Planalto receia que Temer seja alvo de panelaço
Michel Temer Presidente interino |
Ao decidir levar ao ar seu primeiro pronunciamento no feriado em 7
de Setembro, Michel Temer deu de ombros para ponderações que ouviu
de auxiliares. Integrantes de sua equipe receiam que ele seja alvo
do seu primeiro panelaço. Embora concorde com a avaliação, Temer
decidiu correr o risco.
Temer se esforça para conviver com a impopularidade. Há duas
semanas, foi à abertura dos Jogos Olímpicos sabendo que seria
hostilizado. Evocou Nelson Rodrigues: “No Maracanã, vaia-se até
minuto de silêncio.” Ao anunciar a abertura da Olimpíada, foi vaiado
mesmo sem que seu nome tivesse sido mencionado no sistema de som.
Temer faltou à cerimônia de encerramento, na noite de domingo
(21.ago.2016). Enviou como representante o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado sentou-se ao lado do presidente do
Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach. Mas sua presença também
não foi anunciada pelo cerimonial do evento.
Numa tentativa de vacinar Temer contra o panelaço, o Planalto volta
a se escorar em Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”, disse
um auxiliar do presidente que, em poucos dias, deve ser efetivado no
cargo pelo Senado. “As manifestações da sociedade são parte da
democracia”, acrescentou.
Em junho, o medo de panelaço fizera Temer desistir de uma aparição
em rede nacional de rádio e tevê. O governo enviara ao Congresso a
proposta de emenda constitucional que cria um teto para limitar o
crescimento das despesas públicas. E Temer programara-se para bater
bumbo na vitrine eletrônica. Celebraria a normalização das relações
com o Legislativo e a retomada da confiança dos agentes econômicos.
Recuou depois de ouvir o estrondo da delação premiada de Sérgio
Machado, o ex-tucano que se converteu ao PMDB e presidiu a
Transpetro por quase 12 anos. Período em que fez da subsidiária da
Petrobras uma usina de trambiques e propinas.
Machado ocupou manchetes nas quais o Planalto imaginara que
acomodaria seu otimismo econômico. Índio da tribo do pajé Renan
Calheiros, o delator disse ter recolhido R$ 115 milhões no balcão da
Transpetro. Distribuiu-os a 23 políticos de oito partidos. A parte
do leão, R$ 100 milhões, foi destinada aos cardeais do PMDB. Nessa
versão, a pedido de Temer, R$ 1,5 milhão fora borrifado na campanha
de Gabriel Chalita, então candidato a prefeito de São Paulo pelo
PMDB.
A aparição de Temer representará uma espécie de ressurreição dos
pronunciamentos oficiais de presidente. Sob Dilma, a ferramenta
havia sido abandonada desde maio de 2015. Madame fugiu dos panelaços
refugiando-se na internet. Rompendo a tradição, cancelou a exibição
da mensagem do Dia do Trabalho em rede nacional. Veiculou-a nas
redes sociais.
O então ministro Edinho Silva (Comunicação Social da Presidência)
disse na época que Dilma não fugiu do horário nobre da tevê por medo
das panelas. Ela “só está valorizando outro modal de comunicação. Já
valorizou a rádio, valoriza todos os dias a comunicação impressa. E
resolveu valorizar as redes sociais.” Dilma jamais seria vista
novamente numa rede nacional.
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