segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Aliados de Dilma tentam até o último minuto obter os 28 votos para garantir absolvição — Dilma Rousseff autorizou troca de cargos por votos no Senado



A presidente afastada, Dilma Rousseff, chegando ao Senado
para responder às perguntas de senadores durante a sessão que julga o impeachment


As conversas vão continuar intensas até possivelmente a madrugada de quarta-feira (31.ago.2016), quando será proferido o veredicto final do julgamento de Dilma Rousseff. Aliados da petista mantêm contatos com senadores considerados não ideológicos e que poderiam, em tese, oferecer uma “virada espetacular” a favor da presidente afastada. Mas essa possibilidade é remotíssima.
As conversas são explícitas. São oferecidos ministérios e cargos em empresas estatais para os senadores que se dispuserem, como dizem os petistas, a “barrar o golpe”. Trata-se de fisiologismo? A resposta vem em forma sarcástica. “Mas é um fisiologismo esclarecido. É para um bem maior”, responde um grão-petista.
A expressão é uma analogia com outra muito usada nas narrativas dos chamados progressistas. Trata-se do “déspota esclarecido”, definição usada para designar ditadores que eventualmente se alinham a posições simpáticas à esquerda.
Eis 11 senadores na mira do “fisiologismo esclarecido” em uso pelo PT, com a anuência de Dilma Rousseff: Benedito de Lira (PP-AL), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Edison Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB-AM), Hélio José (PMDB-DF), Fernando Collor (PTC-AL), João Alberto (PMDB-MA), Romário (PSB-RJ), Roberto Rocha (PSB-MA), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Wilder Morais (PP-GO).
No último dia 10 de agosto, quando foi aprovada a “pronúncia do processo”, todos os 11 senadores listados votaram a favor do afastamento definitivo da petista.
Para cassar Dilma Rousseff são necessário 2/3 dos 81 senadores. Ou seja, no mínimo 54 votos.
Se todos os 81 senadores estiverem no julgamento nesta semana e todos tomarem posição — ou seja, ninguém optar por se abster —, Dilma precisa de 28 votos para se salvar (assim sobrariam só 53 votos para os que são a favor do impeachment). No dia 12 de maio, na admissibilidade no Senado do processo de impeachment, a petista recebeu apenas 22 apoios.
Tanto entre governistas como entre os dilmistas são consideradas remotas as chances de sucesso para a presidente afastada. As tentativas de oferta de cargos são tratadas de maneira até jocosa.
Um senador abordado para receber ministério em troca de voto a favor de Dilma Rousseff brincou ao relatar o episódio. Disse ter perguntado: “Mas vou ficar no cargo só 60 dias?''. O dilmista portador da oferta quis saber a razão da dúvida. E o senador: “É que ela disse que vai renunciar para ter novas eleições. Então, para que vou aceitar ser ministro por tão pouco tempo?''.
Houve também uma contraofensiva do Palácio do Planalto. Há semanas Michel Temer vem monitorando os movimentos de Dilma para cooptar mais votos no Senado. O presidente interino apressou-se em receber pessoalmente vários dos possíveis alvos da petista. Ofereceu cargos e influência no caso de o impeachment ser aprovado.
Para que Dilma Rousseff tivesse sucesso seria necessário que fossem colocados todos os senadores cooptáveis em uma mesma sala e o acerto fosse feito ali, coletivamente, com cada 1 saindo com seu ministério garantido. Dessa forma todos estariam seguros de que seus votos pró-Dilma não seriam em vão.
Essa operação conjunta, em Brasília, é inexequível quando se trata de operar fisiologia tão abertamente.
Para complicar, é necessário levar em conta 4 pontos que impedem a petista de reverter com facilidade o atual cenário:
  • continua havendo uma incapacidade operacional política gigante no grupo que assessora Dilma no dia a dia;
  • a maioria do PT quer se livrar logo da presidente afastada;
  • os senadores agora cortejados estão quase todos bem acomodados nas sesmarias oferecidas por Michel Temer.
Tudo considerado, é mínima a chance de a petista ter sucesso nesse seu “sprint” fisiológico final — mesmo usando o adjetivo “esclarecido” para tentar edulcorar a estratégia.
Trata-se aqui de política. Não é prudente dizer de maneira peremptória que o destino de Dilma esteja selado e seja irreversível. O julgamento deve terminar daqui a 2 dias.




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