quarta-feira, 24 de agosto de 2016

‘Barulho’ sobre 2018



Henrique Meirelles


Principal ministro de Michel Temer, o czar da economia Henrique Meirelles passou a ser visto no novo condomínio governista como um presidenciável esperando para acontecer. Seus críticos mais mordazes estão no PSDB. Em privado, Meirelles reage à onda de ciúmes com ironia.
Numa entrevista Meirelles roçou a fronteira do sarcasmo ao ser indagado sobre a hipótese de o rumor em torno de sua candidatura atrapalhar a aprovação das reformas. Disse que o “barulho” é sinal de que o seu itinerário econômico “está na direção certa”.
“Parece que não são apenas os empresários e os consumidores que estão mais otimistas”, disse Meirelles. “Pelo visto, até os políticos começam a acreditar no sucesso desse plano econômico. Tanto é assim que já discutem abertamente qual será o efeito eleitoral. Do meu ponto de vista, não posso me desviar do foco daquilo que estamos fazendo e ficar entrando em discussões sobre hipóteses. Não trabalho sobre hipóteses.”
Na dúvida entre não parecer o que é e não ser o que parece, Meirelles optou por uma fórmula ainda mais enganadora: decidiu ser e parecer. Indagado se seria um problema caso declarasse a intenção de ser candidato: “No momento, sou candidato a botar a economia para crescer”, disse o ministro, antes de se escorar novamente na ironia: “Olhando esse barulho todo, acho relevante apenas o seguinte: puxa vida, até os políticos começam a acreditar que o ajuste dará certo e a economia voltará a crescer. Portanto, nosso plano está na direção certa.”
O PSDB está inquieto porque sabe como esse tipo de enredo pode terminar. Em 1993, o tucano Fernando Henrique Cardoso virou ministro da Fazenda de Itamar Franco, o Michel Temer da época. O inimigo de então era o tigre da superinflação. Domando-o, FHC elegeu-se presidente da República um par de vezes. Hoje, alguém que coloque lenha nas fornalhas da economia e inverta a curva do desemprego vira uma alternativa presidencial instantânea.
De resto, as ambições políticas de Meirelles são conhecidas. O personagem debutou na política em 2002. Elegeu-se deputado federal pelo PSDB de Goiás. Convidado por Lula para a presidência do Banco Central, renunciou ao mandato antes de tomar posse na Câmara.
Na sucessão presidencial de 2010, quando fabricou a candidatura de Dilma, Lula tentou enfiar Meirelles na chapa. Ofereceu-lhe a vaga de vice, estimulando-o a se filiar ao PMDB. Michel Temer levou o pé à porta. Unificou o PMDB e tornou-se, ele próprio, o vice de Dilma. Preterido, Meirelles migrou para o PSD de Gilberto Kassab, onde permanece.
No momento, Meirelles talvez devesse trazer suas opiniões políticas na coleira. O único lugar onde a candidatura vem antes do trabalho é no dicionário. Em política, de resto, uma refinada ironia sempre pode ter que engrossar quando se deparar com outra ironia mais hábil.




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