Cardozo diz que “Sérgio Moro criou o clima para o impeachment” e que manifestação contra ele é legítima
José Eduardo Cardozo |
Advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro da Justiça José
Eduardo Cardozo disse, na sexta-feira (24.nov.2017), em Curitiba, que o
juiz federal Sérgio Moro foi um dos responsáveis por criar o clima
político que desencadeou processo de impeachment em 2015. Cardozo ainda
atua na ação que tenta anular a destituição da ex-presidente no Supremo
Tribunal Federal (STF).
Ex-advogado-geral da União, ele participou na sexta-feira (24.nov.2017),
em Curitiba, do encerramento do 14º Congresso Nacional de Procuradores
Municipais. O convite ao ex-ministro foi apresentado como um contraponto
à presença de Sérgio Moro na abertura do evento, que provocou protestos
de um pequeno grupo de procuradores na quarta-feira (22.nov.2017).
Para José Eduardo Cardozo, condutas do juiz que podem ser consideradas arbitrárias fazem de Moro alvo de manifestações.
“O exemplo mais candente [de arbítrio cometido por Moro], para que não
dê minha opinião isolada, foi no caso daquela divulgação dos áudios da
presidenta Dilma Rousseff e do presidente Lula. Áudios que se houvesse
indício de crimes deveriam ser enviados em sigilo ao Supremo Tribunal
Federal. Se não houvesse deveriam ser eliminados. O que não poderia ter
sido feito foi a divulgação daquela forma que foi recriminada pelo
Supremo Tribunal Federal publicamente à época pelo saudoso ministro
Teorí Zavascki que tomou a decisão. Eu era o advogado-geral da União que
entrou com a reclamação naquele momento e acho que ali não há dúvida.
Houve uma situação de arbítrio. E uma situação de arbítrio que criou o
clima político que desencadeou processo de impeachment”, disse.
MORO NÃO COMENTA — A assessoria da 13ª Vara Federal de Curitiba informou
que o juiz Sergio Moro não iria comentar o assunto. “O juiz federal
Sergio Fernando Moro não pretende responder aos comentários do
ex-ministro José Eduardo Cardozo”.
CONTRAPONTO — A Operação Lava Jato viveu o auge das investigações no
período em que Cardozo comandou o Ministério da Justiça, ao qual a
Polícia Federal é subordinada. Ele diz que o trabalho feito por agentes
federais, procuradores e pelo próprio juiz teve peso político nas ações
que culminaram no impeachment.
Cardozo quer reescrever o roteiro do impeachment. Na versão do PT, todos
os personagens da história dos 13 anos do poder petista são fictícios.
Qualquer semelhança com companheiros vivos — ou vivíssimos — é mera
coincidência. Mas José Eduardo Cardozo exagera no seu esforço para
reescrever a história do impeachment de Dilma Rousseff.
Advogado de Dilma, Cardozo disse que Sergio Moro “criou o clima político
que desencadeou o processo de impeachment”. Nessa versão, o que
entornou o melado foi o áudio de uma conversa entre Dilma e Lula, que
estava sob grampo autorizado por Moro. O Supremo reprovou a divulgação
do diálogo, recordou Cardozo.
No grampo, Dilma informava a Lula que mandaria o “Bessias” levar o ato
de nomeação do ex-presidente para o cargo de ministro-chefe da Casa
Civil. Receava-se na época que Moro mandasse prender Lula. Como
ministro, o ex-presidente Lula ganharia foro privilegiado e ficaria fora
do alcance do juiz de Curitiba. Como se sabe, não funcionou.
A divulgação do áudio provocou barulho, pois as vozes de Dilma e Lula
soavam na fita em timbre vadio. Cardozo tem razão quando diz que o então
ministro Teori Zavaschi, relator da Lava Jato no Supremo, ralhou com
Moro, desautorizando-o. Porém, nada disso elimina três fatos históricos:
O que produziu o ambiente pró-impeachment foi a roubalheira, que tem raízes no primeiro mandato de Lula. O que acomodou a corda no pescoço de Dilma foi a ruína econômica que a inépcia da ex-presidenta produziu. Quem “criou o clima” foi Eduardo Cunha. Quem apertou o nó foi Michel Temer. Quem colocou essa dupla no centro do poder foi o PT.
O resto é fábula petista.
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