Principal problema do governo tem nome: Dilma
Josias de Souza |
O problema do governo tem nome e sobrenome. Alguns aliados do Planalto o
chamam de Aloizio Mercadante. Outros o tratam por Pepe Vargas. Se
estivessem certos, a solução seria simples. Bastariam dois golpes de
esferográfica. Mas estão enganados. Chama-se Dilma Rousseff o problema
do governo. Nunca um governante começara sua gestão tão por baixo. E as
pessoas se perguntam sobre o que está havendo, afinal, com a Dilma, que
não reage.
Hoje, a estratégia de Dilma é clara como a gema. Resume-se a três lances: 1) para não potencializar seu isolamento político, engole todos os sapos
que os investigados Renan Calheiros e Eduardo Cunha conseguem lhe
servir.
2) para evitar o aprofundamento da crise econômica que herdou de si
mesma, tolera Joaquim Levy, o ministro da Fazenda que as circunstâncias
lhe enfiaram goela abaixo.
3) para disfarçar seu déficit de iniciativa, reúne-se regularmente com
Lula, o ventríloquo que regula as doses de cinismo que lhe escorrem
pelos lábios.
Dilma esteve com Lula na noite de terça-feira (10.mar.2015), em
Brasília. Ouviu basicamente três conselhos: faça política, faça política
e faça política. Em vez de ceder às pressões pela entrega do escalpo
dos “articuladores'' Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Pepe Vargas
(Relações Institucionais), Dilma optou por adicionar
mais três cabeças ao seu núcleo de (des)coordenação política: os
ministros Gilberto Kassab (Cidades) Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e
Eliseu Padilha (Aviação Civil).
Com esses ajustes, a coordenação política do governo Dilma ficará muito
parecida com a das gestões de Lula. Com uma diferença: hoje, há um
excesso de cabeças e carência de miolos. Ontem, havia a mesma carência,
mas com uma cabeça só.
Nas últimas 48 horas, para livrar-se da humilhação de ver derrubado no
Congresso o veto que apôs à proposta de reajustar em 6,5% a tabela do
Imposto de Renda, Dilma deu ouvidos a Lula. Primeiro, peemedebizou-se,
redescobrindo o vice Michel Temer, que vinha tratando como versa. Com a
ajuda de Temer, Dilma promoveu uma engenharia política.
Abre parágrafo: no Brasil de hoje, “engenharia política” é eufemismo
para acerto com o Renan. Fecha parênteses. Ainda assim, entregando os
anéis para perder poucos dedos, o Planalto prevaleceu raspando na trave.
O veto presidencial foi mantido com uma diferença de escassos 18 votos.
Doravante, será sempre assim: para aprovar o que deseja no Legislativo,
essa Dilma debilitada terá de ajoelhar no milho. Ela já prepara os
meniscos para a tortura que será a negociação das medidas provisórias
que restringem o acesso dos trabalhadores a benefícios trabalhistas e
previdenciários.
Se depender dos seus aliados, bastará a Dilma permanecer ajoelhada para
ser considerada uma gestora de grande altivez. E o segundo governo da
ex-supergerente, nunca é demasiado recordar, tem apenas 71 dias de vida.
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