Dirceu e Vaccari eram os responsáveis por receber propina
Em depoimento à Polícia Federal, Youssef
afirma que o nome do ex-ministro da Casa Civil constava como 'Bob' na
contabilidade de Julio Camargo
José Dirceu e João Vaccari Neto, acusados de serem os responsáveis por receber propina em esquema de corrupção na Petrobras |
O doleiro Alberto Youssef afirmou, em depoimento à Polícia Federal, em
outubro, que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o atual
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, eram os responsáveis no PT por
receber as propinas de empreiteiras envolvidas no esquema da Petrobras.
Segundo o depoimento, que faz parte do acordo de delação premiada do
doleiro, Dirceu e Vaccari, além de receberem os valores, frequentaram um
edifício na Rua Joaquim Floriano, no bairro do Itaim Bibi, em São
Paulo, que servia de base para os pagamentos de propina.
“O dinheiro entregue pelo declarante em São Paulo servia para pagamento
da Camargo Corrêa e da Mitsue Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas
para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu”,
registra o depoimento de Youssef à Polícia Federal.
Youssef diz que intermediou o pagamento de R$ 27 milhões, que foram
distribuídos aos agentes políticos, entre 2005 e 2012. De acordo com o
delator, o montante foi direcionado exclusivamente ao PT e a Renato
Duque, ex-diretor da Petrobras indicado pelo partido.
Youssef disse que o consultor Julio Camargo — que também fechou acordo
de delação premiada e admitiu ter pagado propina no esquema da Petrobras
— tinha uma relação “muito boa” com Dirceu e ligação com o ex-ministro
da Fazenda, Antonio Palocci. Os pagamentos de propina a que se refere
Youssef foram feitos por Julio Camargo, ainda segundo o doleiro. Camargo
atuou como representante da Camargo Corrêa e da Toyo-Setal. As
empreiteiras não se pronunciaram.
“Os valores entregues em espécie pelo declarante (Youssef) acredita e
tem a convicção de que eram destinados ao Partido dos Trabalhadores e à
Diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque e outros
gerentes da referida diretoria. Que o valor total operado por este modus
operandi foi desenvolvido do final de 2005 até meados do ano de 2012”,
afirma ele em depoimento.
De acordo com Youssef, a ligação entre Dirceu e Camargo também era
pessoal. O ex-ministro usava o jatinho do consultor com frequência,
disse o doleiro. Na contabilidade de Camargo, o nome de Dirceu aparecia
como “Bob” —possível referência a um assessor do ex-ministro.
Documentos anexados à investigação da Lava-Jato mostram que a JD
Consultoria, empresa de Dirceu, recebeu quase R$ 4 milhões de
empreiteiras denunciadas no esquema de corrupção, entre 2009 e 2013. A
empresa recebeu recursos da Galvão Engenharia, da OAS e da UTC, cujos
executivos estão presos em Curitiba.
Em nota, Dirceu disse que repudia “com veemência” as declarações de
Youssef. Ele nega ter recebido recursos ilícitos de Julio Camargo ou de
qualquer outra empresa investigada pela Operação Lava Jato. O
ex-ministro afirma que nunca representou o PT em negociações:
“As declarações são mentirosas. O próprio conteúdo da delação premiada
confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual
seria a suposta participação de Dirceu.”
O ex-ministro disse ainda que desde que saiu do governo, em 2005,
“sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo”.
De acordo com o doleiro, o responsável pela contabilidade de Julio
Camargo, Franco Clemente Pinto, carregava sempre nas reuniões um
pendrive com toda a movimentação financeira do consultor.
“Franco é homem de confiança de Júlio Camargo e o responsável pela
contabilidade de pagamentos ilícitos a título de propina e caixa 2″, diz
Youssef no depoimento.
CONSULTORIA DE DIRCEU TEVE SIGILO QUEBRADO
A empresa que Dirceu tem juntamente com seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, recebeu R$ 720 mil da OAS, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011. Também ganhou R$ 725 mil da Galvão Engenharia entre 2009 e 2011 e mais R$ 2,3 milhões da UTC, nos anos de 2012 e 2013. Os procuradores chegaram à empresa de Dirceu ao analisar documentos da Receita que mostraram transferências bancarias das três construtoras.
Dirceu foi preso em 15 de novembro de 2013, após o julgamento do
mensalão, que comprovou esquema de compra de apoio político no Congresso
Nacional. Ele ficou em regime fechado até novembro de 2014, quando
passou a cumprir o regime semiaberto.
NOTA DO PT
Por meio de nota divulgada pelo PT, Vaccari negou que tenha recebido
qualquer quantia em dinheiro por parte de Youssef. “São absolutamente
mentirosas as afirmações feitas por esse senhor, em processo de delação
premiada, tanto no que concerne a uma suposta entrega de dinheiro para
sua cunhada quanto em um suposto encontro em um restaurante”, diz a
nota.
O tesoureiro segue dizendo que “a afirmação de Youssef causa profunda
estranheza, pois sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI Mista
da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca
fez transações financeiras” com o petista.
O PT nacional reiterou na nota que “todas as doações que recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça”.
PALOCCI
O ex-ministro informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria se manifestar sobre as afirmações do doleiro.
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