Um ótimo aviso
O segundo turno da disputa presidencial tornou-se um triste espetáculo.
Nele, o presidenciável petista Fernando Haddad executa um striptease.
Haddad se despe de tudo o que possa lembrar o PT. Já não usa a máscara
de Lula. Livrou-se do vermelho nas peças de campanha. Não bate mais
ponto na cadeia de Curitiba. Parou de dizer nas entrevistas “boa noite,
presidente Lula”. Baniu Dilma da memória.
Às voltas em compor uma “frente democrática”, Haddad faz de tudo para
convencer as pessoas de que é maior do que o PT. Mas tudo parece não
querer nada com Haddad.
Na virada de um turno para o outro, o PT excluiu Lula do material de
campanha de Haddad, substituindo o vermelho partidário pelo verde e
amarelo da pátria. Mas a reforma gráfica dos panfletos talvez não seja
suficiente para atenuar em poucos dias uma rejeição construída em 14
anos de governos petistas.
Fernando Haddad frequenta a cena eleitoral como um candidato-laranja de
Lula. Seu padrinho é um ficha-suja com sentença de segunda instância.
Mas Haddad o chama de “preso político”. Com isso, desrespeita o
Judiciário. Em entrevista a jornalistas estrangeiros, o candidato
petista teve mais uma chance de se reconciliar com o óbvio. Esbarrou no
óbvio, tropeçou no óbvio e, sem pedir desculpas, seguiu adiante.
Instado a falar sobre os erros dos governos do PT na economia e na
Venezuela, Haddad disse que já escreveu “ensaios longos sobre os
equívocos que nós cometemos”. Não conseguiu reconhecer que os
venezuelanos vivem sob um regime autocrático. Citou dois “equívocos”: 1)
O excesso de desonerações fiscais concedidas no final do primeiro
mandato de Dilma Rousseff; 2) A ausência de uma reforma política.
Abstendo-se de citar os escândalos do mensalão e do petrolão, Haddad
acomodou toda a corrupção que marcou as administrações do PT sob o manto
diáfano da reforma política. Sob Dilma, produziu-se a mais severa recessão da história. Foram ao olho
da rua mais de 11 milhões de brasileiros. E Haddad sustenta que o único
problema foi o excesso de desonerações do final do primeiro mandato de
Dilma.
Sob Lula e Dilma, o acerto das grandes propinas foi negociado no
Ministério da Fazenda. Primeiro por Antonio Palocci. Depois, por Guido
Mantega. A cúpula petista foi em cana, inclusive Lula. E Haddad passeia
pelos escombros morais do petismo como se o responsável pelas ruínas
fosse um sujeito oculto: “Qualquer pessoa podia falar em nome do partido
…”
Ao sonegar uma autocrítica aos brasileiros, Haddad estimula a conclusão
de que, eleito, repetirá os desatinos econômicos de Dilma e permitirá
que correligionários e aliados voltem a plantar bananeira dentro dos
cofres públicos.
A palavra de um presidente da República é o seu atestado. Ou a plateia
confia no que seu presidente afirma ou se desespera. A suspeita de que
as boas intenções do presidenciável não passa de um disfarce de quem não
tem condições de se dissociar da própria precariedade ou da voracidade
da banda podre do seu partido conduz o brasileiro a um ceticismo
terminal. Haddad ainda não foi capaz de inspirar bons exemplos. Mas
tornou-se ótimo aviso.
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