Brasil está no centro das reclamações de empresas multinacionais
O Brasil se tornou fonte de preocupação em 2014 para boa parte das
multinacionais atuantes no país, que se queixaram da economia fraca,
aperto no crédito, inflação e câmbio durante a divulgação de seus
resultados nas últimas semanas.
Levantamento feito a partir de teleconferências, identificou-se que 85
empresas estrangeiras citaram o Brasil em seus comentários.
Do total, 54 apresentaram reclamações. Para 12 delas, a atual situação
econômica do país não está impactando os resultados, enquanto 19 veem
boas oportunidades no país.
O setor de veículos se destaca entre as reclamações. Empresas como
Daimler (dona da marca Mercedes), Volvo, GM, Ford e Scania apontaram a
baixa demanda, o ambiente difícil para os negócios e o câmbio como
obstáculos a um bom desempenho neste ano no país.
Para as multinacionais, a alta do dólar prejudica a conversão dos lucros
apurados em reais para a moeda norte-americana. Em alguns casos, também
provoca um aumento de custos na moeda local.
"Estamos acompanhando de perto o que está acontecendo com o real.
Historicamente, não temos sido capazes de recompor isso totalmente com
aumento de preços", diz Chuck Stevens, vice-presidente da GM.
A expectativa de um ano ruim é mais forte entre as fabricantes de
caminhões, preocupadas com o menor volume de recursos do PSI (programa
que facilita a compra de caminhões) e a alta dos juros nas operações.
"Depois dos subsídios, é a hora da ressaca. Estamos antecipando para
este ano uma queda de 10%, aproximadamente", disse a analistas Wolfgang
Bernhard, chefe da divisão de caminhões e ônibus da Daimler. Em 2014, o
desempenho da unidade no Brasil já teve queda de 13%.
O mau momento do setor automotivo, com queda de 16,8% na produção em
2014, também se refletiu na emissão de remessas de lucros e dividendos
para as matrizes.
No ano passado, o valor caiu 73%, para US$ 884 milhões, e foi o
principal fator para a redução de 11% no total de remessas em 2014.
O desempenho ruim abalou também fornecedores, como a Cummins, fabricante
de motores. A receita da empresa caiu 17% no Brasil, devido à fraqueza
no mercado de caminhões. Para este ano, a empresa vê um cenário ruim,
com uma queda de 15% na produção de caminhões.
CRÉDITO
O aperto no crédito também afeta fabricantes de sementes e defensivos
agrícolas. "Por anos, o governo tem apoiado a agricultura com a oferta
de crédito, mas isso tem diminuído", diz John Ramsay, diretor da
Syngenta.
No mercado de consumo, a baixa confiança afeta os negócios. A Whirlpool,
dona de marcas como a Brastemp, mencionou em teleconferência
"incertezas na base de consumidores", após as recentes medidas
econômicas.
"A demanda por eletrodomésticos no Brasil continua desafiadora e
apresentou uma queda no quarto trimestre", disse Keith McLoughlin,
presidente da Electrolux.
EFEITO PETROBRAS
Os desdobramentos da crise na Petrobras também assombram os fornecedores de equipamentos para a indústria de óleo e gás.
A National Oilwell Varco, fabricante americana de sondas para perfuração, informou atrasos de pagamentos de alguns estaleiros.
A Schlumberger, que também fornece serviços e equipamentos para
petroleiras, comentou os cortes de investimentos da estatal. "Haverá
desafios no Brasil neste ano", disse Paal Kibsgaard, presidente da
empresa.
Indagado sobre o ambiente de negócios no Brasil, diante dos problemas
que enfrenta a Petrobras, Jeremy Akel, executivo do Bristow Group (firma
de helicópteros que opera com plataformas), mostrou confiança no longo
prazo. "Qualquer problema que eles tiverem será resolvido, e voltarão a
investir para aumentar a sua produção".
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