Lula diz não ter os 24 milhões que a Justiça quer bloquear.
No entanto, Coaf mostra que empresa do ex-presidente chegou a investir R$ 35 milhões em fundos de investimento
No entanto, Coaf mostra que empresa do ex-presidente chegou a investir R$ 35 milhões em fundos de investimento
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu em conta de sua
empresa de palestras, a Lils Palestras, Eventos e Publicações, R$ 27
milhões em quatro anos. Multi-investigado pelas operações Lava Jato,
Zelotes e Janus, o petista afirmou no domingo, 19.nov.2017, não possuir
os R$ 24 milhões que a Procuradoria da República pretende bloquear. Em
pedido encaminhado à Justiça Federal os procuradores pediram para
confiscar R$ 21,4 milhões em bens do petista e mais R$ 2,5 milhões de
seu filho, Luiz Cláudio — no esquema de tráfico de influência na compra
de caças suecos e na compra de Medidas Provisórias no âmbito da Operação
Zelotes.
Lula e o filho foram denunciados pelo Ministério Público Federal em dezembro do ano passado. Os dois são acusado por ‘negociações irregulares que levaram à compra de 36 caças suecos do modelo Gripen pelo governo brasileiro e à prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida Provisória 627’.
A Procuradoria da República afirma, na acusação, que os crimes teriam sido praticados entre 2013 e 2015 quando Lula, já na condição de ex-presidente, ‘integrou um esquema que vendia a promessa de que ele poderia interferir junto ao governo para beneficiar as empresas MMC, grupo Caoa e SAAB, clientes da empresa Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia LTDA (M&M)’. Em troca, afirma a denúncia, os donos da M&M repassaram a Luis Cláudio pouco mais de R$ 2,5 milhões.
Segundo documento do Coaf, a empresa de palestras Lils aplicou entre 2011 e 2015 um total de R$ 35.177.093,99 em fundos de investimentos, via BB Gestão de Recursos — Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A.. Foram feitos ainda investimentos de R$ 5 milhões na Brasilprev. Em 2015, a Lils informou faturamento de R$ 2.923.993,50.
Dono de 98% do negócio — os 2% restantes são de Paulo Okamotto, seu
braço direito e presidente do Instituto Lula —, a Lils movimentou R$ 52
milhões entre 2011 e 2015.
Resultado das palestras dada pelo petista após deixar o Planalto — foram
72 ao custo de US$ 200 mil cada —, quase a totalidade dos valores que
entraram na conta da LILS do Banco do Brasil em São Paulo, entre abril
de 2011 e maio de 2015, saiu: exatos R$ 25.269.235,53.
A movimentação foi considerada suspeita pelo Conselho de Controle das
Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, que enquadrou o
caso em “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a
atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira
do cliente”. O documento integra o material dos autos da Zelotes e da
Lava Jato.
Os técnicos alertam sobre possível ocorrência de “operações cujos
valores se afiguram objetivamente incompatíveis com a ocupação
profissional, os rendimentos e/ou a situação patrimonial/financeira de
qualquer das partes envolvidas”.
Quando o documento do Coaf foi gerado, a informação era de que R$
17.926.078,39 era “o saldo atual distribuído em fundos de investimento e
previdência privada”.
O ex-presidente apresentou documentos para comprovar que realizou as
palestras para qual foi contratado. Segundo o Instituto Lula, que
registrou publicamente todos os serviços, foram 72.
Não há irregularidades em se dar palestras, registram os investigadores,
porém os pagamentos das empreiteiras do cartel chamam a atenção.
Em julho, o Banco Central bloqueou R$ 606 mil de contas de Lula por
ordem do juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato em Curitiba, decorrente
da condenação do petista a 9 anos e 3 meses de prisão no caso do tríplex
do Guarujá.
A Brasilprev também executou o bloqueio de R$ 9 milhões de duas
previdências, uma empresarial da Lils e outra pessoal de Lula, em julho.
Ataques — Em seu discurso, Lula voltou a desafiar os
procuradores e o juiz federal Sergio Moro “a provar um real de sua vida
que não seja legal”. Para Lula, os investigadores inventaram mentiras
sobre ele, e agora “não conseguem mais sair”. “Se tem político com rabo
preso por causa do que a (Operação) Lava Jato está fazendo, eu não tenho
rabo para prender. Não estou acima da lei, só quero respeito”, disse.
“Quando a polícia entra na casa de alguém, adora mostrar dinheiro, joia,
mas quando entra na minha e dos meus quatro filhos, revira tudo,
levanta colchão, e não encontra nada, esses sacanas deveriam ter coragem
de chamar a imprensa e dizer que na casa do Lula não tinha nada”,
afirmou.
“Às vezes fico chateado com todas essas bobagens que falam a meu
respeito, mas, como sou católico, acho que é uma provação. Já provei
minha inocência, quero agora que eles provem. O cidadão deveria ter a
decência de dizer onde tenho R$ 24 milhões“, reclamou durante o 14º
Congresso do PCdoB.
O ex-presidente esteve em Brasília para participar do 14º Congresso do
PCdoB, iniciado na última sexta-feira (17.nov.2017). Lula chegou por
volta das 11 horas em Brasília, em um avião privativo, e foi recebido
pela presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann.
Lula tem reiterado, por meio de sua defesa, que é vítima de ‘lawfare’.
“Todas as palestras do ex-presidente foram feitas e pagas com as devidas
emissões de notas e pagamento de impostos. Todas as informações sobre
elas encontram-se em relatório disponível na internet. Tudo da mesma
forma que outros ex-presidentes e dentro da lei, cobrando o mesmo valor e
condições de palestras para mais de 40 empresas e setores, incluindo,
por exemplo, Microsoft e InfoGlobo” — afirma a defesa de Lula.
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