sexta-feira, 12 de outubro de 2018



Um ótimo aviso



O segundo turno da disputa presidencial tornou-se um triste espetáculo. Nele, o presidenciável petista Fernando Haddad executa um striptease.
Haddad se despe de tudo o que possa lembrar o PT. Já não usa a máscara de Lula. Livrou-se do vermelho nas peças de campanha. Não bate mais ponto na cadeia de Curitiba. Parou de dizer nas entrevistas “boa noite, presidente Lula”. Baniu Dilma da memória.
Às voltas em compor uma “frente democrática”, Haddad faz de tudo para convencer as pessoas de que é maior do que o PT. Mas tudo parece não querer nada com Haddad.




Na virada de um turno para o outro, o PT excluiu Lula do material de campanha de Haddad, substituindo o vermelho partidário pelo verde e amarelo da pátria. Mas a reforma gráfica dos panfletos talvez não seja suficiente para atenuar em poucos dias uma rejeição construída em 14 anos de governos petistas.






Fernando Haddad frequenta a cena eleitoral como um candidato-laranja de Lula. Seu padrinho é um ficha-suja com sentença de segunda instância. Mas Haddad o chama de “preso político”. Com isso, desrespeita o Judiciário. Em entrevista a jornalistas estrangeiros, o candidato petista teve mais uma chance de se reconciliar com o óbvio. Esbarrou no óbvio, tropeçou no óbvio e, sem pedir desculpas, seguiu adiante.
Instado a falar sobre os erros dos governos do PT na economia e na Venezuela, Haddad disse que já escreveu “ensaios longos sobre os equívocos que nós cometemos”. Não conseguiu reconhecer que os venezuelanos vivem sob um regime autocrático. Citou dois “equívocos”: 1) O excesso de desonerações fiscais concedidas no final do primeiro mandato de Dilma Rousseff; 2) A ausência de uma reforma política.
Abstendo-se de citar os escândalos do mensalão e do petrolão, Haddad acomodou toda a corrupção que marcou as administrações do PT sob o manto diáfano da reforma política. Sob Dilma, produziu-se a mais severa recessão da história. Foram ao olho da rua mais de 11 milhões de brasileiros. E Haddad sustenta que o único problema foi o excesso de desonerações do final do primeiro mandato de Dilma.
Sob Lula e Dilma, o acerto das grandes propinas foi negociado no Ministério da Fazenda. Primeiro por Antonio Palocci. Depois, por Guido Mantega. A cúpula petista foi em cana, inclusive Lula. E Haddad passeia pelos escombros morais do petismo como se o responsável pelas ruínas fosse um sujeito oculto: “Qualquer pessoa podia falar em nome do partido …”

Ao sonegar uma autocrítica aos brasileiros, Haddad estimula a conclusão de que, eleito, repetirá os desatinos econômicos de Dilma e permitirá que correligionários e aliados voltem a plantar bananeira dentro dos cofres públicos.
A palavra de um presidente da República é o seu atestado. Ou a plateia confia no que seu presidente afirma ou se desespera. A suspeita de que as boas intenções do presidenciável não passa de um disfarce de quem não tem condições de se dissociar da própria precariedade ou da voracidade da banda podre do seu partido conduz o brasileiro a um ceticismo terminal. Haddad ainda não foi capaz de inspirar bons exemplos. Mas tornou-se ótimo aviso.




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