Procuradores Municipais se retiram de evento
em protesto contra presença de Sérgio Moro
em protesto contra presença de Sérgio Moro
O juiz federal Sérgio Moro na abertura do Congresso Nacional dos Procuradores Municipais |
Na quarta-feira, 22.nov.2017, quando o juiz federal Sérgio Moro deu
palestra na abertura do Congresso Nacional dos Procuradores Municipais,
um grupo de procuradores se retirou da plateia na Ópera de Arame, em
Curitiba, capital paranaense. Em maio, 72 procuradores municipais já
haviam assinado uma petição endereçada à direção da Associação Nacional
dos Procuradores Municipais (ANPM) contra a presença de Moro e
solicitando que fosse feito um convite ao ex-ministro Eugênio Aragão,
para que apresentasse sua tese contrária a práticas do juiz. O pedido
foi negado.
“A diretoria entendeu que uma palestra de abertura não tem que ter um
confronto de ideias, não é isso. A cerimônia de abertura é festiva, no
sentido de acolher os congressistas”, afirma Miguel Adolfo Kalabaide,
coordenador-geral do Congresso Nacional da ANPM.
Apesar disso, Kalabaide afirma que a escolha dos convidados foi
democrática. “Esse manifesto foi submetido à diretoria, e, por uma
decisão da diretoria, da maioria, se manteve a presença do juiz Sérgio
Moro porque, afinal, vivemos em um país democrático e as pessoas que
querem ouvir vão participar e as que não querem ouvir não participam”,
coloca.
O coordenador também minimizou a manifestação dos 72 procuradores que
pediram que Moro não participasse do evento. “Nós tínhamos mais de 800
espectadores e foram identificadas quatro pessoas que se manifestaram
contrariamente à presença do juiz. Muitos não estavam entre os
associados”, aponta.
Miguel Kalabaide disse que a ANPM entende que o convite a Moro foi
correto. Kalabaide lembrou que o juiz foi convidado a falar sobre o
combate preventivo à corrupção, que “é o papel da Procuradoria”. “Eles
quiseram partidarizar uma coisa que não tem como partidarizar”, disse.
“São pessoas conhecidas, militantes do PT, porque entendem que o juiz
persegue o PT. Pena que isso se transforme em notícia.”
Já na quarta-feira à tarde (22.nov.2017), o procurador federal Carlos
Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato no
MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná), saiu em defesa de Moro.
“Sergio Moro é um grande juiz. Ele engrandece a carreira do Judiciário”,
disse Lima no Facebook. “Diante dos inegáveis fatos criminosos
envolvendo a dilapidação do patrimônio público, fico preocupado com essa
manifestação de procuradores que têm por dever a defesa desse mesmo
patrimônio.”
No lugar do procurador da República Eugênio Aragão, recusado por ter
dito em entrevista que a “corrupção serve como uma graxa na engrenagem
da máquina”, foi convidado José Eduardo Cardozo para “representar o
contraponto”, segundo Kalabaide.
A direção da ANPM entendeu que a presença de Cardozo no encerramento do evento faria o papel de contraponto a Moro.
Cardozo afirma que tem críticas ao juiz, mas que não chega a ser
antagonista. “Não me considero um contraponto ao juiz Sergio Moro, me
considero apenas como alguém que tem algumas reflexões críticas
relativamente à necessidade da investigação da corrupção, que é
fundamental no país ser feita dentro dos marcos da legalidade e sem
abuso de poder. O lado positivo é a ênfase no combate à corrupção, que é
um mal que tem que ser combatido, extirpado do Brasil. (…) Mas
corrupção ou qualquer coisa se combate dentro da lei, dentro da
constitucionalidade. Algumas coisas na Lava Jato, na minha avaliação
jurídica, qualificam o extravasamento da legalidade”, pondera.
Procurado por meio da assessoria de imprensa da Justiça Federal do
Paraná, o juiz Sergio Moro não quis se manifestar sobre o protesto.
Na quarta-feira, 22.nov.2017, durante a abertura do evento em Curitiba,
Moro também afirmou que não comentaria o protesto de procuradores
municipais.
PALESTRA — Em sua palestra, ao relatar episódios descobertos na Lava
Jato, Sérgio Moro disse que a corrupção é um comportamento desviante,
que pode ocorrer em qualquer lugar. Moro citou o caso do Rio de Janeiro
como um exemplo.
“É possível cogitar a possibilidade, e isso é algo um tanto quanto
aterrador, de que esquemas criminosos semelhantes se reproduzam em
outras esferas — estadual, municipal, em vários países e vários locais
dessa nação. O exemplo mais visível atualmente talvez seja o estado do
Rio de Janeiro, onde, puxando o fio de uma investigação originada de
corrupção em contratos da Petrobras, se identificou um esquema criminoso
muito mais complexo a abrangente”.
O juiz também disse ser necessária vontade política para combater a
corrupção sistêmica, da mesma forma com que o Brasil conseguiu promover
outras mudanças estruturais nos últimos anos.
“É inegável que, nas últimas décadas, houve avanço significativo em
relação ao enfrentamento da desigualdade, pobreza no Brasil, com
programas relevantes de transferência de renda, programas de cotas nas
universidades públicas. Tudo isso revela que não existe problema
invencível desde que haja vontade política”, disse.
Além de Moro, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner apresentou palestra
na abertura do Congresso Nacional dos Procuradores Municipais. O evento
foi encerrado na sexta-feira (24.nov.2017), com as palestras do ministro
do Superior Tribunal de Justiça Joel Paciornik e do procurador do
município de São Paulo e ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo.
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