‘Barulho’ sobre 2018
Henrique Meirelles |
Principal ministro de Michel Temer, o czar da economia Henrique
Meirelles passou a ser visto no novo condomínio governista como um
presidenciável esperando para acontecer. Seus críticos mais mordazes
estão no PSDB. Em privado, Meirelles reage à onda de ciúmes com
ironia.
Numa entrevista Meirelles roçou a fronteira do sarcasmo ao ser
indagado sobre a hipótese de o rumor em torno de sua candidatura
atrapalhar a aprovação das reformas. Disse que o “barulho” é sinal
de que o seu itinerário econômico “está na direção certa”.
“Parece que não são apenas os empresários e os consumidores que
estão mais otimistas”, disse Meirelles. “Pelo visto, até os
políticos começam a acreditar no sucesso desse plano econômico.
Tanto é assim que já discutem abertamente qual será o efeito
eleitoral. Do meu ponto de vista, não posso me desviar do foco
daquilo que estamos fazendo e ficar entrando em discussões sobre
hipóteses. Não trabalho sobre hipóteses.”
Na dúvida entre não parecer o que é e não ser o que parece,
Meirelles optou por uma fórmula ainda mais enganadora: decidiu ser e
parecer. Indagado se seria um problema caso declarasse a intenção de
ser candidato: “No momento, sou candidato a botar a economia para
crescer”, disse o ministro, antes de se escorar novamente na ironia:
“Olhando esse barulho todo, acho relevante apenas o seguinte: puxa
vida, até os políticos começam a acreditar que o ajuste dará certo e
a economia voltará a crescer. Portanto, nosso plano está na direção
certa.”
O PSDB está inquieto porque sabe como esse tipo de enredo pode
terminar. Em 1993, o tucano Fernando Henrique Cardoso virou ministro
da Fazenda de Itamar Franco, o Michel Temer da época. O inimigo de
então era o tigre da superinflação. Domando-o, FHC elegeu-se
presidente da República um par de vezes. Hoje, alguém que coloque
lenha nas fornalhas da economia e inverta a curva do desemprego vira
uma alternativa presidencial instantânea.
De resto, as ambições políticas de Meirelles são conhecidas. O
personagem debutou na política em 2002. Elegeu-se deputado federal
pelo PSDB de Goiás. Convidado por Lula para a presidência do Banco
Central, renunciou ao mandato antes de tomar posse na Câmara.
Na sucessão presidencial de 2010, quando fabricou a candidatura de
Dilma, Lula tentou enfiar Meirelles na chapa. Ofereceu-lhe a vaga de
vice, estimulando-o a se filiar ao PMDB. Michel Temer levou o pé à
porta. Unificou o PMDB e tornou-se, ele próprio, o vice de Dilma.
Preterido, Meirelles migrou para o PSD de Gilberto Kassab, onde
permanece.
No momento, Meirelles talvez devesse trazer suas opiniões políticas
na coleira. O único lugar onde a candidatura vem antes do trabalho é
no dicionário. Em política, de resto, uma refinada ironia sempre
pode ter que engrossar quando se deparar com outra ironia mais
hábil.
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