Possível racha na base aliada do presidente Michel Temer
A decisão do Senado de permitir que Dilma Rousseff possa exercer cargo
público mesmo após ter sido cassada gerou um novo racha na base aliada
do presidente Michel Temer. Parlamentares do PSDB e DEM acusam o PMDB de
ter feito um acordo para "livrar" Dilma e amenizar a sua pena por crime
de responsabilidade. O atual líder tucano na Casa, Cássio Cunha Lima
(PB) chegou a dizer que está "fora do governo". O discurso, porém, foi
suavizado pelo presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), que
considerou que "a questão essencial foi resolvida". Mesmo assim, Aécio
diz que a decisão de hoje causa "enormes preocupações".
Na terça-feira (30.ago.2016), Temer chegou a ser consultado por aliados
sobre a possibilidade de separar a condenação de Dilma e, "como
jurista", deu aval, segundo um senador do partido que o consultou. Nesta
quarta-feira (31.ago.2016), o PSDB votou em peso contra a possibilidade
da presidente deposta manter a possibilidade de assumir um cargo
público. Por outro lado, peemedebistas expressivos, como o presidente do
Senado, Renan Calheiros (AL), votaram a favor da petista. Lideranças da
antiga oposição consideram que Renan teria sido um dos principais
responsáveis por intermediar as negociações.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que
a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Ricardo Lewandowski, de aceitar a votação em separado do impeachment da
presidente cassada Dilma Rousseff e da sua inabilitação para função
pública abre um precedente para o julgamento da cassação do deputado
afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O advogado de defesa da presidente cassada Dilma Rousseff, José Eduardo
Cardozo, avaliou que a presidente não se enquadra na Lei da Ficha Limpa
porque não cometeu crime de improbidade. Segundo ele, crime de
responsabilidade não consta dessa lei. "Ficar proibido de exercer
funções por questão orçamentária é um absurdo", avaliou.
O líder do governo no Senado, o tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP),
negou rumores de que poderia deixar o cargo após a decisão do plenário
do Senado que manteve a presidente cassada Dilma Rousseff habilitada a
concorrer a cargos públicos. O PSDB votou fechado contra essa proposta,
mas foi derrotado por uma articulação que envolveu principalmente o PT e
o PMDB.
A atuação de Renan Calheiros e de parte do PMDB na manutenção dos
direitos políticos de Dilma Rousseff foi a gota d’água para o líder do
DEM no Senado, Ronaldo Caiado.
Poucas horas após o impeachment ele já anunciou que não fará parte da base do governo e terá uma atuação independente.
Nos últimos dias o senador já vinha reclamando da falta de pulso do
governo para realizar o ajuste fiscal que considera necessário e
condenava a complacência do governo com aumentos aos servidores públicos
em meio à grave crise de emprego e renda.
O PSDB continua a mandar recados de como o governo deve atuar. Para o
senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), uma das medidas mais importantes que
Michel Temer poderia tomar no início de sua presidência efetiva seria
trabalhar contra o aumento dos ministros do STF.
Segundo o senador, isso seria não só simbólico, como também uma
demonstração concreta de novos rumos de governo. A causa também traria
peso a favor para sua legitimação no cargo.
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