Janot deixe Dilma e Aécio fora das investigações do Petrolão
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendou ao Supremo
Tribunal Federal que não abra investigações sobre a presidente Dilma Rousseff e seu adversário nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves
(PSDB-MG).
Os dois foram citados em depoimentos dos delatores da Operação Lava
Jato, que investiga um vasto esquema de corrupção na Petrobras. O
Supremo deverá acatar a recomendação ainda nesta semana, e com isso
Dilma e Aécio não serão alvo de inquéritos.
Ainda não está claro o contexto das menções feitas a Dilma e Aécio nos
depoimentos, porque os documentos enviados por Janot ao ministro Teori
Zavascki, relator dos processos da Operação Lava Jato no STF, são
sigilosos.
No ano passado, a revista "Veja" revelou que o doleiro Alberto Youssef
disse em um de seus depoimentos que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, seu antecessor e padrinho político, sabiam do esquema de
corrupção que atuava na Petrobras.
Na avaliação do caso de Dilma, disseram investigadores, foi levado em
conta o artigo 86 da Constituição, que define as situações em que um
presidente da República pode ser investigado por crimes de
responsabilidade e outras infrações.
De acordo com o artigo, durante o exercício de seu mandato, o presidente
da República não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao
exercício de suas funções. Procurado, o Palácio do Planalto não fez
comentários sobre a decisão de Janot sobre Dilma.
Sobre Aécio, em um de seus depoimentos, o doleiro Youssef afirmou ter
ouvido dizer que o senador tinha influência sobre negócios em uma
diretoria da estatal Furnas, no fim do governo Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), segundo o advogado do delator.
Sem entrar em detalhes sobre a citação, Aécio afirmou que "setores do
governo, que são os protagonistas desse escândalo" tentaram "envolver a
oposição" no caso, e que recebeu como uma "homenagem" a decisão de
Janot.
O ministro Teori Zavascki deve levantar o sigilo dos processos até
sexta-feira, quando promete se pronunciar sobre os 28 pedidos de
abertura de inquérito e 7 de arquivamento que recebeu de Janot.
Os pedidos de investigação atingem 54 pessoas, incluindo deputados e
senadores que só podem ser investigados com autorização do Supremo. A
lista inclui os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Janot também recomendou o arquivamento do caso do ex-presidente da
Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A presidente Dilma deve
nomeá-lo ministro do Turismo depois que o STF confirmar o arquivamento
do caso.
A Procuradoria aceitou pedidos de inquérito sobre a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR), que chefiou a Casa Civil no primeiro mandato de Dilma,
e seu marido, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, também
petista.
Segundo Youssef, operadores do esquema de corrupção entregaram R$ 1
milhão para a campanha da senadora nas eleições de 2010. Gleisi nega ter
recebido doações ilegais.
Em mensagem enviada a todos os membros do Ministério Público Federal na
quarta-feira (04.mar.2015), o procurador Janot disse que fez "uma opção
clara e firme pela técnica jurídica" ao encaminhar os pedidos de
investigação ao Supremo, "independentemente dos envolvidos, dos seus
matizes partidários, ou dos cargos públicos que ocupam ou ocuparam".
Janot sugeriu aos demais procuradores que se mantenham "unidos e fortes"
para combater "investidas que busquem diminuir o Ministério Público
brasileiro, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar os seus membros".
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