Corrupção em 'tribunal' da Receita Federal
Há suspeitas de que valores do esquema de corrupção ultrapassem os R$ 19 bilhões
A Polícia Federal iniciou a Operação Zelotes, que investiga crimes de
corrupção, lavagem de dinheiro, advocacia administrativa, tráfico de
influência e associação criminosa no Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais (Carf), que é uma espécie de tribunal da Receita Federal.
Investigadores acreditam que os desvios na Operação Zelotes podem
superar os valores da Operação Lava Jato, estimados em R$ 10 bilhões.
Há suspeitas que os valores possam ultrapassar os R$ 19 bilhões,
referentes a 70 processos investigados. Já foram apurados desvios de R$
5,7 bilhões. Nas operações de busca realizadas em Brasília, São Paulo e
Ceará, foram apreendidos R$ 1 milhão em dinheiro vivo e carros de luxo.
O termo Zelotes foi escolhido para descrever falso zelo ou cuidado
fingido. Foram cumpridos mandados em dois gabinetes na sede do Carf, em
Brasília. As investigações apontam para o suposto envolvimento do atual
conselheiro Paulo Roberto Cortez e do ex-presidente do Carf em 2005,
Edison Pereira Rodrigues. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em
endereços dos dois.
O Carf é um colegiado formado por funcionários do Ministério da Fazenda e
representantes da sociedade, cuja função é julgar recursos em que
contribuintes questionam a cobrança de tributos, multas e juros.
Segundo fontes, a organização atuava no órgão patrocinando interesses
privados, buscando influenciar e corromper conselheiros com o objetivo
de conseguir a anulação ou diminuir os valores dos autos de infração e
da Receita, o que resultaria em milhões de reais economizados pelas
empresas autuadas em detrimento do erário da União. Servidores
repassavam informações privilegiadas para escritórios de assessoria,
consultoria ou advocacia em Brasília, São Paulo e outras localidades
para que realizassem captação de clientes e oferecessem facilidades no
Carf.
Segundo notas divulgadas pela Receita e pela Corregedoria da Fazenda,
"constatou-se que muitas dessas consultorias teriam como sócios
conselheiros e ex-conselheiros do Carf."
As investigações, iniciadas em 2013, apontaram que grupos de servidores
estariam manipulando o trâmite de processos e o resultado de julgamentos
no conselho. A investigação se estende sobre julgamentos suspeitos
desde 2005.
Ao todo, foram expedidos 41 mandados de busca e apreensão e determinado
sequestro de bens e bloqueio de recursos financeiros dos principais
envolvidos. A Receita e a Corregedoria informaram que as operações se
estenderam a escritórios de advocacia e a salas de conselheiros do Carf.
A operação abrangeu Distrito Federal, São Paulo e Ceará, e contou com a
participação de 180 policiais federais, 60 servidores da Receita e três
servidores da Corregedoria Geral do Ministério da Fazenda.
Entenda
O Carf julga processos na esfera administrativa, em que contribuintes
questionam a cobrança de tributos. É um colegiado formado por
funcionários do Ministério da Fazenda e por representantes da sociedade.
Ele é composto por três seções de julgamento, cada uma especializada em
um grupo de tributos. Assim, por exemplo, a primeira seção julga casos
relacionados ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Na segunda, vão os
questionamentos sobre o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e
contribuições previdenciárias. Na terceira, estão os processos
referentes ao PIS/Cofins, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI),
Imposto de Importação (II) e Imposto de Exportação (IE).
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