Politicagem prejudica o socorro a venezuelanos
O flagelo dos refugiados venezuelanos, que parecia apenas dramático,
tornou-se trágico. Mesmo quem não entende nada de política é capaz de
enxergar a politicagem por trás do surto de violência que empurrou de
volta para a Venezuela cerca de 1.200 refugiados da ruína bolivariana de
Nicolás Maduro. Os governos federal e de Roraima meteram-se num jogo de
empurra que condiciona o socorro humanitário à superação da
mesquinharia política.
Premido pela má repercussão da explosão de irracionalidade que devastou o
que restava de solidariedade na cidade de Pacaraima (RR), Michel Temer
reuniu um grupo de ministros em pleno domingo (19.ago.2018). Ao final do
encontro, o Planalto divulgou uma nota para informar, essencialmente,
que o presidente e seus auxiliares avaliam que realizam um ótimo
trabalho no gerenciamento da crise dos refugiados.
O texto esclarece que Brasília “já tomou providências que somam mais de
R$ 200 milhões.” Anuncia novas medidas. Mais do mesmo: abrigos, reforço
policial, isso, mais aquilo e, sobretudo, a intensificação do processo
de “interiorização” dos refugiados, distribuindo-os por outros Estados.
A certa altura, a nota que Temer mandou divulgar insinua que o Planalto
só não ajuda mais porque o governo de Roraima, comandado pela
governadora Suely Campos (PP), não deixa.
“O governo continua em condições de empregar as Forças Armadas para a
Garantia da Lei e da Ordem em Roraima”, escreveu a assessoria de Temer
na nota. “Por força de lei, tal iniciativa depende da solicitação
expressa da senhora governadora do Estado.”
A senhora governadora subiu no caixote. Mandou dizer, por meio de um
assessor: “Essa nota é infeliz e eleitoral. Nós já pedimos inúmeras
vezes o envio das Forças Armadas, e fomos ignorados. Surpreende o
desconhecimento do governo federal do problema em Roraima.”
Candidata à reeleição, Suely Campos é adversária ferrenha de Romero Jucá
(MDB-RR), o líder do governo Temer no Senado. A portas fechadas, a
turma do Alvorada destilou a suspeita de que Suely e seus
correligionários estimulam reações xenófobas contra os venezuelanos. Em
Roraima, a governadora e seus auxiliares acusam a União de omissão.
Quem observa à distância o empurra-empurra, com seus reflexos sobre a
vida dos venezuelanos pobres que pedem socorro, fica sem saber para onde
caminha a humanidade. Mas observa com muita atenção, porque, quando
souber, correrá para o outro lado.
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