Procuradores preparam denúncia contra Lula
por tríplex e sítio
por tríplex e sítio
Ex-presidente Lula e o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, no apartamento triplex no Guarujá |
Os procuradores da Operação Lava-Jato já estão preparando denúncia
contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por supostos crimes
cometidos em transações relacionadas ao tríplex do edifício Solaris, em
Guarujá, e ao sítio em Atibaia, segundo disse uma fonte que acompanha o
caso de perto. Não está decidido, no entanto, se Lula será denunciado
por corrupção passiva, ocultação de patrimônio ou lavagem de dinheiro,
ou pelos três crimes em conjunto. Para investigadores, as provas são
suficientes para apresentar acusação formal contra o ex-presidente à
Justiça Federal, mesmo sem a propalada delação do ex-presidente da OAS
Léo Pinheiro.
Para investigadores, as informações recolhidas desde o início das
investigações são indícios contundentes de que Lula é o verdadeiro dono
do sítio em Atibaia. A propriedade está registrada em nome dos
empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuana. Mas, para o Ministério
Público, os dois seriam apenas testas de ferro do ex-presidente.
Os investigadores entendem que Lula e a mulher Marisa Letícia não teriam
mandado fazer reformas, enviar parte da mudança e frequentar com
regularidade o sítio se não fossem proprietários do imóvel. Para eles,
Lula e Marisa estavam no completo usufruto da propriedade até o caso ter
se tornado público durante as investigações da Lava-Jato. No entanto,
apesar de a ex-primeira-dama ter sido indiciada pela Polícia Federal, os
procuradores ainda não decidiram se irão denunciá-la, já que ela não
tinha cargo público.
Segundo um investigador, as acusações contra Lula estão fundamentadas em
perícias e outros documentos obtidos ao longo da apuração,
independentemente da versão apresentada pela OAS antes e depois do
início de um pré-acordo de delação premiada de Pinheiro.
Pré-acordo de delação premiada do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro —
As negociações sobre o acordo foram suspensas na semana passada, depois
de a revista “Veja” divulgar acusações contra o ministro Dias Toffoli,
do Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral determinou a
suspensão das tratativas por considerar que a divulgação seria uma
tentativa de forçar o Ministério Público a aceitar o acordo.
Esta semana, a revista traz informações que teriam sido dadas por Léo
Pinheiro em sete anexos das tratativas do pré-acordo de delação
premiada. Segundo a revista, Léo Pinheiro ficou sabendo, por meio de uma
reportagem, publicada em 2010, que Lula seria o proprietário de um
tríplex no edifício Solaris, em Guarujá, que a empreiteira havia
assumido da Bancoop, cooperativa insolvente do Sindicato dos Bancários
de São Paulo. O empresário diz ter entrado em contato com João Vaccari,
ex-presidente da Bancoop, que confirmou o teor da reportagem e que teria
pedido que o tríplex não fosse vendido a terceiros, porque seria
reservado a Lula. De acordo com a revista, Léo Pinheiro afirmou ter
acertado com Vaccari que o valor do imóvel seria abatido dos créditos
que o PT tinha a receber por conta de propinas em obras da OAS na
Petrobras. “Nesse contato, perguntei para João Vaccari se o
ex-presidente Lula tinha conhecimento do fato, e ele respondeu
positivamente”, teria contado o empresário.
A reportagem afirma que o tríplex do Guarujá foi tema do anexo 1 do
acordo de colaboração de Léo Pinheiro. De acordo com Veja, Léo Pinheiro
diz que, mais tarde, Paulo Okamotto, do Instituto Lula, entrou em
contato com ele dizendo que Lula queria conhecer a unidade. O próprio
Leo acompanhou a visita de Lula e sua mulher, Marisa Letícia. Em
seguida, a OAS teria começado a reformar o imóvel com a expectativa que o
apartamento fosse usado por Lula. Segundo a revista, Léo Pinheiro disse
que a reforma não seria cobrada e que não pensava em vender o
apartamento ao ex-presidente, pois toda a negociação era tratada por ele
como abatimento de propina devida ao PT e retribuição aos serviços
prestados pelo ex-presidente na internacionalização da OAS.
A revista afirma que, em 2014, Paulo Okamotto, presidente do Instituto
Lula, chamou Léo Pinheiro para uma reunião na sede do instituto.
Chegando lá, teria sido atendido por Lula, que lhe pediu abertamente que
fosse feita uma reforma no sítio de Atibaia. Segundo o empresário, não
houve menção a pagamento pelos serviços, e ficou implícito que a
remuneração viria dos créditos de propina do PT ou dos serviços
prestados por Lula em favor de negócios da empresa fora do país.
O próprio Lula teria pedido alteração na porta principal da casa, o que
obrigou a empreiteira a demolir uma parede da cozinha e,
consequentemente, teve de ser feito um novo projeto para os móveis
planejados. "Eu e Lula ainda fizemos uma vistoria geral no sítio", teria
dito o empresário, acrescentando que Lula também demonstrou preocupação
com a impermeabilização do lago. Léo Pinheiro teria dito que o sítio
nunca foi apontado como sendo de terceiros. Ao contrário, era mencionado
como propriedade de Lula.
Léo Pinheiro também teria dito que, em 2011, pediu a Paulo Okamotto
incluir a Costa Rica num roteiro de Lula pela América Central, pois a
OAS estava se preparando para fazer negócios no país. Okamotto teria
dito que Lula poderia influenciar em prol dos negócios e a OAS contratou
o ex-presidente para fazer uma palestra naquele país, em agosto de
2011, pagando R$ 200 mil para a LILS Palestras.
Depois da palestra, Lula teria incluído Léo Pinheiro num jantar
oferecido pela então presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla. Durante
o encontro, Lula o apresentou à Laura e afiançou a empresa, dizendo que
o governo da Costa Rica poderia atuar com a empreiteira sem qualquer
preocupação.
"Veja" diz ainda que Léo Pinheiro afirmou que foi também Okamotto que
pediu, em 2010, quando Lula ainda era presidente, que a empresa
custeasse a guarda do acervo presidencial, já que o mandato estava
prestes a ser encerrado. Okamotto teria dito que Lula poderia ajudar a
empresa a aumentar sua presença no exterior por meio de sua influência
junto a outros governantes. Léo Pinheiro disse que concordou em pagar a
conta de R$ 1 milhão pela guarda do acervo visando contar com o apoio de
Lula.
O Ouro Lado — Os advogados do ex-presidente Lula afirmaram na
sexta-feira (26.ago.2016) que o indiciamento do ex-presidente e sua
mulher, Marisa Letícia, pela Polícia Federal, no inquérito que investiga
obras no tríplex do Guarujá é uma “peça de ficção”, pois o apartamento
está no nome da OAS e a família nunca usufruiu do imóvel.
No sábado (27.ago.2016), os advogados do ex-presidente Lula divulgaram
nota na qual repudiam as supostas citações a Lula atribuídas ao
empresário Léo Pinheiro, publicadas pela revista 'Veja'. "Não se trata
da verdade dos fatos, mas da mera versão que procuradores da República
da Lava Jato — desesperados para incriminar Lula, mesmo sabendo de sua
inocência — gostariam de impor para a concessão de delação premiada a
pessoas submetidas a situação de ilegal submissão ou em situação
processual desfavorável, caso de Léo Pinheiro", diz a nota.
Na nota, os advogados voltam a dizer que Marisa Letícia pagou por sua
cota no edifício entre 2005 a 2009 e que, para comprar o tríplex, teria
de pagar uma diferença, mas não houve interesse de Lula na aquisição do
imóvel.
Sobre o armazenamento de bens, a defesa do ex-presidente ressalta que
não há crime no pagamento feito pela OAS e que o Instituto Lula foi
fundado em 2011, depois do término do mandato presidencial. O acervo,
dizem os advogados, reúne documentos de interesse público e histórico e
não são bens pessoais do ex-presidente.
Os defensores de Lula afirmam que nem mesmo na narrativa apresentada
sobre uma palestra de Lula feita na Costa Rica não é possível
identificar qualquer crime na conduta do ex-presidente
Também repetiram que ele não é dono do sítio de Atibaia. "A devassa
feita na vida do ex-Presidente e de seus familiares mostrou que, após 40
anos de vida pública, ele é honesto e comprometido com os valores que
defende, incluindo o combate à corrupção".
O advogado de Paulo Okamotto, Fernando Fernandes, afirmou que não pode
se manifestar sobre uma delação da qual não tem conhecimento do conteúdo
formal. Disse, no entanto, que não há qualquer ilícito no fato de a OAS
ter pagado pela armazenagem do acervo presidencial de Lula, que é um
acervo privado de interesse público, pois não pode ser jogado fora ou
vendido.
— Eram cerca de seis contêineres, dois deles apenas de correspondências.
Esse material não cabia no Instituto Lula ou no apartamento do
ex-presidente. A OAS contribuir para evitar que o acervo estragasse e
não há ilegalidade ou vantagem oferecida — disse o advogado.
Fernandes disse que a atribuição do Instituto Lula é zelar pela memória
do ex-presidente e isso inclui a manutenção do acervo. Além disso,
Okamotto não é funcionário público e os pagamentos da OAS foram feitos
depois que Lula deixou a presidência.
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