Movimento Fora Povo
Policial atira bomba de gás lacrimogênio contra manifestantes nas
imediações da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro durante votação sobre prisão de deputados |
Elaborada nas pegadas da queda da ditadura militar, a Constituição
de 1988 cercou os parlamentares de imunidades que protegiam o exercício
do mandato. Os autores do texto constitucional não poderiam supor que o
antídoto da imunidade viraria no futuro o veneno da impunidade. O
Supremo Tribunal Federal poderia colocar ordem na anarquia. Mas preferiu
omitir-se.
Estabeleceu-se a partir de Brasília uma atmosfera de vale-tudo que anula
o movimento benfazejo inaugurado pela Lava Jato. Tinha-se a impressão
de que o Brasil ingressara numa nova fase — uma etapa em que todos
estariam submetidos às leis. Devagarinho, o país foi retomando a rotina
de desfaçatez. Brasileiros com mandato continuam se comportando como se
não devessem nada a ninguém, muito menos explicações. Os políticos
brasileiros fundaram o Movimento Fora Povo.
A Lava Jato animava a plateia com a perspectiva de igualar todos os
transgressores perante a lei. De repente, o vendaval que ameaçava os
corruptos foi substituído pela mesma velha brisa de sempre — a brisa da
impunidade.
Insatisfeitos com o foro privilegiado, os políticos agora perseguem a
blindagem absoluta. O mais trágico é que eles fazem isso com a ajuda do
Supremo Tribunal Federal, que, sob a presidência da ministra Cármen
Lúcia, lavou as mãos no caso de Aécio Neves.
Ao permitir que Aécio recuperasse o mandato e se livrasse do
recolhimento domiciliar noturno não pelo peso dos seus argumentos mas
pela força do compadrio e do corporativismo, o Supremo acionou o gatilho
que fez aflorar o lado bandido das Assembleias Legislativas.
Ao preferir servir refresco a Aécio Neves o Supremo instalou um clima de
liberou-geral que resulta em absurdos. Os legislativos conspurcam a
democracia. Políticos desonestos livram-se de imputações criminais não
pelo peso dos seus argumentos, mas pela força do corporativismo.
Simultaneamente, a sociedade é condenada ao convívio perpétuo com a
desonestidade impune.
Enquanto Curitiba produz condenações em escala industrial, a Suprema Corte não sentenciou um mísero réu da Lava Jato.
A conversão de imunidade em impunidade já livrou a cara de deputados
estaduais em Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
Todas as pesquisas de opinião informam que a corrupção está na lista dos problemas que mais inquietam o brasileiro.
A melhor arma contra o Movimento Fora Povo é o voto. O instinto de
autoproteção dos corruptos transforma as urnas de 2018 numa espécie de
raticida.
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