Papa pede a bispos que se orgulhem da vocação e ajudem fiéis em favelas
Francisco citou Madre Tereza para defender 'cultura do encontro' com fiéis.
O Papa Francisco celebrou uma missa a bispos e padres na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Rio de Janeiro, e pediu para os religiosos, citando Madre Tereza de Calcutá, que promovam uma "cultura do encontro" e que sirvam aos pobres nas favelas, tendo "orgulho de nossa vocação".
O Pontífice afirmou que os religiosos devem ir até as pessoas.
O Sumo Pontífice criticou a "cultura da exclusão" na sociedade, na qual "não há lugar para o idoso, para a criança", e disse que é preciso ir contra essa tendência.
A missa foi restrita a bispos, padres e convidados que vieram de diversas partes do país para a Jornada Mundial da Juventude. Francisco cumprimentou e conversou com religiosos no interior da Catedral na sua chegada.
Leia a íntegra da Homilia:
"Amados Irmãos em Cristo,
Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro,penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje: «Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor» (Sl 66). Sim, estamos aquireunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que nãosomente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia – coragem, ousadia - de Paulo e Barnabé,anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de ummundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus;chamados para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.
1. Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada emmeio a tantas atividades do dia-a-dia: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi», diz-nos Jesus (Jo 15,16).Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Fomoschamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo tão profundo que nospermite dizer com São Paulo: «Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Este viver em Cristo configurarealmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta “vida em Cristo” é justamente o que garante a nossa eficácia apostólica,a fecundidade do nosso serviço: «Eu vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo15,16). Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, quenos diz com insistência: «Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4). E nós sabemos bem o que isso significa:Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diáriocom Ele presente na Eucaristia e nas pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é umpermanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa deCalcutá: «Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nasfavelas, nos «cantegriles» nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como osacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria» (Mother Instructions, I, p.80). Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeirotesouro; procuremos fixar sempre mais n’Ele o nosso coração (cf. Lc 12, 34).
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e sacerdotes, muitos de vocês, senão todos, vieramacompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles também ouviram as palavras do mandato de Jesus: «Ide e fazei discípulosentre todas as nações» (cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o desejo de seremdiscípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados,imaginando que ser missionário significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Recordo o meu sonho dajuventude: partir missionário para o longínquo Japão. Mas Deus me mostrou que o meu território de missão estava muitomais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência de serbatizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudoou de trabalho, a família e os amigos.
Não poupemos forças na formação da juventude! São Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade nasua vida, dirigindo-se aos seus cristãos: «Meus filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado em vós»(Gal 4, 19). Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso ministério! Ajudemos os nossos jovens a descobrira coragem e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si,como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossascomunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, masde sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles queestão mais afastados, daqueles que habitualmente não freqüentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesado Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura daexclusão, a “cultura do descartável”. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se detercom o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois“dogmas” modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos e também vocês, seminaristas, quese preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente. Não renunciemos a este dom de Deus: a únicafamília dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade e a fraternidade são os elementos que tornama nossa civilização verdadeiramente humana.
Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quaseobsessivos neste aspecto! Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humildee feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la (cf.Lc 24, 13-35).
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e promovercorajosamente a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu «exemplo daquele afetomaternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de regenerar oshomens» (Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. Lumen gentium, 65). Seja Ela a Estrela que guia com segurança nossos passosao encontro do Senhor.
Amém."
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