Aliados de Dilma tentam até o último minuto obter os 28 votos para garantir absolvição — Dilma Rousseff autorizou troca de cargos por votos no Senado
A presidente afastada, Dilma Rousseff, chegando ao Senado para responder às perguntas de senadores durante a sessão que julga o impeachment |
As conversas vão continuar intensas até possivelmente a madrugada de
quarta-feira (31.ago.2016), quando será proferido o veredicto final do
julgamento de Dilma Rousseff. Aliados da petista mantêm contatos com
senadores considerados não ideológicos e que poderiam, em tese, oferecer
uma “virada espetacular” a favor da presidente afastada. Mas essa
possibilidade é remotíssima.
As conversas são explícitas. São oferecidos ministérios e cargos em
empresas estatais para os senadores que se dispuserem, como dizem os
petistas, a “barrar o golpe”. Trata-se de fisiologismo? A resposta vem
em forma sarcástica. “Mas é um fisiologismo esclarecido. É para um bem
maior”, responde um grão-petista.
A expressão é uma analogia com outra muito usada nas narrativas dos
chamados progressistas. Trata-se do “déspota esclarecido”, definição
usada para designar ditadores que eventualmente se alinham a posições
simpáticas à esquerda.
Eis 11 senadores na mira do “fisiologismo esclarecido” em uso pelo PT,
com a anuência de Dilma Rousseff: Benedito de Lira (PP-AL), Davi
Alcolumbre (DEM-AP), Edison Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB-AM),
Hélio José (PMDB-DF), Fernando Collor (PTC-AL), João Alberto (PMDB-MA),
Romário (PSB-RJ), Roberto Rocha (PSB-MA), Sérgio Petecão (PSD-AC) e
Wilder Morais (PP-GO).
No último dia 10 de agosto, quando foi aprovada a “pronúncia do
processo”, todos os 11 senadores listados votaram a favor do afastamento
definitivo da petista.
Para cassar Dilma Rousseff são necessário 2/3 dos 81 senadores. Ou seja, no mínimo 54 votos.
Se todos os 81 senadores estiverem no julgamento nesta semana e todos
tomarem posição — ou seja, ninguém optar por se abster —, Dilma precisa
de 28 votos para se salvar (assim sobrariam só 53 votos para os que são a
favor do impeachment). No dia 12 de maio, na admissibilidade no Senado
do processo de impeachment, a petista recebeu apenas 22 apoios.
Tanto entre governistas como entre os dilmistas são consideradas remotas
as chances de sucesso para a presidente afastada. As tentativas de
oferta de cargos são tratadas de maneira até jocosa.
Um senador abordado para receber ministério em troca de voto a favor de
Dilma Rousseff brincou ao relatar o episódio. Disse ter perguntado: “Mas
vou ficar no cargo só 60 dias?''. O dilmista portador da oferta quis
saber a razão da dúvida. E o senador: “É que ela disse que vai renunciar
para ter novas eleições. Então, para que vou aceitar ser ministro por
tão pouco tempo?''.
Houve também uma contraofensiva do Palácio do Planalto. Há semanas
Michel Temer vem monitorando os movimentos de Dilma para cooptar mais
votos no Senado. O presidente interino apressou-se em receber
pessoalmente vários dos possíveis alvos da petista. Ofereceu cargos e
influência no caso de o impeachment ser aprovado.
Para que Dilma Rousseff tivesse sucesso seria necessário que fossem
colocados todos os senadores cooptáveis em uma mesma sala e o acerto
fosse feito ali, coletivamente, com cada 1 saindo com seu ministério
garantido. Dessa forma todos estariam seguros de que seus votos
pró-Dilma não seriam em vão.
Essa operação conjunta, em Brasília, é inexequível quando se trata de operar fisiologia tão abertamente.
Para complicar, é necessário levar em conta 4 pontos que impedem a petista de reverter com facilidade o atual cenário:
- continua havendo uma incapacidade operacional política gigante no grupo que assessora Dilma no dia a dia;
- a maioria do PT quer se livrar logo da presidente afastada;
- os senadores agora cortejados estão quase todos bem acomodados nas sesmarias oferecidas por Michel Temer.
Tudo considerado, é mínima a chance de a petista ter sucesso nesse seu
“sprint” fisiológico final — mesmo usando o adjetivo “esclarecido” para
tentar edulcorar a estratégia.
Trata-se aqui de política. Não é prudente dizer de maneira peremptória
que o destino de Dilma esteja selado e seja irreversível. O julgamento
deve terminar daqui a 2 dias.
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