Mais uma declaração “infeliz” de José Dirceu
Em entrevista ao jornal El País, o ex-ministro José Dirceu afirmou que
seria uma questão de tempo “para a gente tomar o poder”, além de querer
retirar o poder de investigação do Ministério Público e de restringir o
papel do Supremo Tribunal Federal (STF) ao de uma Corte constitucional
no País.
O ex-ministro respondendo a uma pergunta sobre se havia possibilidade de
o PT ganhar a eleição, mas não levar. Disse que achava improvável, que a
comunidade internacional não aceitaria. E completou: “E dentro do País é
uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o
poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.
No domingo, dia 30.set.2018, Dirceu tratou da polêmica. Ele afirmou que
usou uma expressão “infeliz”. “Porque dá condições para se explorar como
se eu tivesse falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra
coisa que é tomar o poder. Eu estava respondendo no caso de um golpe.”
O ex-ministro José Dirceu |
Dirceu iniciou um périplo pelo Brasil em 4 de setembro para lançar a
biografia. “E como sempre, vou fazer política, que ninguém é de ferro”,
disse na ocasião. Percorreu 11 capitais. Começou a viagem de carro. Está
em companhia da mulher, da filha menor e do editor de seu livro, o
jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração.
Na Bahia, a editora alugou um ônibus leito na empresa Corumbal. “É uma
pequena empresa que tem oito veículos comumente alugados para bandas de
música”, afirmou Emediato. O ônibus que leva Dirceu havia sido usado
antes por uma banda de axé.
A rotina do ex-ministro é de encontros com a militância petista,
entrevistas para jornalistas locais e sessões de autógrafos. A
receptividade de Dirceu entre o público lulista pode ser medida pelas
vendas do livro — cerca de 25 mil exemplares até o momento.
Ao mesmo tempo, a rejeição a ele pode explicar a forma escolhida por ele
para viajar. No ônibus leito, o ex-chefe da Casa Civil pode escapar ao
incômodo de hostilidades, geralmente registradas por meio de telefones
celulares em aviões.
O ônibus não impede, no entanto, que o ex-ministro tenha de pensar em
estratagemas: para ir a restaurantes sem ser incomodado, Dirceu usa um
chapéu e óculos escuros. Ele esteve em todas as capitais do Nordeste,
região chave para Haddad. Na segunda-feira, dia 1º.out.2018, deixou São
Luís (MA) e foi para Belém, capital do Pará, último ponto antes do
primeiro turno das eleições.
Enquanto espera a definição da Justiça, Dirceu escreve outros dois
livros: um sobre o sistema penal e um romance sobre a luta armada.
Dirigentes do PT repreenderam o ex-ministro José Dirceu em razão de suas últimas entrevistas.
Um interlocutor afirmou que no partido a avaliação é de que o
ex-ministro está “falando demais”. Além da reação dos dirigentes, a
campanha de Fernando Haddad, o presidenciável petista, quer distância
das declarações polêmicas de Dirceu — solto em junho pela Segunda Turma
do STF após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato. As
falas causaram irritação pelo momento em que foram feitas — a reta
final da campanha — e por obrigar a candidatura de Haddad a uma postura
defensiva. Dirceu, segundo outro dirigente, quer “mostrar uma
importância que não tem”.
A ordem é dizer que o papel do ex-ministro é zero na campanha e evitar
que suas declarações tenham impacto na campanha de Haddad, como as de
auxiliares do principal oponente do PT, o candidato do PSL, Jair
Bolsonaro.
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