente ao PT e a Renato Duque, ex-diretor da Petrobras indicado pelo partido.
Youssef disse que o consultor Julio Camargo — que também fechou acordo de delação premiada e admitiu ter pagado propina no esquema da Petrobras — tinha uma relação “muito boa” com Dirceu e ligação com o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os pagamentos de propina a que se refere Youssef foram feitos por Julio Camargo, ainda segundo o doleiro. Camargo atuou como representante da Camargo Corrêa e da Toyo-Setal. As empreiteiras não se pronunciaram.
“Os valores entregues em espécie pelo declarante (Youssef) acredita e tem a convicção de que eram destinados ao Partido dos Trabalhadores e à Diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque e outros gerentes da referida diretoria. Que o valor total operado por este modus operandi foi desenvolvido do final de 2005 até meados do ano de 2012”, afirma ele em depoimento.
De acordo com Youssef, a ligação entre Dirceu e Camargo também era pessoal. O ex-ministro usava o jatinho do consultor com frequência, disse o doleiro. Na contabilidade de Camargo, o nome de Dirceu aparecia como “Bob” —possível referência a um assessor do ex-ministro.
Documentos anexados à investigação da Lava-Jato mostram que a JD Consultoria, empresa de Dirceu, recebeu quase R$ 4 milhões de empreiteiras denunciadas no esquema de corrupção, entre 2009 e 2013. A empresa recebeu recursos da Galvão Engenharia, da OAS e da UTC, cujos executivos estão presos em Curitiba.
Em nota, Dirceu disse que repudia “com veemência” as declarações de Youssef. Ele nega ter recebido recursos ilícitos de Julio Camargo ou de qualquer outra empresa investigada pela Operação Lava Jato. O ex-ministro afirma que nunca representou o PT em negociações:
“As declarações são mentirosas. O próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu.”
O ex-ministro disse ainda que desde que saiu do governo, em 2005, “sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo”.
De acordo com o doleiro, o responsável pela contabilidade de Julio Camargo, Franco Clemente Pinto, carregava sempre nas reuniões um pendrive com toda a movimentação financeira do consultor.
“Franco é homem de confiança de Júlio Camargo e o responsável pela contabilidade de pagamentos ilícitos a título de propina e caixa 2″, diz Youssef no depoimento.

CONSULTORIA DE DIRCEU TEVE SIGILO QUEBRADO
A empresa que Dirceu tem juntamente com seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, recebeu R$ 720 mil da OAS, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011. Também ganhou R$ 725 mil da Galvão Engenharia entre 2009 e 2011 e mais R$ 2,3 milhões da UTC, nos anos de 2012 e 2013. Os procuradores chegaram à empresa de Dirceu ao analisar documentos da Receita que mostraram transferências bancarias das três construtoras.
Dirceu foi preso em 15 de novembro de 2013, após o julgamento do mensalão, que comprovou esquema de compra de apoio político no Congresso Nacional. Ele ficou em regime fechado até novembro de 2014, quando passou a cumprir o regime semiaberto.

NOTA DO PT
Por meio de nota divulgada pelo PT, Vaccari negou que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte de Youssef. “São absolutamente mentirosas as afirmações feitas por esse senhor, em processo de delação premiada, tanto no que concerne a uma suposta entrega de dinheiro para sua cunhada quanto em um suposto encontro em um restaurante”, diz a nota.
O tesoureiro segue dizendo que “a afirmação de Youssef causa profunda estranheza, pois sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI Mista da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca fez transações financeiras” com o petista.
O PT nacional reiterou na nota que “todas as doações que recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça”.

PALOCCI
O ex-ministro informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar sobre as afirmações do doleiro.


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