terça-feira, 2 de outubro de 2018



Os coronéis são de Haddad, mas quem dá as cartas é Lula


O ex-presidente Lula transformou a sala-cela em Curitiba no QG da candidatura de Fernando Haddad ao Planalto.
De lá, o petista articula a cooptação de caciques regionais e até entregas de dinheiro por meio de jatinhos.






Preso há seis meses numa sala-cela da Polícia Federal (PF) em Curitiba, o ex-presidente Lula está apenas no início do cumprimento de uma pena de 12 anos e 1 mês de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Teoricamente, o cárcere deveria servir para o réu se regenerar dos crimes cometidos, não voltar a delinquir e deixar o presídio após o final da pena apto a se reintegrar à sociedade, devidamente recuperado. Mas Lula parece não se emendar. Ao exercer sem qualquer cerimônia ou pudor o papel de coordenador da candidatura do presidenciável Fernando Haddad (PT), o petista transformou a sala-cela num QG da campanha, onde acontecem manobras pouco ortodoxas no vale-tudo para eleger o petista. Sob as barbas das autoridades, Lula vale-se da estrutura carcerária para operar a estratégia eleitoral petista, colocando em prática métodos nada republicanos no esforço para cooptar apoios de partidos como MDB, PR, PP e PDT para o “projeto Haddad”. Além de promessas de cargos no futuro governo do PT, Lula articula vantagens financeiras destinadas a irrigar as campanhas dos que se dispõem a serem convertidos a novos aliados. A máquina eleitoral é comandada por meio de bilhetinhos, à la Jânio Quadros, só que de dentro da cadeia, os quais o petista faz chegar às mãos de assessores de altíssima confiança. Integram o time de pombos-correios de Lula o ex-chefe de gabinete Gilberto Carvalho, o advogado Cristiano Zanin, o deputado José Guimarães (PT-CE) e o próprio Haddad, que o tem visitado na condição de advogado. O teor das mensagens é repassado pelos assessores aos políticos aos quais se destinam as determinações.
Nas últimas semanas, o objetivo do ex-presidente tem sido ampliar a vantagem de Haddad no Norte-Nordeste do País. Não à toa, intensificaram-se as mensagens remetidas para caciques da região e velhos parceiros dos tempos da era petista no poder, caso dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Eunício Oliveira (MDB-CE), Fernando Collor (PTC-AL) e o ex-senador José Sarney (MDB-MA), que até então marchavam ao lado de Henrique Meirelles (PMDB) ou de Ciro Gomes (PDT). Para que mudassem de lado na atual corrida presidencial, robustecendo o palanque de Haddad, Lula prometeu-lhes participação no novo governo e até compensações financeiras. Outro destinatário preferencial dos bilhetinhos de Lula é o também presidiário Valdemar Costa Neto, que por determinação judicial dorme no Presídio da Papuda, em Brasília, mas está autorizado a sair durante o dia para trabalhar. Apesar de não ser mais o presidente do PR, Valdemar ainda manda e desmanda no partido, que desde o governo Lula transformou o Ministério dos Transportes no seu latifúndio, digamos, mais produtivo. O operador financeiro de Valdemar é o ex-ministro Maurício Quintella, atualmente candidato ao Senado pelo PR de Alagoas. Como Lula sabe que o caixa do PR é poderoso, por comandar grandes obras em rodovias no País, o petista tem acionado Valdemar quando precisa fazer chegar recursos às mãos de algum neoaliado.
Foi o que aconteceu no Maranhão. Lula havia recebido informações de que a candidatura de Ciro Gomes ganhava corpo no Estado. Afinal, o governador Flávio Dino (PCdoB), apesar de integrar a base aliada do PT, trabalhava com afinco para empinar a candidatura de Ciro. Até que Dino foi procurado pelo deputado José Guimarães, a quem coube repassar-lhe a orientação de Lula: que ele passasse a se dedicar a Haddad. “Dino tem que deixar de apoiar Ciro”, ordenou o petista da cadeia. Não parou por aí. Ao descobrir que um dos motores da candidatura de Ciro no Maranhão era o deputado Weverton Rocha (PDT-MA), candidato ao Senado, Lula, por meio de Gilberto Carvalho, destinou uma importante mensagem a Valdemar Costa Neto. “Faça chegar dinheiro à campanha de Weverton Rocha”. O deputado, conforme informações colhidas por Lula da prisão, precisava de R$ 6 milhões para deslanchar sua campanha. Com o apoio de Quintella, Valdemar deflagrou a operação para o envio do dinheiro ao Maranhão.
Um avião experimental Cirrus, da Vokan Seguros, a serviço da empreiteira CLC (Construtora Luiz Carlos), foi quem cuidou do transporte do dinheiro do Ceará com destino a São Luis. A CLC faz um trecho da BR-222, na região de Sobral (CE), uma obra do Ministério dos Transportes. No trajeto, percorrido no dia 14 de setembro, uma quase-tragédia: o avião acabou caindo com o dinheiro a bordo na cidade de Boa Viagem. Os recursos eram escoltados por um policial. Com o acidente, outros agentes foram ao local imaginando que a aeronave pudesse transportar drogas. Coube ao policial a bordo do Cirrus a tarefa de tranquilizar os colegas, dizendo-lhes que não se preocupassem com a ocorrência, pois ninguém havia ficado ferido. O dinheiro, contudo, chegou ao destinatário final, cumprindo os desígnios de Lula: a campanha do pedetista Weverton — convertido a empedernido cabo eleitoral de Haddad.
Mas ainda havia uma ponta solta no novelo da costura feita por Lula no Maranhão. Era preciso atrair para seu arco de alianças o ex-senador José Sarney e sua filha Roseana, candidata do MDB ao governo do Estado contra Flávio Dino. A família Sarney vinha trabalhando pela eleição do presidenciável do partido, Henrique Meirelles, mas a conduta mudou quando Sarney recebeu o recado de Lula, transmitido por meio de Gilberto Carvalho: “Quero a família Sarney na campanha do Haddad”, determinou Lula da cadeia. Os Sarneys fecharam também com Lula. Resultado: Haddad cresceu no Maranhão de 4% para 36% e Ciro estagnou nos 13%.
Em contrapartida, o cacique maranhense conta com a ajuda de eventual governo petista para sacramentar um negócio que envolve a TV Mirante, pertencente à família. Sarney deseja vender a emissora para o grupo Integração, de Minas Gerais.
Lula montou uma estratégia para beneficiar Haddad também em Alagoas. Para isso, contou com os préstimos do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Em mensagens transmitidas por Gilberto Carvalho a Renan, candidato à reeleição, Lula pediu para que o senador convencesse o também senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL) a desistir da disputa ao governo de Alagoas contra Renan Filho (MDB), candidato à reeleição. Àquela altura, Renanzinho ostentava 46% das intenções de voto e Collor 22%. Os dois rumavam para o segundo turno. A ideia acalentada por Lula era que Renanzinho fosse eleito no primeiro turno, reservando o segundo turno para se dedicar de corpo e alma a Haddad. Em troca, o filho de Renan se comprometeria a aumentar as verbas da mídia do governo dos atuais R$ 300 mil por mês para R$ 800 mil mensais para a TV de Collor em Maceió. O acerto, pelo visto, foi bem azeitado. Collor renunciou, Renanzinho saltou para 65% e deve ser reeleito na primeira etapa das eleições alagoanas.
Quem sabe, faz a hora. Agora, o PT espera que Renan Filho cristianize Meirelles em favor de Haddad. Há, no Estado, quem diga que isso já aconteceu. Na última semana, Haddad subiu de 2% para 28% em Alagoas. Avalista do acerto, Renan sonha em voltar a comandar o Senado, a partir de 2019, com o apoio de Lula.
No mapa eleitoral que estende sobre a solitária mesinha de sua cela na PF, Lula vislumbra que Haddad reúne chance de se eleger presidente se obtiver uma ampla vantagem no Nordeste, onde detém o apoio de quase 35% do colégio eleitoral brasileiro (mais de 50 milhões de eleitores). Foi graças à expressiva votação no Norte/Nordeste que Dilma Rousseff conseguiu superar Aécio Neves (PSDB) na disputadíssima corrida eleitoral de 2014. Lula espera repetir a dose. Desde que ativou o QG eleitoral na cadeia, há um mês, os resultados já se fizeram sentir. Haddad ascendeu nas pesquisas de intenção de voto de 4% para 22%, índices impulsionados pelo duplo twist carpado empreendido pelo petista na região, onde atingiu 34% — o dobro de Jair Bolsonaro. O avanço vermelho no Nordeste, operado por Lula da cadeia, acabou por minar a candidatura de Ciro Gomes. O pedetista chegou a ter mais de 20% na região, com tendência de alta, mas recuou.
O esforço de Lula no sentido de solapar, da sala-cela em Curitiba, candidaturas adversárias de seu poste ousou beliscar o ninho tucano no Piauí. Lá, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, que apoiava oficialmente a candidatura do tucano Geraldo Alckmin, virou casaca depois de receber um bilhete de Lula levado pelo deputado José Guimarães. “Ciro Nogueira tem que trocar Alckmin por Haddad”, determinou Lula. A intervenção do petista fez com que Haddad subisse de 6% para 38% no Piauí e Alckmin estacionasse no Estado. Até o Ceará, dominado pelo ex-governador Ciro Gomes, sentiu a mão pesada de Lula. O emissário também neste caso foi José Guimarães, um de seus maiores interlocutores no Nordeste. Por meio do aliado, Lula mandou um recado furioso ao governador Camilo Santana (PT), que fez coligação com o PDT no Estado. Camilo pedia votos também para Ciro no Ceará. Lula determinou, então, que se bandeasse para Haddad. Paralelamente, articulou com o senador Eunício Oliveira (MDB-CE), seu desembarque da candidatura de Meirelles, em prol do candidato do PT ao Planalto. Não para a surpresa de quem lê, a estratégia montada por Lula no Estado também envolve muito dinheiro — e , nesses casos, quem se apresenta para jogo é Valdemar Costa Neto. Para fazer Haddad decolar no Ceará, Valdemar estaria oferecendo R$ 2,4 milhões, recurso do fundo partidário do PR, para cada candidato da legenda a deputado federal. No meio penitenciário, policiais costumam dizer que os presos, por não trabalharem, utilizam o tempo ocioso para arquitetar novos crimes. Costumam repetir a velha máxima: “mente vazia, oficina do diabo”. E é o que parece que Lula está fazendo na cadeia: articulando estratégias suspeitas de novos ilícitos eleitorais. Para dizer o mínimo.



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Segundo Antonio Palocci: propina para campanha de Dilma foi acertada por Lula em reunião


No trecho da delação premiada de Antonio Palocci que teve o sigilo retirado pelo juiz federal Sergio Moro na segunda-feira, 1º.out.2018, o ex-ministro cita a suposta reunião no Palácio da Alvorada, em 2010, em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria pedido ao então presidente da Petrobras que encomendasse a construção de 40 sondas de exploração de petróleo para arrecadar propina à campanha de Dilma Rousseff à Presidência naquele ano. Ele já havia relatado a reunião em depoimento a Moro na Operação Lava Jato.
“Que, inclusive, pode afirmar que participou de reunião, no início de 2010, na biblioteca do Palácio do Alvorada, com a presença também de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, e José Sérgio Gabrielli, na qual o então Presidente da República foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobras que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava”, contou o ex-ministro.
Ainda na reunião, conforme o relato de Antonio Palocci à Polícia Federal, Lula lhe pediu que gerenciasse o dinheiro ilícito arrecadado a partir da corrupção nos contratos das sondas “e o seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República”.
“Que isso se dava, segundo Lula relatou e conforme narra o colaborador, para garantir que o projeto seria efetivamente desenvolvido por Gabrielli; que esta foi a primeira reunião realizada por Luiz Inácio Lula da Silva em que explicitamente tratou da arrecadação de valores a partir de grandes contratos da Petrobras”, diz Antonio Palocci.
Embora Palocci diga que essa foi a primeira vez em que Lula tratou de propina abertamente, o ex-ministro afirma que o ex-presidente sabia da corrupção na estatal, na atuação de ex-diretores como Renato Duque, indicado pelo PT à Diretoria de Serviços, e Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP à Diretoria de Abastecimento. Segundo Antonio Palocci, era comum, “em ambientes restritos”, Lula “reclamar e até esbravejar sobre assuntos ilícitos que chegavam a ele e que tinham ocorrido por sua decisão”.
Palocci já havia relatado a reunião no Alvorada em depoimento a Moro em setembro de 2017, no processo da Lava Jato que tem ele e Lula como réus e apura suposta propina de 12,9 milhões de reais ao ex-presidente por meio das compras de um terreno que abrigaria o Instituto Lula, em São Paulo, e de uma cobertura vizinha à do petista em São Bernardo do Campo.
Diante do magistrado, Antonio Palocci afirmou que “ele [Lula] falou: ‘olha eu chamei vocês aqui porque o pré-sal é o passaporte do Brasil para o futuro, é o que vai nos dar combustível para um projeto político de longo prazo no Brasil, ele vai pagar as contas nacionais, vai ser o grande financiador das contas nacionais, dos grandes projetos do Brasil, e eu quero que o Gabrielli faça as sondas pensando neste grande projeto para o Brasil. Mas o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto para que ele tenha total sucesso e para que ele garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira aqui, Dilma Rousseff, que eu quero ver eleita presidente do Brasil'”.



O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci está preso desde setembro de 2016


Propina em medidas provisórias — No trecho da delação de Antonio Palocci divulgado por Sergio Moro, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil narra sete modalidades de cobrança de propina, enumeradas de A a G. Um dos tópicos trata de “venda de emendas legislativas”, no qual ele estima que “das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas exóticas em propina”.
“A prática de venda de emendas se tornou corriqueira, particularmente na venda de emendas parlamentares para medidas provisórias vindas dos governos, casos em que algumas MPs já contam com algum tipo de vício destinado a atender financiadores específicos e saem do Congresso Nacional com a extensão do benefício ilícito a diversos outros grupos privados; Que em outras oportunidades a MP que não possui vício algum e ao tramitar pelo Congresso Nacional é acrescida de dispositivos que visam beneficiar financiadores”, afirmou Palocci.

Indicação de Paulo Roberto Costa — Segundo a delação de Palocci, Lula indicou Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras para “garantir espaço para ilicitudes”.
O ex-ministro afirmou que a Odebrecht entrou em conflito com Rogerio Manso, então Diretor de Abastecimento da estatal, por não encontrar espaço para negociar o preço da nafta — um derivado do petróleo — para a Braskem, empresa controlada pelo grupo.
Segundo ele, a Odebrecht se alinhou ao PP, porque o partido estava apoiando fortemente o governo e não encontrava espaço em ministérios e nas estatais, e passou a tentar derrubar Manso. Foi aí que, conforme Palocci, Lula agiu indicando Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento.
“Luiz Inácio Lula da Silva decidiu resolver ambos os problemas indicando Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento; que isso também visava garantir espaço para ilicitudes, como atos de corrupção, pois atendia tanto a interesses empresarias quanto partidários; que, assim, nas diretorias de Serviço e Abastecimento houve grandes operações de investimentos e, simultaneamente, operações ilícitas de abastecimento financeiro dos partidos políticos”, diz trecho da delação.
Paulo Roberto Costa é o primeiro delator da Lava Jato e foi condenado em vários processos da operação por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Devido ao acordo, ele cumpre pena em regime aberto e retirou a tornozeleira eletrônica em novembro de 2016.
Costa virou diretor da Petrobras em 2004, por indicação do ex-deputado federal José Janene (PP), morto em 2010. Ele permaneceu no cargo até 2012, quando pediu demissão e abriu uma empresa de consultoria.

Contas eleitorais — Palocci afirmou que as campanhas para eleição e reeleição de Dilma custaram valores que são maiores do que os apresentados pelo partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-ministro diz na delação que a campanha de 2010 gastou R$ 600 milhões, mas o declarado à Justiça Eleitoral foi R$ 153,09 milhões.
Já em 2014, Palocci afirma que foram gastos R$ 800 milhões na campanha que reelegeu Dilma. Na declaração apresentada ao TSE, está registrado gasto de R$ 350 milhões.
Na delação, Palocci diz que empresários contribuíam esperando benefícios em troca. “Ninguém dá dinheiro para campanha esperando relações triviais com o governo.”
O ex-ministro declarou ainda na delação que mesmo doações registradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) podem ser irregulares, “bastando que sua origem seja ilícita”. Palocci afirma que as “prestações regulares registradas no TSE são perfeitas do ponto de vista formal, mas acumulam ilicitudes em quase todos os recursos recebidos”.

PMDB — Palocci afirmou que o PMDB (atual MDB) “exigiu” de Lula a diretoria Internacional da Petrobras. “(...) O então deputado Fernando Diniz, líder da bancada do PMDB mineiro, com apoio de Henrique Alves, Eduardo Cunha e Michel Temer conseguem fazer Luiz Inácio Lula da Silva nomear Jorge Zelada para a diretoria”, afirma o documento.
Segundo o ex-ministro, Zelada assinou, em nome do MDB, um contrato que renderia US$ 40 milhões em propina.
“(...) O PMDB, ao ocupar a Diretoria Internacional, tratou de promover a celebração de um contrato de SMS na área internacional com a Odebrecht com larga margem para propina, a qual alcançava cerca de 5% do valor total de US$ 800 milhões, ou seja, US$ 40 milhões; que o contrato, tamanha a ilicitude revestida nele, teve logo seu valor revisado e reduzido de 800 para 300 milhões”.
O delator cita que, para conseguir a diretoria, o PMDB fez pressão, “com episódios de trancamento de pauta do Congresso, por exemplo”. Procurado, o MDB disse que não vai comentar as declarações de Palocci.

“Teste de versão” — Na delação, Palocci diz que, em fevereiro de 2007, quando ainda era deputado federal, foi chamado por Lula ao Palácio do Alvorada, logo após a reeleição dele à Presidência. Lula teria dito, bastante irritado, que havia tido ciência de que os diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque estavam envolvidos em diversos crimes nas suas diretorias.
Lula, então, indagou a Palocci quem havia nomeado os dois. O ex-ministro diz ter respondido que era o próprio Lula e que os diretores estavam agindo com parâmetros definidos pelo PT e pelo PP. Para Palocci, Lula queria fazer “uma espécie de teste de versão”.
O ex-ministro petista disse que “era comum Lula, em ambientes restritos, reclamar e até esbravejar sobre assuntos ilícitos que chegavam a ele e que tinham ocorrido por sua decisão”, e que “a intenção de Lula era clara no sentido de testar os interlocutores sobre seu grau e conhecimento e o impacto de sua negativa”.

Acordo de delação — O acordo de Palocci foi firmado com a Polícia Federal no fim de abril e homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
No termo de delação, o ex-ministro se comprometeu a pagar R$ 37,5 milhões como indenização pelos danos penais, cíveis, fiscais e administrativos dos atos que praticou. Na decisão de homologação, o desembargador João Pedro Gebran Neto afirma que “não cabe, neste momento inicial, o exame detido do conteúdo das declarações até então prestadas”.
Palocci está preso desde setembro de 2016 e tem uma condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Anteriormente, Palocci tinha tentado fechar um acordo com o Ministério Público Federal (MPF), mas sem sucesso.
Antonio Palocci foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-ministro está detido na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
O juiz Sérgio Moro entendeu que o ex-ministro negociou propinas com a Odebrecht, que foi beneficiada em contratos com a Petrobras. No mês de abril, por 7 votos a 4, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram manter na cadeia o ex-ministro.
Palocci responde a mais uma ação penal na 13ª Vara de Curitiba. Ele é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo que apura a compra de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP) e de um terreno onde seria construída uma nova sede para o Instituto Lula em São Paulo.
Em abril de 2017, ao ser interrogado por Moro, Palocci se colocou à disposição para apresentar “fatos com nomes, endereços e operações realizadas”. Em setembro, ele afirmou para Moro que Lula tinha um “pacto de sangue” com Emilio Odebrecht que envolvia um “pacote de propina”. À época, aos advogados que representam o ex-presidente afirmaram que Palocci fez “acusações falsas e sem provas”.
Palocci afirmou à Polícia Federal que havia “um interesse social e um interesse corrupto com a nacionalização e desenvolvimento do projeto do pré-sal”.
O ex-ministro disse ainda que empresas de marketing e propaganda ligadas ao então gerente-executivo de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, destinavam 3% dos contratos ao PT pelos tesoureiros.


Em nota, a defesa do ex-presidente Lula afirmou que “Palocci mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova”. Os advogados dizem ainda que a decisão de Moro “apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente” e que o juiz “tem o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados”.

A ex-presidente Dilma divulgou nota na qual afirma que o valor apontado por Palocci é “absolutamente falso”. “Tal afirmação, pela leviandade e oportunismo delirantes, só permite uma conclusão: que o senhor Palocci saiba onde se encontra R$ 1 bilhão, já que o valor declarado e aprovado pelo TSE é cerca de um terço disso”, diz o texto. Ela chama a quebra de sigilo da delação do ex-ministro de “factoide eleitoral”.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que Moro “não podia deixar de participar do processo eleitoral” e que ele tenta “pela enésima vez destruir Lula”.




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